Foi este o título da minha primeira palestra durante o V Congresso do Comitê de Dor Orofacial da Sociedade Brasileira de Cefaleia.
Foi engraçada a escolha deste tema. Baseou-se muito mais na minha vivência clínica do que nos achados da literatura. Tudo começou ano passado quando falei sobre os Distúrbios do Sono X Dor Orofacial. Como já citei aqui, o artigo produzido pela equipe do Prof. Smith chamou minha atenção pelo fato do bruxismo do sono ser o terceiro distúrbio do sono mais frequente em pacientes com DTM.
Não vou disponibilizar a palestra no blog pois há uma empresa que está disponibilizando os DVDs das apresentações.
Mas irei expor minhas ideias para a concepção desta palestra (sofro com a falta de inspiração às vezes e a montagem de algumas palestras parece parto!).
A primeira reflexão, como já descrevi, veio do artigo produzido por Smith e colaboradores (baixe o artigo na íntegra aqui). Achei interessante que entre pacientes com DTM muscular, a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) ser o segundo distúrbio do sono mais frequente, perdendo apenas para a insônia. Sabe-se que cefaleia matinal e sono não reparador são queixas comuns em pacientes com SAOS, e também em pacientes com DTM muscular. Há um link aí, com certeza, mas precisa-se ainda ser comprovado. Corri para o Pubmed mas infelizmente ainda não há outros artigos com achados similiares a este…
Pensando nisso então, comecei a palestra falando sobre a relação sono X dor orofacial.
Infelizmente, das condições clínicas que apresentam dor orofacial, poucas são as que foram abordadas em estudos sobre sono, então, a palestra caminhou para discutir Sono X DTM, e quando se pensa nisso, logo se pensa na relação Bruxismo X Dor Orofacial, tema que foi abordado em seguida por outro palestrante.
Assim, voltei à SAOS, ou melhor, a associação entre DTM e SAOS. E pensando em como apresentá-la, resolvi dividir em dois tópicos: DTM em pacientes que são encaminhados ou fazem uso de dispositivos interoclusais de avanço mandibular para tratamento da SAOS e associação entre as duas condições clínicas!
Com relação ao primeiro tópico, existem vários artigos relatando que sintomas de DTM são frequentes em pacientes que utilizam este dispositivo, mas estes são de curta duração e podem ser controlados. Aqui coube uma observação que a Profa. Ana Cristina Lotaif sempre me faz: pela Academia Americana de Dor Orofacial, é o dentista habilitado em DTM e Dor Orofacial o responsável pelo tratamento destes pacientes e seriam os mais indicados para efetivarem o tratamento do controle da SAOS com estes dispositivos, uma vez que conseguem identificar e tratar os sintomas de DTM que podem ser colaterais ao tratamento.
Apesar de tão citado (sintomas de DTM e blá blá blá), encontrei na literatura apenas dois trabalhos que se propuseram a diagnosticar e verificar a presença de DTM em pacientes com SAOS encaminhados para tratamento com dispositivo. Um dos estudos foi realizado pela equipe do Instituto do Sono (Cunalli et al., 2009) e o outro por uma equipe de Barcelona (Martinez-Gomis et al., 2010). Infelizmente as amostras de pacientes eram diferentes, assim como os diagnósticos de predomínio, o que não permitiu ainda uma comparação ou uma conclusão sobre o assunto. Por exemplo, observou-se que o dispositivo a longo prazo não aumentou o número de diagnósticos (Martinez-Gomis et al., 2010).
Encerrei a aula com o artigo em que comecei este post, na tentativa de associar as duas condições clínicas. Devemos observar que o link entre as duas é exatamente a pobre qualidade do sono….
Como já escrevi aqui, eu acho que a busca de sintomas de distúrbios do sono em pacientes com DTM pode permitir o diagnóstico precoce, evitar refratariedade no tratamento e melhorar a qualidade de vida de seus pacientes, que afinal de contas é o nosso objetivo final.
O estudo desta associação é uma avenida (linha é muito pequena para mim) de pesquisa!
Ficou confuso este post? Eu sempre posto sem ler (assim como falo sem pensar, rs…). 🙂
Encerrei com uma frase do Prof. Svensson!
Bom final de semana a todos!
Ju, ainda ontem atendi uma paciente que preenchia o RDC para DTM muscular, massss…com características de sensibilização central (muita dor referida, dor que espalhava por toda a face, crânio e região cervical. Apesar de preencher os requisitos para DTM, considerei mais provável a possibilidade de Cefaléia do Tipo Tensional freqüente associada a hiperalgesia pericraniana (com comordidade com DTM muscular…ooou…uma é a outra?…dá pano para manga a discussão). Bem, apliquei a escala de Epworth, deu valor 14. Na minha opinião, o típico caso que merece investigação polissonográfica.
Abç
Reynaldo, acho que o estudo dos distúrbios do sono irá clarear muitos dos casos que antes chamavámos de refratários.
Veja bem, uma cefaleia em forma de pressão, peso na região temporal pela manhã em pacientes com DTM associado a desgaste dental por si só era um indicativo forte para os dentistas afirmarem aos seus pacientes de que eles apresentavam bruxismo do sono. Ok, muitos apresentam mas sabemos que o desgaste dental é uma cicatriz (sabe-se lá quando aconteceu) e cefaleia matinal do tipo pressão pode ter outra origem… Quando começa-se a investigar o sono percebe-se que muitos pacientes apresentam SAOS, confirmados depois pela polissonografia e o bruxismo pode ser secundário a esta condição.
Esta semana foram duas as pacientes em que este diagnóstico foi confirmado.
Agora é esperar o que a literatura irá nos fornecer de respaldo!
Assim que receber a poli da paciente eu coloco o resultado aqui…abç
Juliana, tanto o post quanto a sua palestra no congresso foram muito esclarecedores. Como você sabe eu também sou entusiasta do estudo do sono e da sua relação com a odontologia. Um estudo de Rains (2010) salienta o benefício para o paciente com cefaléia quando é encaminhado para avaliação do sono. Acredito que este benefício também se estenda a nossos pacientes de DTM e DOF. E quanto a esperar a literatura… ‘bora fazer a literatura, guria! 🙂 Abraço
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