Na semana passada fomos surpreendidos por uma entrevista do Prof. Paulo Conti, professor da FOB-USP e coordenador do Bauru Orofacial Pain Group, no programa Saúde em Prática da TV Unesp de Bauru.
Uma entrevista bem esclarecedora para a população, falando sobre tipos de disfunções temporomandibulares (DTM), ruídos, cefaleias, bruxismo, má oclusão (desmistificando seu papel) e tratamentos (enfatizando os conservadores, explicando papel das placas, etc).
Há algum tempo postei aqui que a revista The Journal of Headache and Pain era uma revista científica com bom fator de impacto e que dispõe seu conteúdo online e gratuito.
Trata-se de uma paciente que recebeu inicialmente o diagnóstico de disfunção temporomandibular (DTM) foi controlada, mas depois de alguns meses retornou com um quadro de dor que preenchia os critérios para NA.
O curso é coordenado pelos professores Paulo Conti e Roberto Ramos Garanhani e conta com a participação do professor Rafael Santos Silva e da equipe da Faculdade de Odontologia de Bauru – USP, inclusive eu (rs…). Olhe que vou acrescentar uma super aula sobre bruxismo do sono em crianças agora além das que já ministro!
O professor Jorge von Zuben de Campinas informa também que estão abertas inscrições para a nova turma do curso de especialização na Associação dos Cirurgiões Dentistas de Campinas (ACDC). Em breve colocarei o folder aqui também. Mais informações: http://www.acdc.com.br
Eu me formei por este curso! Está mais do que indicado! 😉
A palpação da articulação temporomandibular (ATM) e dos músculos mastigatórios é um exame físico essencial no diagnóstico das disfunções temporomandibulares (DTMs).
As classificações das DTMs costumam relatar que devemos realizar a palpação com um força constante, determinada em kg. No caso do novo DC/TMD, classificação que eu acredito será finalmente anunciada neste ano, esta palpação deveria ser de 500 gramas a 1 kg, dependendo da estrutura avaliada.
Mas como aferir isso? Na prática clínica procuramos treinar com balanças a pressão exercida. Na pesquisa este treinamento pode ser realizado através dos algômetros, como fiz na minha de mestrado. Mas não é um método preciso.
Quando o professor Svensson esteve em Bauru, ele trouxe os protótipos de um novo palpômetro. Trata-se de um dispositivo com uma ponta redonda que quando pressionada na estrutura, ao se chegar à pressão desejada, a superfície do dedo do operador encontrará uma resistência.
Este instrumento foi submetido à um estudo para avaliar sua acurácia. Para ler o resumo do estudo clique aqui.
Este dispositivo foi lançado comercialmente com o nome de Palpeter e até onde eu sei, só está disponível para a venda na Europa ao custo de 99 euros.
Mas uma pessoa curiosa perguntaria: por que 500 gramas e 1 kg?
No caso da dor muscular, o trabalho do Prof. Dr. Rafael Santos Silva mostrou que o masseter e o temporal apresentaram valores distintos para se distinguir pacientes de não pacientes. Com 90.8% de especificidade os valores obtidos foram 1.5 kgf/cm2 para masseter, 2.47 kgf/cm2 para temporal anterior, 2.75 kgf/cm2 para temporal médio, and 2.77 kgf/cm2 para temporal posterior. Clique aqui para ler o resumo do trabalho que saiu no Journal Orofacial Pain.
O trabalho da Profa. Carolina Ortigosa Cunha verificou que o valor de palpação de 1,56 kgf/cm2 é o mais adequado para o diagnóstico de DTM de origem articular. Para ler a dissertação na íntegra, clique aqui.
Os valores são bem distintos daqueles propostos pelo futuro DC/TMD e também reproduzidos pelo Palpeter. Vi no site que há modelos com 2 e 4 kg. Estas pesquisas deveriam sugerir que pelo menos fosse considerado 1,5 kg, não? Ainda bem que existe gente curiosa no Brasil! 😉
Para quem ficou curioso em ver o Palpeter em funcionamento, segue abaixo vídeo postado pela empresa no You Tube.
1.Qual a situação atual da Dor Orofacial e DTM no Brasil?
Obtivemos um grande avanço com a oficialização de nossa especialidade pelo CFO há alguns anos atrás, em relação a divulgação e certificação dos especialistas. No entanto, ainda acredito haver uma falta de informação de nossos colegas sobre as atribuições da especialidade de DTM e DOF. Acredito que com a introdução de disciplinas em nível de graduação e pós-graduação em nossa Faculdades, este cenário tende a melhorar.
2. … e o futuro?
Acredito que o futuro passa por dois aspectos fundamentais: controle e unificação de uma proposta de treinamento ao especialista baseada em evidências científicas e maior divulgação entre a classe odontologia. O campo das Dores Orofaciais é extremamente carente de profissionais bem treinados para atendimento, sendo esta uma área de interesse aos nossos jovens doutores recém-saídos dos bancos das Faculdades. Temos um grupo de pesquisadores de alta competência em nosso país, sendo que podemos contribuir sobremaneira para o conhecimento em nossa área por meio de pesquisas, publicação de artigos e realização de eventos de impacto.
3. O que vem sendo estudado em seu programa de pós-graduação?
Temos, atualmente, nos focado em alguns itens de pesquisa específicos. A validação de métodos diagnósticos apropriados é uma das principais linhas de pesquisa de nosso grupo aqui na FOB. Ainda, estudamos, atualmente o impacto da presença de cefaléias primárias no tratamento das DTMs. Uma linha de pesquisa sobre alterações sensoriais nos pacientes de diversas dores orofaciais está em andamento, juntamente com a determinação do componente genético das dores, o que deve nos trazer resultados importante a médio prazo.
4. Como foi a vinda do Prof.Peter Svenson a Bauru?
Foi um excelente oportunidade de discussão de projetos em comum com um dos maiores pesquisadores em nossa área atualmente. A experiência do Prof. Svensson, associada a sua já conhecida rigidez científica, contribuíram muito para o aprimoramento de nossos projetos e para o estabelecimento de uma parceria com a Universidade de Aarhus, na Dinamarca.
5. Por que uma Sociedade Brasileira de Dor Orofacial?
Acredito que tivemos uma grande e imensurável apoio das instituições voltadas para o estudo da dor (SBED e SBCe) com a a criação de Comitês de Dor Orofacial. Com a solidificação e amadurecimento de nossa especialidade, acredito que já temos condição de termos uma Sociedade independente para que a classe odontologia possa conhecer e participar de maneira mais ativa das discussões e interar-se das novidades em nossa área. Ainda, faz parte de nosso compromisso nos posicionarmos diante do órgão públicos para garantirmos atenção adequada no ensino e atendimento dos pacientes portadores de Dor Orofacial. Com uma sociedade própria, acredito podermos atrair novos e promissores colegas a atuar na área.