Odontologia “metafísica”

Hoje no blog o texto não é meu! Pedi ao meu querido amigo Yuri Martins Costa para que escrevesse um pouquinho sobre um dos artigos gerados de sua pesquisa de mestrado, que tem como co-autores André Porporatti, eu, Prof. Leonardo Bonjardim e Prof. Paulo Conti.

O Yuri, para quem ainda não conhece, é meu colega no doutorado em Ciências Odontológicas da Faculdade de Odontologia de Bauru – USP, orientado também pelo Prof. Paulo Conti. Fazemos parte do Bauru Orofacial Pain Group!

Atualmente o Yuri está passando uma temporada na Dinamarca , na Universidade de Aarhus,  em um dos maiores laboratórios de Dor Orofacial e Função Mastigatória, coordenado pelo Prof. Peter Svensson e com participação da professora Lene Baad-Hansen.

Yuri, muito obrigada pelo texto, ensinamentos e  parceria de sempre! 🙂

Segue o texto! Boa leitura!

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Prof. Yuri Martins Costa

Uma das principais razões do meu entusiasmo pela área da Dor Orofacial é que a conduta clínica nessa especialidade se difere substancialmente das áreas mais tradicionais da Odontologia. E uma das diferenças que me chama bastante atenção é o fato de que quando lidamos com pacientes com dor crônica, raramente tratamos “apenas” sinas e sintomas físicos. A própria natureza do problema nos força a ir além do que podemos objetivamente medir ou perceber de imediato. Nesse contexto, nosso artigo recém publicado na Archives of Oral Biology procurou pesquisar um pouco mais sobre essa questão e apresenta dados que evidenciam um efeito positivo importante de terapias comumente utilizadas para tratar a dor miofascial mastigatória em variáveis que a priori não fazem parte do alvo primário dessas terapias: ansiedade, depressão e catastrofização. Apesar de parecer óbvio que terapias focadas no controle da dor também tenham “efeitos colaterais” em outros aspectos que estão intimamente relacionados, como os citados acima, ainda faltavam evidências dentro da nossa área para legitimar essa hipótese, principalmente em relação ao uso das placas oclusais. E esse foi o grande objetivo de nosso estudo: medir e comparar o efeito adicional do uso da placa oclusal na melhora de variáveis psicológicas em pacientes com queixa principal de dor miofascial mastigatória.

O desenho do estudo foi o mais rigoroso possível para pesquisas que envolvem terapias: ensaio clínico randomizado. Um grupo recebeu tratamento que envolveu apenas orientações sobre a doença e para mudança de hábitos enquanto que o segundo grupo foi tratado com essas mesmas orientações mais o uso de placa oclusal estabilizadora. Os resultados mais interessantes foram que ambas as terapias amenizaram o grau de catastrofização dos pacientes depois de 5 meses, embora um efeito positivo foi obtido já no 2o mês de tratamento para o grupo tratado com placa oclusal. Além disso, apenas esse grupo (orientações + placa oclusal) teve uma redução significativa nos sintomas de ansiedade e depressão após 5 meses.

Segundo nossa opinião, os destaques de nosso trabalho são que as terapias minimamente invasivas usadas para tratar a dor miofascial mastigatória parecem ser efetivas para a melhora de variáveis psicológicas e que a placa oclusal pode oferecer um efeito adicional que consiste principalmente em acelerar o aparecimento desses efeitos benéficos. Com isso, a mensagem que gostaríamos de deixar é que cresce constantemente a quantidade de evidências que apontam para efeitos terapêuticos das placas oclusais que vão além da correção ou melhora dos aspectos mecânicos de arranjo oclusal/equilíbrio muscular e envolvem, pelo menos indiretamente, características psicológicas e comportamentais e, por isso, sendo um pouco amplo na definição e com certa dose de exagero proposital, podem ser considerados “efeitos metafísicos”. Obviamente esse assunto precisa ser discutido de uma forma muito mais profunda e, justamente por esse motivo, convido a todos que se interessam pelo tema para fazer o download gratuito do artigo (apenas até o dia 29 de Abril de 2015), lerem, criticarem, debaterem e construírem suas próprias conclusões.

Link para o artigo: http://goo.gl/OKNMwT

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Um pensamento sobre “Odontologia “metafísica”

  1. Excelente texto! Semana passada estava conversando sobre isso com colegas de pós-graduação em Dor no ambulatório do Hospital das Clínicas. Na clínica realmente observamos que os pacientes valorizam mais e aderem mais ao tratamento quando damos a eles algo mais “concreto”, como a placa e usamos outras tecnologias, além das orientações e medidas físicas. Este trabalho veio comprovar algo que observamos em nossa prática diária. Parabéns pela excelente pesquisa e por compartilhar conosco!

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