Desencoste os dentes!

O bruxismo do sono foi (ainda é?)  muitas vezes relacionado com dor em ATM e músculos mastigatórios e também com cefaleia tipo tensional, como fator causal ou perpetuante.

É um pensamento comum: ranger os dentes a noite toda, acordar com dor pós exercício.

Mas então, surgiram alguns estudos com polissonografia que não conseguiram explicar esta situação. Pelo contrário, parece que pacientes com dor facial apresentam um número menor de contrações musculares durante a noite.

Então, os estudos começam a mostrar que há diferença entre bruxismo do sono e bruxismo em vigília. O professor Peter Svensson relatou certa vez que é importante diferenciar estes tipos de bruxismo, pois além de apresentarem fisiopatologia distinta, também é diferente a forma com que se relacionam com DTM.

O bruxismo em vigília vem se mostrando um fator de risco importante para dor, ainda pouco explorado, seja do ponto de vista científico, seja no dia dia clínico.

Eu sempre falo aos colegas, placa oclusal não é terapia única para bruxismo, longe disso. E ainda, que devemos valorizar (principalmente questionar e orientar) os hábitos relacionados a vigília. Apertamento dental em vigília com um sono não reparador, mesmo sem a presença de bruxismo do sono, podem levar a mais dor pela manhã.

Pensando nisso, Roberto Garanhani e Wladmir Dal Bó, manezinhos da ilha mais linda do Brasil, Florianópolis, desenvolveram um aplicativo para iOS e em breve para o sistema Android, para auxiliar as pessoas que apresentam esta parafunção, o DESENCOSTE 1.0.

Eu que quase não gosto de tecnologia (tsc tsc), baixei na hora e adorei. Além de achar lindo o design, adorei as explicações e acho que a utilização deste app vai ajudar muitas pessoas.

Já há colegas que disseram que avisaram os pacientes e na hora eles baixaram e já começaram a utilizar.

O aplicativo foi lançado na sexta feira! Estou ansiosa para verificar como será a aceitabilidade por parte dos pacientes. Eu, apertadora assumida, já gostei.

Para fazer download, lá vai o link: https://itunes.apple.com/us/app/desencoste/id579382764?l=pt&ls=1&mt=8

Falando nisso…

Agora no mês de Novembro foi publicado um artigo no Journal of American Dental Association (JADA) sobre a relação Bruxismo do Sono e DTM. Foi uma grande investigação, realizada com polissonografia, que envolveu 124 mulheres com DTM e 46 mulheres saudáveis.

O que encontraram: o relato de bruxismo do sono foi maior nas pacientes com DTM mas quando fizeram a polissonografia (foram 2 noites, a primeira para habituação) muitas que relataram que tinham, não apresentaram de fato.

Ainda, o número de mulheres com bruxismo do sono não foi diferente entre os dois grupos.

De fato, o relato do bruxismo pode ser em consequência do conhecimento comum de que, tenho DTM, assim, tenho bruxismo. O que não se mostra verdadeiro.

Boa notícia: artigo online e gratuito. Façam a leitura, deixem seus comentários! Aí vai o link: http://jada.ada.org/content/143/11/1223.full.pdf+html

Leia mais sobre bruxismo aqui:https://julianadentista.com/2010/11/21/resumo-sobre-bruxismo/

Leia mais sobre DTM X bruxismo aqui: https://julianadentista.com/2010/07/10/bruxismo-x-dtm/

Mais aplicativos sobre diário de dor: https://julianadentista.com/2011/03/15/diario-de-dor/

Alô Brasília! Tô chegando! 🙂

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12 pensamentos sobre “Desencoste os dentes!

  1. Ju!!!
    Sou seu fã!! E vc sabe!!
    Parabens para o Roberto e o Wladmir!!!
    Amanha meus pacientes Já estarao instslando!! Otima iniciativa!!

  2. Para variar, você foi perfeita! rsrsrs.
    Boa semana Juliana e continue sempre nos “abastecendo” com suas dicas.
    Fica com Deus!!!!

  3. Post excelente,estou viciada no seu blog hehheehe.Você nao imagina como ele tem me ajudado nos estudos,e com ele estou tendo a oportunidade de ter acesso à materiais científicos que ainda nao conhecia.Com certeza vou indicar para meus pacientes esse app.
    Parabéns!!!

  4. He visto un artículo muy bueno, de fácil interpretación para el Dentista general y Dentistas especialistas. Muy buen sitio. Lo recomendaré aquí, en Tucumán, Argentina a mis colegas.

  5. Pingback: OdontofoGUIA! #79 | Medo de Dentista

  6. Parabéns pelo blog, e por todas as matérias. Já publiquei no meu dicasdadentista o aplicativo desencoste e muitos seguidores estão utilizando, inclusive eu!!! Obrigada por compartilhar tantas informações!!!! Um grande abraço.

  7. Oi Juliana, estive pensando no artigo que postou, assim como outros por aí.. na minha opinião, mesmo que exames de polissonografia deem resultados semelhantes para pacientes e controles, isso não invalida em nada o uso de placas, TCC, etc. O próprio autor reconhece que o bruxismo noturno pode ter ocorrido “no passado”, e não parecer no exame atual. Os músculos que mais aparecem comprometidos são exatamente os elevadores: masseter, temp. anterior (não deve ser por acaso…). Dessa forma faz todo o sentido o repouso da musculatura (de noite ou dia), independente de número de episódios de bruxismo em comparações com outros indvíduos. A dor é dinâmica. Só não postei isso no facebook pq a coisa lá tá “quente”, hehe. Acho que vai concordar comigo, abrçs! Ricardo A.

    • Concordo com vc Ricardo e acho que o tema ainda vai longe. Hoje estava lendo pela milésima vez sobre o assunto. Acho que a atividade muscular pode ser um gatilho para desencadear situações, ou mesmo perpetuá-las, especialmente em pacientes sensibilizados. Daí eu acho que há a necessidade de se criar classificações como a da cefaleia em aguda e crônica para estudarmos melhor estes pacientes. E vou além , a atividade muscular intensa em vigília associada a pobre qualidade do sono reflete diretamente na dor percebida. Acho que os estudos tem portanto que refinar a metodologia. Embora tudo isso, todos os resultados (com metodologias diferentes) apontam para uma ausência de associação entre bruxismo do sono e DTM…

      • Correto! Estava imaginando uma “analogia”:
        Eu, atleta de fim de semana, vou jogar futebol no domingo. Exagero, me arrebento todo, fico com dor muscular. Na segunda, dolorido, vou atravessar uma rua, dou 10 passos. Um indivíduo do lado, que não tem dor, não esteve no jogo, dá 15, 20 passos rápidos (por esse mesmo motivo). Da mesma forma, um exame polissonográfico poderia acusar em determinado momento: menos bruxismo (ação muscular) em pacientes com dor do que em controles sem dor(!). O problema todo ocorreu antes. Como vc mesma colocou – processo agudo X crônico. A prescrição de repouso muscular ninguém questionaria para o primeiro exemplo acima, não é mesmo?
        Só um estudo de longo prazo de acompanhamento (coorte?) solucionaria o caso. Mas isso, com a PSG ainda está inviável… abrçs

      • É bem por aí….
        Acho que devemos estudar mais sobre isso, especialmente sobre os efeitos da hiperatividade muscular em pacientes com dores cronicas, por exemplo, em um paciente com mialgia centralmente mediada, com alteraçoes no SNC bem claras… Enfim, é isso. Abs!

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