Bruxismo do sono: vilão ou mocinho?

Hoje um texto filosófico. Precisei tirar alguns pensamentos da cabeça e passar para cá!

A cada dia que passa novos trabalhos sobre Bruxismo do Sono (BS) apontam para uma crise de identidade da condição. Vilão ou mocinho?

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Na última segunda feira a colega Anelisa Goulart chamou minha atenção para um artigo de opinião de expert publicado no dia 10 de junho no Journal of Oral Rehabilitation. Neste os professores Karen Raphael, Frank Lobbezoo e V. Santiago questionam se o BS é uma condição que traz prejuízos realmente importantes para a saúde, se é uma desordem ou um comportamento, se é vilão ou mocinho e qual seria então a importância em se realizar o diagnóstico desta condição.

Como escrevi, é um artigo de opinião mas que traz reflexões interessantes.

A pergunta intrigante do artigo é: “seria o BS uma desordem ou um fator de risco para outra desordem? Por que ele tem importância?”

Os estudos com polissonografia falham em apontar que o BS leva a consequências graves para a saúde do paciente. Relacionado ao sono, aqui o bruxismo (como atividade da musculatura mastigatória durante o sono) pode ter um papel de “mocinho” ao ser necessário para estimular a produção de saliva e permitir a lubrificação dos tecidos que participam do sistema digestório. E também hoje ha relatos da associação com resistência a passagem do ar durante o sono, ou mesmo Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), onde o bruxismo seria o movimento para facilitar a passagem do ar.

Se pensarmos no aspecto vilão do BS, este deveria ser associado a consequências deletérias. Por muito tempo o Bruxismo do Sono foi apontado como fator de risco importante no desenvolvimento das DTMs. Estudos de associação, com métodos de diagnósticos duvidosos suportaram esta afirmativa por mais de 40 anos, até que os estudos com polissonografia começaram a apontar o contrário.

Neste aspecto os autores relatam que o ponto de corte para que o BS seja realmente deletério (seja para dentes, periodonto ou ATM/músculos) pode variar de pessoa para pessoa, ou seja, o impacto é individualizado e  dependente de outros fatores como a vulnerabilidade genética. Aferir com precisão todos estes fatores não é possível.

Se pensarmos nas dificuldades no diagnóstico do BS, o problema se revela ainda maior. Os autores questionam a proposta de graduar o bruxismo em possível, provável e definitivo pela reduzida acurácia no diagnóstico. É muito complicado dizer que o paciente apresenta ou não a condição e se esta está associada a efeitos deletérios.

Por exemplo, e se o paciente não relata apresentar bruxismo, mas na polissonografia mostra um grande número de eventos? Ou mesmo aquele paciente com sinais e sintomas, auto relato mas que nas noites de polissono não apresenta eventos? Complicado…

Os grupos bem definidos ainda são os extremos, ou seja, aqueles pacientes que apresentam frequentemente BS ou que nunca apresentaram. Mas, pelo o que apontam os coeficientes de variabilidade de eventos de BS, aqueles pacientes ditos com poucos ou moderados eventos são a maioria. E as ferramentas disponíveis podem falhar na detecção.

Para finalizar os autores perguntam: quando e por que iniciar um tratamento para BS? Se em alguns casos ele é “mocinho”, por que controlá-lo? E quando ele realmente é “vilão”? Como identificar isso? Aí precisa de tratamento?

É um texto provocador mesmo, e isso para ciência é interessante. O que fazemos hoje é usar a melhor maneira possível para entender o BS, para compreender quando ele pode apresentar um ou outra característica, quando ele está ativo ou não.

Ainda, precisamos evoluir e muito no estudo do Bruxismo em Vigília. Será que isso nos revelará aspectos diferentes do BS?

Cenas do próximo capítulo…

Quer ficar por dentro sobre tudo de Bruxismo em adultos e crianças?ca Fa o Dia do Bruxismo!

Proxima edição em Ribeirão Preto, dia 13/08

Mais informações no site: www.diadobruxismo.com

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