Palpômetro

A palpação da articulação temporomandibular (ATM) e dos músculos mastigatórios é um exame físico essencial no diagnóstico das disfunções temporomandibulares (DTMs).

As classificações das DTMs costumam relatar que devemos realizar a palpação com um força constante, determinada em kg. No caso do novo DC/TMD, classificação que eu acredito será finalmente anunciada neste ano, esta palpação deveria ser de 500 gramas a 1 kg, dependendo da estrutura avaliada.

Mas como aferir isso? Na prática clínica procuramos treinar com balanças a pressão exercida. Na pesquisa este treinamento pode ser realizado através dos algômetros, como fiz na minha de mestrado. Mas não é um método preciso.

Quando o professor Svensson esteve em Bauru, ele trouxe os protótipos de um novo palpômetro. Trata-se de um dispositivo com uma ponta redonda que quando pressionada na estrutura, ao se chegar à pressão desejada, a superfície do dedo do operador encontrará uma resistência.

Este instrumento foi submetido à um estudo para avaliar sua acurácia. Para ler o resumo do estudo clique aqui.

Este dispositivo foi lançado comercialmente com o nome de Palpeter e até onde eu sei, só está disponível para a venda na Europa ao custo de 99 euros.

Mas uma pessoa curiosa perguntaria: por que 500 gramas e 1 kg?

O professor Paulo Conti orientou duas pesquisas interessantes na Faculdade de Odontologia de Bauru – USP onde procurou verificar então qual seria o valor de corte para a pressão que distinguisse pacientes de indurante o exame de limiar de dor à pressão. Este foi tema das dissertações de mestrado da Profa. Carolina Ortigosa Cunha e do Prof. Dr. Rafael Santos Silva.

No caso da dor muscular, o trabalho do Prof. Dr. Rafael Santos Silva mostrou que o masseter e o temporal apresentaram valores distintos para se distinguir pacientes de não pacientes. Com 90.8% de especificidade os valores obtidos foram  1.5 kgf/cm2 para masseter, 2.47 kgf/cm2 para temporal anterior, 2.75 kgf/cm2 para temporal médio, and 2.77 kgf/cm2 para temporal posterior.  Clique aqui para ler o resumo do trabalho que saiu no Journal Orofacial Pain.

O trabalho da Profa. Carolina Ortigosa Cunha verificou que o valor de palpação de 1,56 kgf/cm2 é o mais adequado para o diagnóstico de DTM de origem articular. Para ler a dissertação na íntegra, clique aqui.

Os valores são bem distintos daqueles propostos pelo futuro DC/TMD e também reproduzidos pelo Palpeter. Vi no site que há modelos com 2 e 4 kg. Estas pesquisas deveriam sugerir que pelo menos fosse considerado 1,5 kg, não? Ainda bem que existe gente curiosa no Brasil! 😉

Para quem ficou curioso em ver o Palpeter em funcionamento, segue abaixo vídeo postado pela empresa no You Tube.

5 perguntas sobre Dor Orofacial para… Prof. Paulo Conti

Prof. Paulo César R. Conti

Mais um “5 perguntas para…”! Desta vez o José Luiz Peixoto Filho enviou perguntas ao Professor Paulo César R. Conti, na mesma época que havia enviado ao Prof. Peter Svensson (entrevista publicada aqui).

O Prof. Conti é docente da Faculdade de Odontologia de Bauru – USP e é uma das pessoas mais importantes dentro da nossa especialidade, com várias pesquisas publicadas na área.

Então, vamos logo às 5 perguntas!

1.Qual a situação atual da Dor Orofacial e DTM no Brasil?

Obtivemos um grande avanço com a oficialização de nossa especialidade pelo CFO há alguns anos atrás, em relação a divulgação e certificação dos especialistas. No entanto, ainda  acredito haver uma falta de informação de nossos colegas sobre as atribuições da especialidade de DTM e DOF. Acredito que com a introdução de disciplinas em nível de graduação e pós-graduação em nossa Faculdades, este cenário tende a melhorar.

2. … e o futuro?

Acredito que o futuro passa por dois aspectos fundamentais: controle e unificação de uma proposta de treinamento ao especialista baseada em evidências científicas e maior divulgação entre a classe odontologia. O campo das Dores Orofaciais é extremamente carente de profissionais bem treinados para atendimento, sendo esta uma área de interesse aos nossos jovens doutores recém-saídos dos bancos das Faculdades. Temos um grupo de pesquisadores de alta competência em nosso país, sendo que podemos contribuir sobremaneira para o conhecimento em nossa área por meio de pesquisas, publicação de artigos e realização de eventos de impacto.

3. O que vem sendo estudado em seu programa de pós-graduação?

Temos, atualmente, nos focado em alguns itens de pesquisa específicos. A validação de  métodos diagnósticos apropriados é uma das principais linhas de pesquisa de nosso grupo aqui na FOB. Ainda, estudamos, atualmente o impacto da presença de cefaléias primárias no tratamento das DTMs. Uma linha de pesquisa sobre alterações sensoriais nos pacientes de diversas dores orofaciais está em andamento, juntamente com a determinação do componente genético das dores, o que deve nos trazer resultados importante a médio prazo.

4.  Como foi a vinda do Prof.Peter Svenson a Bauru?

Foi um excelente oportunidade de discussão de projetos em comum com um dos maiores pesquisadores em nossa área atualmente. A experiência do Prof. Svensson, associada a sua já conhecida rigidez científica, contribuíram muito para o aprimoramento de nossos projetos e para o estabelecimento de uma parceria com a Universidade de Aarhus, na Dinamarca.

5. Por que uma Sociedade Brasileira de Dor Orofacial?

Acredito que tivemos uma grande e imensurável apoio das instituições voltadas para o estudo da dor (SBED e SBCe) com a a criação de Comitês de Dor Orofacial. Com a solidificação e amadurecimento de nossa especialidade, acredito que já temos condição de termos uma Sociedade independente para que a classe odontologia possa conhecer e participar de maneira mais ativa das discussões e interar-se das novidades em nossa área. Ainda, faz parte de nosso compromisso nos posicionarmos diante do órgão públicos para garantirmos atenção adequada no ensino e atendimento dos pacientes portadores de Dor Orofacial. Com uma sociedade própria, acredito podermos atrair novos e promissores colegas a atuar na área.

5 perguntas sobre Dor Orofacial para… Professor Peter Svensson

Na primeira semana de maio o Professor Peter Svensson esteve na Faculdade de Odontologia de Bauru – USP, a convite do professor Paulo Conti, para ministrar a disciplina Dores Orofaciais para os alunos da pós- graduação. E graças ao professor Conti, eu, a Ana Lotaif e o José Luiz Peixoto Filho pudemos participar como alunos convidados. Obrigada, Conti!!!

Peter Svensson é professor da Universidade de Aarhus, Dinamarca, onde é chefe da disciplina de Fisiologia Oral na Faculdade de Odontologia e também integra o MINDLab, Centro de Neurociências Integrativa Funcional no Hospital Universitário. Também, é editor chefe do Journal Oral Rehabilitation e presidente do consórcio internacional do Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC/TMD) de 2010 até 2013.

Foi uma semana extremamente gratificante, quando nós pudemos aproveitar palestras muito interessantes e confirmar tanto a experiência em pesquisas quanto a capacidade de ensino do Professor Svensson. Os tópicos apresentados foram sobre os mecanismos das DOF, uma atualização sobre Bruxismo e Dor Orofacial Neuropática, e o processo evolutivo do DC/TMD. Espero de coração que este seja apenas um primeiro encontro!

Voltando de Bauru, o José Luiz teve a idéia de iniciar aqui no blog uma série de entrevistas sobre DTM e Dor Orofacial, com pessoas envolvidas em atividade clínica, ensino e pesquisa nessa área, as “5 perguntas para…”, e nós estamos muito orgulhosos de iniciar com o Professor Peter Svensson.

E lá vamos para a primeira!

On the first week of May, Professor Peter Svensson was at the Dental School of Bauru – USP, invited by Professor Paulo Conti, to present lectures on Orofacial Pain to post-graduate students. And thanks to Professor Conti, I, Ana Lotaif and José Luiz Peixoto Filho could atend as invited students. Thank you, Conti !!!

Peter Svensson is professor at the University of Aarhus School of Dentistry division of Clinical Oral Physiology, and holds an appointment at the University Hospital in the MindLab (Functional Integrative Neuroscience Center). Also, he is the chief editor of the Journal of Oral Rehabilitation and president of the International Consortium – Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC / TMD) – from 2010 to 2013.

 It was an extremely rewarding week, and we could enjoy very interesting lectures and confirm the experience on research and teaching skills of Professor Svensson. The topics presented were a review on Orofacial Pain mechanisms, an update on Bruxism and Orofacial Neurophatic Pain, and the evolving process of the DC / TMD. I hope with my heart that we can meet again in the future!

Back from Bauru, José Luiz had the idea to start in the blog a series of interviews on TMD and Orofacial Pain with people involved in clinical, teaching and research in this area, the “5 questions to…”, and we are very proud to start it with Professor Peter Svensson.

And here we go!

5 perguntas para Peter Svensson – 5 questions to Peter Svensson

1) Como é o ensino do tema Dor Orofacial e DTM em seu país?

How is the Orofacial Pain and TMD teaching in Denmark? Do dental students have it as a regular discipline? Is OFP/DTM a recognized specialty in Dentistry at your country?

Na Dinamarca os alunos de Odontologia tem 2 anos de formação em Fisiologia Oral, que abrange as DTM e a Dor Orofacial (DOF). Assim, eles aprendem a avaliar, diagnosticar e tratar esses pacientes. Infelizmente, não existe oficialmente a especialidade de DTM e DOF na Dinamarca, mas atualmente estamos trabalhando junto ao Conselho Nacional de Saúde para ver se conseguimos ter mais especialidades odontológicas na Dinamarca (atualmente existem apenas duas especialidades oficializadas: a Ortodontia e a Cirurgia Buco-Maxilo-Facial). Isso faz com que os Dentistas clínicos sejam capacitados a diagnosticar e tratar os tipos mais comuns de DTM e DOF – e também saber quando e como encaminhar pacientes, por exemplo, ao nosso departamento.

Dental students in DK have 2 years of training with oral physiology which covers TMD / OFP. So they get to see and diagnose and treat patients. Unfortunately, there is no official specialty in OFP in DK but we are currently working with the National Board of Health to see if we can manage to get more specialities in DK (only 2 officials: ortho – and oral and maxillofacial surgery).This also demands that “normal” dentists can diagnose and treat the most common types of OFP and TMD – and know when and how to refer to e.g. our department.


2) Que áreas lhe despertam interesse em pesquisas atualmente?

What are your present research interests in the OFP/TMD area?

Estou muito interessado na plasticidade do córtex cerebral e na importância do cérebro na regulação da dor. Também em termos dos efeitos do treinamento, o cérebro é extremamente envolvido e importante. Ainda, existe um amplo leque de pesquisas que vão desde o estabelecimento de perfis somatossensoriais de diferentes condições de Dor Orofacial até o emprego de vários tipos de técnicas de eletrofisiologia (estudos de EMG / reflexos / mastigação / e condução nervosa). Nós gostamos de ter uma abordagem experimental e também clínica no estudo das DOF. O principal objetivo é aprender mais sobre os seus mecanismos para ajudar a melhorar o seu diagnóstico e tratamento.

I am very interested in cortical plasticity and the importance of the brain in the regulation of pain. Also in terms of training effects the brain is extremely involved and important. Otherwise there is a wide span of research from somatosensory profiling in different OFP conditions to various types of electrophysiology (EMG / reflexes / mastication / nerve conduction studies). We like to take an experimental but obviously also clinical approach to the study of OFP. The main goal is to learn more about mechanisms to help improve diagnosis and management.

3) Testes Quantitativos Sensoriais (TQS – QST): instrumento de pesquisa com possível aplicação clínica? Por favor comente.

Is QST a research instrument with clinical application? Please comment on that for us.

TQS (QST) é uma técnica maravilhosa, mas requer habilidade, diretrizes e um laboratório bem equipado. Portanto, há uma necessidade de se desenvolver técnicas mais simples,”semi”-quantitativas, porém confiáveis e válidas e que possam ser utilizadas no ambiente clínico odontológico. Acredito que o estabelecimento de perfis somatossensoriais é uma forma muito útil para caracterizar o fenótipo dos pacientes – e que este conhecimento pode levar ao desenvolvimento de tratamentos específicos, por exemplo, não apenas para tratar uma condição de DOF específica, mas para tratar uma condição de DOF específica com um perfil somatosensorial específico (por exemplo, uma que apresente alodinia mecânica dinâmica e uma outra que apresenta alodínia térmica).

QST is a wonderful technique but requires skill, guidelines and a well-equipped lab. So there is a need to develop more simple but reliable and valid “semi”-quantitative techniques that can be used chair-side. I believe somatosensory profiling is a very useful way to characterize the endophenotype of the patients – and that this may develop into specific management, e.g., not just to treat a specific OFP condition but to treat a specific OFP condition with a specific somatosensory profile (e.g dynamic mechanical allodynia vs warmth allodynia).

4) Como é sua participação no CONSORTIUM e o novo DC-RDC?

Tell us briefly about your participation in CONSORTIUM and the new DC-RDC.

Eu sou o atual diretor do projeto RDC / TMD e estamos trabalhando no novo DC/TMD (Schiffman et al. – a ser publicado na JADA ainda este ano). Foi um longo processo que contou com a ajuda de muitas pessoas. Acredito que o novo DC/TMD será mais fácil de usar e, naturalmente, fornecer uma medida direta de validade. Por isso, deverá ajudar tanto os clínicos quanto pesquisadores. É muito importante que nós tenhamos uma linguagem “comum” para o diagnóstico das DTM – e é aí que o DC / TMD realmente tem a sua importância. Vou incentivar as pessoas a aderirem ao projeto do DC-RDC/TMD e participarem da sua emocionante evolução – que eventualmente levará a um RDC inteiro para as DOF.

I am the current director of the RDC/TMD consortium and we are working on the new DC/TMD (Schiffman et al. – to be published in JADA – later this year). It has been a long process with the input and help from many people. I believe that the new DC/TMD will be easier to use and of course provide a direct measure of validity. So it should help both clinicians and researchers. It is so important that we have a “common” language in the diagnosis of TMDs – and this is where the DC/TMD really has its importance. I will encourage people to join the RDC/TMD consortium and take part in the exciting developments – that will eventually lead to an entire RDC for orofacial pain.
5. Quais foram suas impressões pessoais sobre as pesquisas em andamento pela equipe de estudantes coordenada pelo professor Paulo Conti na Faculdade de Odontologia de Bauru?

What were your personal impressions with the ongoing researches done by Paulo Conti’s students at Bauru School of Dentistry?

Fiquei extremamente impressionado com os muitos projetos de pesquisa, de alta qualidade e relevantes, apresentados durante a semana. Eles trarão uma boa e duradoura contribuição para o campo das DOF. Além disso, todos os apresentadores fizeram um trabalho muito bom em apresentar e discutir seus projetos em Inglês. Eu não tenho dúvidas que a pesquisa de Dor Orofacial no Brasil está avançando rapidamente – e ajudará a guiar o desenvolvimento clínico também. Estou ansioso para colaborar em alguns dos projetos no futuro!

I have been extremely impressed by the many and high-quality and relevant research projects presented during the week. They will all make good and lasting contributions to the field. Also, all presenters did an extremely good job in presenting and discussing their projects in English. I am not in doubt the OFP research in Brazil is moving fast forward – and will help to guide the clinical development as well. I am looking forward to collaborate on some of the projects in the future!

Obrigada a Ana Cristina Lotaif e ao José Luiz Peixoto Filho pela colaboração nesta postagem!

Esta entrevista também estará disponível no site www.dtmedor.com.br