Xerostomia e Sono

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Ontem dei uma olhada no pubmed (www.pubmed.com) e vi que saiu um artigo recente na revista Clinical Oral Investigation.

Sempre colocamos a questão “você apresenta boca seca pela manhã?” no nosso questionário sobre bruxismo. E por que? Sabemos que o bruxismo pode estar associado a resistência a passagem do ar, hipopneia e apneia do sono, sendo neste caso um fator protetor. Há algum tempo escrevi sobre isso no blog (veja mais sobre isso aqui no link: https://julianadentista.com/2015/04/05/teorias-sobre-bruxismo-secundario-a-problemas-respiratorios/ e sobre crianças: https://julianadentista.com/2017/02/14/bruxismo-infantil-e-o-problema-respiratorio/). A sensação de boca seca seria relacionada a respiração oral realizada nestes casos.

Bem, o trabalho que encontrei ontem foi realizado em militares jovens da Grécia (não é bem uma ótima população para fazermos inferências mas vamos lá…). Nesta população os pesquisadores avaliaram uma serie de questionários sobre o sono como índice de qualidade do sono de Pittsburg, Escala de Sonolência de Epworth, Questionário de Berlim, Questionário para Bruxismo do Sono e o Inventário de Xerostomia. Ainda, avaliaram de forma objetiva a quantidade de saliva pela manhã.

Objetivamente, quem apresentou hiposalivação, apresentou pobre qualidade do sono. Mas para mim o dado interessante, que respalda a pergunta de nosso questionário, é a associação entre auto-relato de bruxismo do sono, alto risco para apneia obstrutiva do sono e sonolência excessiva diurna, o que mostra que estamos no caminho certo.

Claro, este foi um primeiro estudo, mas espero que inspirem pessoas a completarem esta pesquisa, inclusive mostrando o quanto de acurácia tem esta pergunta para nosso diagnóstico.

Fonte: Apessos et al. Investigation of the relationship between sleep disorders and xerostomia. Clin Oral Investig. 2019 Aug 2. doi: 10.1007/s00784-019-03029-1. link: https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs00784-019-03029-1

Falando nisso…

Já faz um tempo mas sempre bom recordar: há uma aula que montei sobre ardência bucal por xerostomia disponível no SlideShare e você pode ver clicando aqui.

Sono e Disfunção Temporomandibular

Ter uma boa noite de sono é reconhecidamente necessário para a manutenção da saúde e bem estar físicos e mentais. A Associação Brasileira do Sono, Associação de Medicina do Sono e Associação de Odontologia do Sono promovem a Semana do Sono entre os dias 13 e 19 de março.

Esta iniciativa tem o intuito de levar até a população conhecimento sobre o sono, as últimas novidades na pesquisa e informações importantes. É primordial dormir bem para o bem estar geral!

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Toda a programação do evento e informações estão no site: http://www.semanadosono2017.com.br

Em média, um adulto dorme de 6 a 9 horas por noite. Dormir menos de 5 horas pode ser considerado uma privação de sono, levando a alterações de humor e disfunção social. Se constante e prolongada, a privação do sono pode levar a complicações mentais, cardiovasculares e aumentar a frequência e intensidade da dor. Entre 50 a 90% dos pacientes com dor aguda, a ocorrência da dor geralmente precede as queixas de uma noite de sono ruim. Entretanto, estudos com pacientes com dor crônica indicam uma influência bidirecional: uma noite de sono ruim ser seguida pelo aumento da dor no dia seguinte e, um dia com alta intensidade de dor é seguido por uma noite ruim de sono.

Distúrbios do sono, sobretudo insônia, podem contribuir para desregulação do sistema de modulação de dor e ocasionar aumento na intensidade de dor. Já mostrei aqui no blog um trabalho de Smith e colaboradores que demonstraram que a presença de insônia contribui para redução no limiar de dor em pacientes com dor na musculatura mastigatória.

Então, aproveitando a Semana do Sono fui verificar o que há de novo na literatura e encontrei um estudo recente (Rener-Sitar et al., 2016) que comparou pacientes com DTM com voluntários saudáveis com relação a qualidade do sono. Achei interessante porque eles não trabalharam apenas com um diagnóstico e sim com os 8 que englobam a classificação do RDC/TMD, além de usarem os questionários de eixo II (verificaram sintomas de ansiedade, depressão, somatização e grau de disfunção). Incluiram inclusive exames de imagem para comprovar os diagnósticos articulares.

Para verificar a qualidade do sono utilizaram o questionário de Pittsburg.

Os resultados do estudo demonstraram que os diagnósticos que curam com dor, ou seja, DTMs dolorosas são aquelas em que a qualidade do sono está significativamente prejudicada, bem como em pacientes que apresentavam sofrimento psicossocial e incapacidade à dor, particularmente dor disfuncional. Este fato só corrobora com o que sempre verificamos entre dor e sono, que embora pareça lógico, poucos estudos abordaram ainda esta questão.

Interessante relatar também que os pacientes com DTM não dolorosa (exemplo, deslocamento do disco com redução) apresentaram índices de qualidade do sono similares aos voluntários saudáveis.

Avaliar a qualidade do sono nessa população pode ajudar a caracterizar melhor esses pacientes e, o mais importante, abordar a sua deficiência de sono pode oferecer uma outra abordagem terapêutica para reduzir o sofrimento relacionado com a dor (Rener-Sitar et al., 2016).

Aproveite este momento e clique aqui para ler um post de 2010 que escrevi  sobre avaliação do sono em pacientes com dor orofacial. Nela há o link para alguns métodos de avaliação. É essencial que o clínico avalie os hábitos ao dormir do paciente e determine se ele apresenta sinais e sintomas de distúrbios do sono como insônia, Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono, que muito mais do que o Bruxismo do Sono, parecem estar envolvidos na manutenção da dor do paciente com DTM!

É importante que o clínico esteja preparado não só para identificar problemas relacionados ao sono como também iniciar orientações ao paciente. O tratamento do sono pode incluir terapias comportamentais com ou sem uso de medicamentos que melhoram o sono.

Quando sinais e sintomas de um distúrbio do sono primário são encontrados, o cirurgião-dentista deve considerar encaminhar o paciente para o médico, especialmente os habilitados para a Medicina do Sono. Medidas de higiene do sono podem ser implementadas para melhorar a qualidade do sono do paciente.

Além de observar aspectos relacionados diretamente ao sono, é importante que o clínico identifique pensamentos catastróficos relacionados a dor e aprimore sua abordagem ao tentar reduzi-los. Isto pode levar a uma melhora no sono e consequentemente controle da dor do paciente.

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Dia Mundial do Sono

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Acho que estou um pouco atrasada, mas acho também que ainda está valendo!

O Dia Mundial do Sono foi comemorado em 18 de março e vi várias entidades e associações participando.

A Associação Brasileira do Sono promoveu por aqui a Semana do Sono com entrevistas e informações em seu site, redes sociais e mídia. Confira aqui.

Achei muito bacana todas as iniciativas que acompanhei. É fundamental para nós, clínicos que trabalhamos diretamente com dor e bruxismo, conhecer também todos os distúrbios do sono e orientar os pacientes da melhor maneira possível para que possam apresentar melhora na sua qualidade do sono.

Algumas ações foram realizadas mundialmente para  comemorar a data.

A revista CHEST, do Colégio Americano de Pneumologia, avisou por email sobre a disponibilidade de alguns artigos até junho! Há vários interessantes, como sobre fisiopatologia da insônia e efeitos dos exercícios orofaríngeos sobre o ronco. Segue a lista para vocês:

Contemporary Reviews in Sleep Medicine:

Intermittent Hypoxemia and OSA: Implications for Comorbidities

The Pathophysiology of Insomnia

Perioperative Assessment and Management for Sleep Apnea in the Ambulatory Surgical Patient

Relationship Between OSA and Hypertension

Original Research:

Is a Raised Bicarbonate, Without Hypercapnia, Part of the Physiologic Spectrum of Obesity-Related Hypoventilation?

Sitting and Television Viewing: Novel Risk Factors for Sleep Disturbance and Apnea Risk? Results from the 2013 National Sleep Foundation Sleep in America Poll

Exercise End-Tidal CO2 Predicts Central Sleep Apnea in Patients With Heart Failure

Effects of Oropharyngeal Exercises on Snoring: A Randomized Trial

Prognosis for Spontaneous Resolution of OSA in Children

A Randomized Controlled Study to Examine the Effect of a Lifestyle Modification Program in OSA

Exercise End-Tidal CO2 Predicts Central Sleep Apnea in Patients With Heart Failure

The Effect of OSA on Work Disability and Work-Related Injuries

Misclassification of OSA Severity With Automated Scoring of Home Sleep Recordings

Longitudinal Effect of Continuous Positive Airway Pressure on Blood Pressure in Resistant and Non-Resistant Hypertension in a Large Clinic-Based Cohort

 

Também vi no site do Dia Mundial do Sono uma rádio da Nova Zelândia, Sleep Radio, que transmite via internet sua programação ao vivo. As playlists são compostas por música suave instrumental para ajudar pessoas que tem insônia a dormirem!

A estação tem um aplicativo para smartphones que vem com alarme! Vou testar! 🙂

Website: www.sleepradio.co.nz

 

No site oficial do Dia Mundial do Sono (http://worldsleepday.org) você pode encontrar todas as atividades realizadas por todo o mundo.

Foi neste site que encontrei o vídeo abaixo sobre apneia do sono!

 

Falando nisso….

Eu sei que você já sabe mas não custa lembrar: as próximas datas do Dia do Bruxismo!

Saiba como se inscrever em www.diadobruxismo.com

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Pacientes refratários

Há uma semana estive na Semana Acadêmica Odontológica (SAOJEM) da UFPR em Curitiba falando sobre Bruxismo (obrigada pelo convite pessoal, foi ótimo!) pela manhã e à tarde conversei com os alunos do curso de Especialização em DTM e Dor Orofacial da UFPR (coordenado pelos professores Paulo Cunali e Daniel Bonotto – também foi ótimo pessoal!). O tema desta conversa foi: pacientes refratários.

E preparando o material para levar a Curitiba, eu me lembrei que sempre quis escrever aqui sobre isso. Ainda mais porque um tipo de frase me incomoda muito:

“fulano disse que fez este tratamento porque era a última esperança para sicrana já que ela não responde a nada”

Mas vamos raciocinar, antes de escolher uma técnica alternativa a este paciente, vamos entender: quem é o paciente refratário ao tratamento antes proposto?

Refletindo sobre este assunto, eu me lembrei que há muito tempo havia lido um artigo publicado em 2003 na Neurology com o título: “Why headache treatment fails”. O artigo foi escrito por pesquisadores conhecidos na área da cefaliatria: Lipton, Silberstein, Bigal, Saper, Goadsby.

Reli o artigo e adaptei os 5 quesitos citados por eles à dor orofacial e é sobre os itens deste artigo que escreverei hoje!

 1. O diagnóstico está incompleto ou equivocado

Este é o primeiro e fundamental passo a ser revisto e talvez o que mais acontece. Se o paciente não responde de maneira típica (claro que uns demoram mais do que outros a responderem ao tratamento), reveja seu diagnóstico.

Os autores no texto ressaltam que uma condição pode não ter sido diagnosticada ou ainda confundida com outra com manifestação semelhante. Por exemplo, no caso de Disfunção Temporomandibular (DTM) como os sintomas são muitas vezes flutuantes e são vários tipos de DTM, um tipo pode ficar sem diagnóstico em um primeiro momento.

Também pode acontecer do paciente apresentar outras condições como a neuralgia do auriculotemporal, que pela proximidade anatômica pode ser confundida. Já atendi pacientes que previamente receberam diagnóstico de DTM, foram submetidos a terapias sem respostas, quando na verdade apresentavam, por exemplo, cisto retrofaríngeo, carcinoma espinocelular, hemicrania paroxística, etc. Até necrose pulpar! 

Então, antes de propor qualquer terapia, pare, respire e revise. Repita toda anamnese, o exame físico e solicite exames complementares que achar adequado.

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2. Fatores contribuintes podem não ter recebido atenção

Conduzir uma boa anamnese, com destaque a pontos chave de sua investigação é essencial para identificar fatores que podem perpetuar ou exacerbar crises de dor. Mas muitas vezes ou, por uma falha na ficha clínica, não se pergunta ou o paciente não relata espontaneamente estes fatores.

Os autores no texto destacaram que o uso excessivo de medicação analgésica é um dos vilões para a cronificação da cefaleia. Ainda não há estudos indicando, mas percebe-se que provavelmente o mesmo aconteça com as dores musculoesqueléticas. Pergunte não só quais medicamentos seu paciente faz uso mas também quantos o faz por mês. Não é incomum na clínica de dor orofacial o paciente relatar que faz uso destes medicamentos pelo menos uma vez por dia, totalizando um mínimo de 30 comprimidos/mês, bem a mais do que é aceito pela Classificação Internacional das Cefaleias. Neste mesmo pensamento, o uso abusivo de cafeína também se destaca com relação à cefaleia.

Leve em consideração também o estilo de vida do paciente. Recentemente uma pesquisa realizada pela Paula Jordani e equipe da Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP mostrou que obesidade está associada a presença de DTM dolorosa. A obesidade é uma doença crônica e extremamente prevalente. Não hesite em encaminhar seu paciente para acompanhamento nutricional.

Fatores emocionais e sociais influenciam também no prognóstico do tratamento. Como é a vida familiar e social do seu paciente? Ele está passando por momentos de estresse?

Considere encaminhar para avaliação com profissional habilitado.

Ele recebeu alguma informação equivocada? Sim, cuidado com a forma com que você explica a situação ao paciente. NUNCA diga que ele vai ficar sem abrir a boca ou que seu queixo vai cair. O paciente acredita em você, não se esqueça.  Coleciono histórias de pacientes que receberam esta informação e chegaram até mim passando por situações como ficar 6 meses sem abrir direito a boca ou até passando dias sem falar para que “seu queixo não caisse”. E pasmem, óbvio que não apresentavam quadro compatível com luxação. Apenas receberam esta informação e não seguiram corretamente as instruções do tratamento anterior por medo. O tal nocebo…

Outros fatores que não podemos esquecer são os relacionados ao sono! O estudo OPPERA mostrou que a presença de Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) está relacionada a ocorrência de DTM. Insônia é uma das condições que mais prejudicam a modulação de dor, o que pode fazer com que os pacientes com DTM, por exemplo, apresentem baixo limiar de dor até mesmo em regiões distantes da face. Não deixe de avaliar a qualidade do sono de seu paciente.

3. Farmacoterapia não adequada

Os autores pontuam que farmacoterapia não adequada pode acontecer se tratamentos inapropriados são selecionados, se uma dose inicial excessiva é utilizada (atenção aos efeitos colaterais), se a dose de tratamento é inadequada, se a duração do tratamento é muito curta, se politerapia é preciso e não foi observado, se o paciente não absorve a medicação e ainda, se o paciente não é colaborador.

Revise as medicações utilizadas (vale lembrar, veja se o seu paciente não faz uso de alguma medicação que não relatou ou mesmo se não abusa de analgésicos). Baseado não em protocolos mas na neurofisiologia da dor crônica, determine a dose e duração do tratamento medicamentoso que será adotado. Apesar da monoterapia ser recomendável, politerapia pode ser necessária. Assim, não se esqueça de revisar as interações medicamentosas, presença condições comórbidas e efeitos colaterais possíveis.

E muito importante: explique direitinho ao seu paciente como o medicamento irá ajudá-lo, quais possíveis efeitos colaterais (destacando que nem todos os pacientes apresentam efeitos colaterais), a segurança do uso do medicamento, que não é para sempre (diga o período previsto) e especialmente: que não existe medicamento forte, e sim medicamento adequado. Não sei se sou só eu mas acho incrível o preconceito que muitos, inclusive profissionais da saúde, tem com fármacos, o que faz o paciente muitas vezes não colaborar com o tratamento. Em algumas condições de dor orofacial, especialmente nas dores neuropáticas, o tratamento farmacológico é o apropriado.

4. Tratamento não farmacológico adequado

Pacientes podem precisar de fisioterapia e também mudar seus comportamentos muitas vezes.

No consultório odontológico orientamos muitas vezes a respeito de exercícios mandibulares, por exemplo. É comum a entrega de uma folha de papel com todos escritos. Mas destaco: faça o exercício junto ao seu paciente, verifique se ele entendeu as orientações e, super importante, nas consultas de retorno cheque tudo novamente. O seu paciente pode ter feito algo errado. Seja na instrução da termoterapia, seja na massagem, seja nos exercícios prescritos, etc.

Também, como colocarei abaixo, outras comorbidades musculoesqueléticas, como cervicalgias, podem contribuir para a refratariedade do paciente. Encaminhe sempre que necessário ao médico e fisioterapeuta para que medidas e orientações adequadas sejam conduzidas. O paciente pode perceber dor na face, mas a origem da dor pode ser no esternocleidomastoideo ou no trapézio (dor miofascial).

5. Outros fatores

É fundamental conhecer outros fatores que possam influenciar na percepção de dor do paciente. Já citei algumas no item 2.

É preciso conhecer as expectativas de seu paciente, se ele está ou não catastrófico ou hipervigilante (existem questionários para isso!).

Catastrofização é um dos fatores mais estudados hoje para se compreender a dor crônica e o que leva a sua perpetuação e, muito importante, qual o prognóstico da terapia adotada. Sugiro que estudem bastante estes fatores.

Além disso, as condições que podem ser comórbidas às condições de dores orofaciais também influenciam no resultado da terapia adotada, muito por compartilharem de passos neurofisiológicos e/ou serem afetadas pelo déficit de modulação de dor.

A presença de depressão e/ou transtornos relacionados a ansiedade sem tratamento adequado é um destes fatores.

Especialmente a DTM muscular pode coexistir em um mesmo paciente com outra condição do grupo das Síndromes Somáticas Funcionais. É importante conhecer quais as condições que participam deste grupo e que podem influenciar seu paciente. Fibromialgia, migrânea, cefaleia tipo tensional, dor lombar crônica, vulvodínia, síndrome da fadiga crônica e síndrome do intestino irritável são algumas destas condições. Nem sempre o paciente já comparece com o diagnóstico prévio destas condições, então cabe ao profissional conhecer os sinais e sintomas das mesmas e encaminhar para avaliação e terapia apropriada.

Lembre-se que DOR + DOR é = a muito mais DOR.

Para quem ficou curioso sobre o artigo, eu não consegui o PDF do mesmo, ele é um pouco antigo (2003 já é antigo, meu Deus!) mas está disponível clicando aqui.

(Queria escrever tantas outras coisas, mas acho que daria um livro! Tá aí um tema para livro não?)

Abraços a todos!!

Ah! Não deixem de me seguir no Periscope! Falei tudo isso e muito mais por lá semana passada! @dororofacial

Relação entre Apneia do Sono e DTM

Eu sempre termino a minha aula de sono e sua relação com DTM com um slide do professor Peter Svensson que chama a atenção para que a análise dos distúrbios do sono seja mais ampla em pacientes com DTM, e não só condicionada a bruxismo do sono como tradicionalmente é realizada por aí.

Aliás, acho que hoje a Odontologia acordou para a existência de outros distúrbios do sono, em especial, da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono  (SAOS) que traz prejuízos consideráveis  a qualidade de vida e também às estruturas dentárias do paciente. SAOS é um problema grave!

Mas voltando ao tema principal da postagem, com relação à DTM, já  falei sobre o estudo do Prof. Smith que relatou em um grupo de pacientes com dor miofascial mastigatória a presença de insônia e SAOS em maior porcentagem do que bruxismo do sono, após exame com polissonografia.

Mas este era um estudo observacional, num grupo pequeno de pacientes com dor miofascial segundo o RDC.

Pois bem, este mês saiu mais um estudo da pesquisa OPPERA.

(o estudo OPPERA é financiado pelo National Institute of Health (NIH) – o ministério da saúde dos EUA. É um estudo prospectivo do tipo coorte, para investigar fatores etiológicos ligados a incidência de DTM. Também tem um braço inicial, transversal, observacional, caso controle que compara pacientes com DTM crônica a indivíduos saudáveis. Foi realizado em 4 centros americanos: Baltimore, Maryland; Buffalo, New York; Chapel Hill, North Carolina e Gainesville, Florida. Mais sobre ele aqui).

Neste estudo os pesquisadores procuraram estimar a relação entre sinais e sintomas de SAOS e DTM crônica (caso-controle) e também quando os sintomas de SAOS precedem o aparecimento de DTM (coorte).

Para o estudo coorte (após exclusões) foram avaliados 2604 pessoas assintomáticas para DTM, com idade entre 18 e 44 anos. Foram acompanhadas a cada 3 meses (número 1 na figura). Destas 248 pessoas desenvolveram DTM, uma incidência de 3.5% ao ano.

O braço caso-controle avaliou no início da pesquisa 182 pessoas com DTM sintomática a pelo menos 6 meses e comparou com 1534 indivíduos assintomáticos (número 2 na fugura).

O que foi considerado DTM sintomática em ambos braços: RDC/TMD adaptado. Dois critérios necessários: (1) mais de 5 dias/mês de dor em estruturas mastigatórias (2) presença artralgia ou mialgia confirmadas. Aqui a minha crítica ao estudo: os resultados falam em DTM sintomática mas não podemos falar em articular ou muscular. Quem sabe os próximos estudos não mostrem algo.

E o que foi considerado sinal ou sintoma de SAOS. Enfim, infelizmente por mais dinheiro que se tenha em uma pesquisa (lembrando que nos EUA eles pagam voluntários), foi inviável realizar polissonografia em todos os participantes envolvidos (façam as contas). Então, os pesquisadores utilizaram o questionário de avaliação da qualidade de sono de Pittsburg – link aqui – e extraíram de lá 3 perguntas sobre ronco audível, sonolência diurna e apnéia assistida. Além disso procuraram histórico médico de hipertensão. Juntos estes itens formam um questionário de triagem para SAOS, o STOP, que foi validado contra a polissonografia e apresenta sensibilidade e especificidade de aproximadamente 0.60. Isso pode ter gerado falso positivos, mas tanto os casos como os controles estavam sujeitos a isso.

Continuando, vamos ao que interessa, o que eles encontraram:

1. Sinais e sintomas de SAOS foram associados com um aumento na incidência de DTM pela primeira vez

2. Pessoas com 2 ou mais sinais e sintomas de SAOS apresentaram 73% mais casos de DTM, em comparação àqueles com poucos sinais e sintomas. E isso independente de idade, gênero, raça, obesidade, ser ou não fumante e parâmetros autonômicos.

3. DTM crônica foi 3 vezes mais frequente entre adultos com probabilidade de apresentar SAOS.

Os autores relataram três mecanismos pelo qual a SAOS estava linkada a DTM: (1) sensibilização central e amplificação da dor; (2) estimulação do sistema autonômico; (3) relação, embora controversa, com bruxismo do sono secundário a presença de SAOS.

O que este estudo mostra é algo que já estamos verificando na clínica: pacientes com SAOS apresentam graves consequências, entre elas sonolência diurna, sono não reparador. Lembre-se que uma boa noite de sono é essencial para liberação de neurotransmissores que irão participar da modulação da dor, além do restabelecimento das estruturas.

Enfim, espero que esta postagem sirva de alerta aos que avaliam os pacientes com dor orofacial. Verifiquem a presença  de sinais e sintomas de distúrbios do sono além de verificarem bruxismo. Quando necessário encaminhem seus pacientes para avaliação com um profissional habilitado em Medicina do Sono. A Associação Brasileira de Sono em seu site apresenta uma lista de médicos e cirurgiões dentistas certificados. Consulte aqui.

Por hoje é só. Se deixar escrevo um livro sobre isso! 🙂

Agora eu queria ver este estudo verificando relação de DTM com outros distúrbios do sono! A gente sempre quer mais. Mais sobre estudos OPPERA  aqui

 

Sorteio imperdível!

No final do mês de junho tive a felicidade de participar como palestrante em um curso sobre odontologia e sono (obrigada Marcelo Quintela e Cinthia pela recepção) e lá encontrei a querida professora e amiga Cibele Dal Fabbro que me contou que o livro A Odontologia na Medicina do Sono, citado por diversas vezes por mim aqui no blog e também em palestras, que estava esgotado foi reimpresso pela editora Dental Press.

Este livro vem ao encontro de uma fase importantíssima da medicina odontológica do sono, na qual inúmeros profissionais se juntaram para estudar o tratamento de pacientes portadores de um distúrbio tão debilitante como a SAOS. • Cabe salientar que, com o aumento de publicações sobre esse assunto, médicos esperam que cirurgiões-dentistas tenham um conhecimento aprofundado em várias áreas da medicina do sono. • O objetivo deste livro é apresentar, de forma sucinta e prática, o conhecimento necessário para cirurgiões-dentistas que irão reconhecer s intomas de apneia em seus pacientes, podendo indicar o diagnóstico correto e acompanhar o tratamento, seja por CPAP, cirurgia ou aparelhos intra-orais.

• Histórico da Medicina do Sono no mundo• Bases neurais e fisiologia do sono• Classificação dos distúrbios do sono• Polissonografia• Fisiopatologia dos distúrbios respiratórios do sono• Diagnóstico e abordagem clínica do paciente com distúrbios respiratórios do sono

• Consequencias clínicas e morbidades associadas

• Tratamento clínico e CPAP

• Tratamento Cirúrgico

• Tratamento com aparelhos intra-orais (AIO)

• Adesão, preditores de sucesso e efeitos colaterais do tratamento com AIO

• Protocolo clínico, médico e odontológico

• Padrão de crescimento e distúrbios respiratórios do sono

• Abordagem precoce dos distúrbios respiratórios do sono

• Morfologia craniofacial nos distúrbios respiratórios do sono

• Bruxismo no sono

E olhem a surpresa, a professora Cibele gentilmente cedeu um exemplar para ser sorteado aqui no blog! Notícia mais do que boa não? Acho que todos deveriam ter um deste. Se você não quer esperar o resultado do sorteio e já quiser adquirir seu exemplar, clique aqui.

E como faz para participar????

As regras são simples! Basta deixar preencher com nome, email e endereço completo o formulário ao final desta postagem.

Cada comentário recebe um número e é através deste número que você irá concorrer.

Não se preocupe, o endereço de email aparece apenas para mim e é através dele que entrarei em contato com o sorteado e enviarei o livro pelos correios.

Cada pessoa pode participar apenas uma vez.

Mas ATENÇÃO, desta vez o prazo é curto e o sorteios erá realizado no dia 15 de julho!

Boa sorte!!!!!

Imersão em Odontologia do Sono

Mais uma oportunidade para nos atualizarmos! 3 dias sobre conceitos básicos dos Distúrbios do Sono com o objetivo de atualizar e aperfeiçoar a prática clínica.

A IMERSÃO EM ODONTOLOGIA DO SONO (www.capacitacaosono.com) será realizada nos dias 28, 29 e 30 de Junho próximonum hotel no bairro de Higienópolis em São Paulo.

PRELETORES JÁ CONFIRMADOS:
Alexandre Benetton (Cirurgião Buco-Maxilofacial UNIMES),
Alexandre Nakasato, otorrino (Depto de Ronco e Apneia do Sono do HC – USP),
Cibele Dal Fabbro (UNIFESP),
Faustino Pacheco Filho (neurologista-chefe do Instituto do Sono de Santos),
Jorge Caram – (Ex-aluno e membro do GEOS),
Marcelo de Melo Quintela – (UNIMES – SÃO LEOPOLDO MANDIC – UNIFESP),
Marco Antonio Machado (presidente da ABS, depto Neuro-Sono UNIFESP),
Otávio Luiz Ferraz (Cirurgião Buco-Maxilo UNIFESP),
Silvério Garbuio (Biomédico – INSTITUTO DO SONO DE SÃO PAULO)
Rowdley Rossi (UNIFESP e UFES)
Juliana Stuginski Barbosa (FOB-USP)

Estarei por lá para falar sobre as últimas descobertas sobre Bruxismo do Sono, no diagnóstico e tratamento.

Sendo assim, até o curso, vou me segurar e não vou postar nada sobre o tema!! rs…

Boa semana a todos!

Falando nisso…. 

ATENÇÃO PESSOAL DE CUIABÁ:

Sexta-feira, dia 11 de maio, às 19 horas farei uma palestra no Instituto de Pesquisa e Ensino – IPE de Cuiabá. O tema: contexto atual da Disfunção Temporomandibular. Mais informações aqui: http://www.ipeodonto.com.br/ipeodonto2010/conteudo/esquenta/id-350/cronograma_do_ciclo_de_palestra_de_2012

Sono e fibromialgia

Navegando no site da Associação Nacional de Fibromialgia e Dor Crônica dos Estados Unidos encontrei alguns vídeos da aula sobre Sono e Fibromialgia ministrada pelo Prof. Rosenfeld, especialista em sono. Esta aula fez parte de um curso que foi transmitido pela internet no dia 28 de junho de 2011.

Para quem se interessa pelo tema dor crônica e sono, é, como dizem, um prato cheio! Eu acho importante estudar esta relação, sobretudo para entender os pacientes com dor muscular crônica, inclusive DTM, especialmente os refratários ao tratamento. Sobre a importância da avaliação do sono, nós já falamos sobre isso aqui.

Dicas para dormir melhor – vídeos para pacientes

Já citei aqui outro dia o quanto gosto de procurar coisas interessantes no You Tube para ilustrar minhas aulas. Como estou me preparando para ir a Brasília novamente no curso de atualização em DTM e Dor Orofacial da ABCD, coordenado pelos amigos João Henrique Padula e Rodrigo Wendel, acessei o site atrás de novos vídeos sobre bruxismo e sono.

Eu já conhecia os vídeos do Canal Você, até postei um na página Aos Pacientes, mas só hoje assisti a todos e gostei muito. Acho que são bem explicativos, fáceis de fazer e é uma ideia para utilização na clínica, seja na recepção, seja no próprio atendimento, ou até mesmo enviado via email ao paciente.

Abaixo alguns deles!

 

 

 

Como os alemães tratam o bruxismo

Ok, você leu o título da postagem e já pensou que eles tratam o bruxismo com cerveja, pode assumir!

Mas a postagem de hoje é sobre um artigo que li ontem.

Uma pesquisa recente publicada no Journal of Prosthetic Dentistry teve como objetivo verificar a conduta de dentistas especialistas ou não com relação ao tratamento de bruxismo.

Para tanto os autores enviaram um questionário que englobava vários aspectos como número de pacientes atendidos, se os dentistas encaminhavam ou não os casos, se tratavam e se o fizessem como era este tratamento. Infelizmente o índice de resposta deste tipo de pesquisa se mostra baixo. Cerca de 10% dos dentistas que receberam o questionário responderam a pesquisa.

A motivação para esta pesquisa partiu, claro, da originalidade do tema, mas também pelo desenvolvimento dos estudos com relação ao bruxismo, o que, ao longo dos últimos anos, acrescentaram conhecimento com relação a uma patofisiologia mais central do que periférica (e isso já falei aqui no blog). E será que isso transformou a prática de alguma forma? E será que há diferença entre dentistas especialistas ou não?

Os resultados mostraram que (números aproximados) cerca de 15% dos pacientes que procuram tratamento recebem diagnóstico de bruxismo. Talvez pelo viés da formação os especialistas, na sua maioria ortodontistas, tenham citado a terapia ortodôntica como forma de tratamento mais frequentemente do que os generalistas (7,28% vs 0,65%). Mas em ambos os grupos a placa de mordida reinou como a terapia mais comumente aplicada a estes pacientes, seguida de técnicas de relaxamento, equilíbrio oclusal, fisioterapia e reconstrução oclusal. Em um ano os dentistas generalistas confeccionaram uma média de 27.5 placas enquanto os especialistas, 19.8 com a recomendação de uso noturno realizada pelos dois grupos.

Mas o que chamou minha atenção neste trabalho foi sobre a relação oclusão e bruxismo, que escrevi outro dia aqui. A seguinte afirmação foi colocada: “Interferências oclusais causam bruxismo”. Os dentistas deveriam concordar ou não com a frase.

Dos especialistas 85% não concordaram com a frase. Dos generalistas, 47,7%. Ainda, com incerteza, 28,6% dos generalistas adotaram uma postura neutra em relação à frase.

Os autores então compararam com estudos realizados há 20 anos nos EUA e verificaram que a rejeita à frase pelos dentistas generalistas cresceu 15%.

É, parece que algo está mudando...

Bem, então, inspirada pelo artigo, resolvi colocar aqui um questionário! Aproveite e deixe aqui sua opinião!!!