Trismo, quando a boca não consegue abrir.

Interessante quando um sinal pode ter vários problemas envolvidos. Assim é com o trismo. A Academia Americana de Dor Orofacial define trismo como mioespasmo dos músculos da mastigação que causa especificamente abertura bucal limitada. Trismo entre tantas coisas, é um dos sintomas iniciais do tétano, doença infelizmente comum ainda no Brasil.

Mas, ainda bem, esta não é a causa mais comum de trismo e sim aquele pós cirurgias orais, de face e traumas, e daí seu nome trismo traumático, extremamente comum após exodontia de terceiros molares.

O trismo pode ser ainda decorrente de um processo infeccioso do próprio músculo (incomuns, ufa!), induzidos por fármacos, por radioterapia ou até psicogênico, desencadeado por uma situação de estresse emocional.

Mas toda esta introdução é para entrar no assunto trismo por infecções odontogênicas ou em orofaringe. E por que isso? Atendi dois casos de trismo cuja histórias chamaram a minha atenção.

No primeiro caso, quando a paciente me procurou  (o trismo se instalou depois)  havia apenas dor na face. A dor era pré auricular, havia iniciado há 2 dias, moderada, pulsátil, não piorava à função mandibular mas sentia um leve aumento na intensidade ao deglutir. Não relatou melhora ou sintomas relacionados. Entretanto, após anamnese e exame da paciente, não conseguia encaixá-la em nenhum dos diagnósticos comuns a disfunção temporomandibular (DTM) ou odontogênicos. Não conseguia sequer reproduzir a sua queixa de dor. Em RX panorâmico nada digno de nota.

Adepta da frase se não há diagnóstico, não inicie o tratamento, prescrevi medidas paliativas e orientei a paciente que procurasse ajuda médica, o que ela fez no mesmo dia, o que a confundiu ainda mais.

Para resumir o caso, a paciente foi orientada a sim fazer um tratamento para DTM, o que fez por cerca de 2 semanas,  piorou muito, voltou ao meu consultório com trismo e já um diagnóstico de pneumonia.  Entramos em contato com os médicos, fez tomografia de cabeça e pescoço e o diagnóstico foi um abcesso na região faríngea que enquanto não drenado e tratado, não levou a melhora do trismo. Devo lembrar que quando ela me procurou não havia o trismo. Não havia ainda febre ou inchaço da parótida que apareceram depois, no decorrer de sua piora clínica, que não acompanhei. Abaixo a imagem:

Acredito muito que devemos ter cautela e realizar sempre o diagnóstico diferencial. Acho que é o professor Pedro Moreira, da neurologia da Universidade Federal Fluminense que disse a frase “Trate de forma típica aquilo que lhe é típico” , frase esta extremamente válida para estas ocasiões.

Esta semana apareceu o segundo caso, com os mesmos sintomas, mas já com dor na garganta, gânglios infartados, um inchaço em região de parótida e, claro o tema desta postagem, trismo. Abria 25 mm. Tomografia de cabeça e pescoço, exame com o médico, e o mesmo diagnóstico.

Nem sempre o edema ou a dor de garganta serão os primeiros sintomas e sim o trismo e dor, que foram os motivos pelo qual a primeira retornou e a segunda veio se consultar.

No trismo remover a causa é essencial. Depois medidas físicas; como calor, mobilização da mandíbula, exercícios; devem ser realizadas para que a abertura bucal possa ser restabelecida.

Para ler mais sobre abcessos cervicais: http://www.otorrinousp.org.br/imageBank/seminarios/seminario_30.pdf

É isso! 🙂

10 pensamentos sobre “Trismo, quando a boca não consegue abrir.

  1. “Tratar de forma típica o que é típico”!!!! grande frase!!!! mas ele diz tb que na Medicina existe a seguunte máxima: quando acontece uma coisa “rara”, ela se repete no máximo duas vezes, então já preencheu sua cota, heheh. parabéns pela (habitual) argúcia na avaliação do paciente, tomara que inspire outros colegas!

  2. Oi, Juliana.
    Nunca peguei um caso de trismo por abscesso. Muito interessante.
    Vou pesquisar um pouco. Será que tem alguma coisa no livro do Okeson?

    André Amaral Ribeiro CROSP 72704
    São Paulo SP

    • Olá André,
      Não sei se há algo. Eu acho que não. No livro do professor Siqueira há uma citação.
      Preciso investigar nos livros que tenho aqui em mãos.
      Abraços

  3. ola boa tarde, meu dente do siso em baixo lado esquerdo esta nascendo, mas ultimamente nao estou conseguindo abrir a boca totalmente pois o lado esquerdo doi muito, gostaria de saber se isto tem a ver com o dente?

    • Pode ser no seu caso que esteja realmente relacionado a uma inflamação do tecido que fica ao redor do dente do ciso. Procure o seu dentista o mais rápido possível. Abs

  4. Olá. fiz a cirurgia de extração do siso inferior do lado esquerdo. Tive muitas complicações na extração. Hoje faz 11 dias que realizei a cirurgia. Ainda estou com Trismo, estou com parestesia lado esquerdo da língua e muita dor nos dentes inferiores da frente , metade do lábio e no queixo. Fiz um semana de laser, mas nao adiantou. Estou tomando complexo B para tentar normalizar as funções dos nervos e fazendo massagens no maxilar para estimular novamente a abertura.

    A drª teria alguma solução para o meu caso?
    algum tipo de tratamento específico?
    remédios para diminuir minha dor?

    • Olá Letícia, tudo bem?
      Veja, qualquer opinião que eu der sobre seu diagnóstico e tratamento posso me equivocar, uma vez que não estou examinando você. Assim, eu acho que a melhor soluções seria você conversar com seu dentista, e se achar necessário procurar um dentista especialista em DTM e Dor Orofacial (pode encontrar pelo site http://www.sbdof.com). Espero que entenda! Abraços

  5. Ha cinco anos extrai o siso do lado direito inferior.Ele estava incluso e foi muito dificil,demorou umas duas horas para extrai-lo.Fiquei sem conseguir abrir a boca direito por uns 15 dias e a lingua ate hoje dormente.Agora estou sentindo dores no ouvido, garganta e pescoco e dor de cabeca tb.O que pode ser?Qual especialista?

    • Marcia,
      Estes sintomas acredito que não estejam relacionados ao seu problema antigo. Entretanto não estou examinando você. O melhor é você procurar alguns profissionais como um especialista em DTM e Dor orofacial (www.sbdof.com), otorrinolaringologista e até um neurologista com experiência em cefaliatria (www.sbce.med.br) para que possam lhe ajudar. Abs

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