Bruxismo infantil

Se há um tema que adoro é bruxismo. Se há um tema que detesto é bruxismo na infância. Vai entender… Confesso que tenho até certa preguiça em conversar sobre isso. Mas diante de tanta informação desencontrada na internet e em palestras que assisti, acho que o tema merece uma abordagem aqui pelo blog.

A começar que quando verifico o que se escreve ou fala sobre bruxismo na infância, percebo que o uso da classificação do bruxismo é ainda menor. Já escrevi aqui, já falei em algumas palestras:  existem tipos diferentes de bruxismo! A abordagem dos pacientes difere conforme o tipo apresentado!

Pouco se sabe sobre bruxismo na infância e acho que realmente é difícil abordar estes pacientes. A maioria das pesquisas, por exemplo, utilizam como método de diagnóstico os questionários, muitas vezes com os pais, o que não deixa de ser um viés importante, por exemplo, pelos aspectos emocionais e afetivos da relação pai e filho que podem influenciar e muito nas respostas.

(Antes que vocês pensem sobre as verminoses/parasitoses e sua relação com o bruxismo, peço que leiam esta outra postagem que escrevi. Continuo com a mesma opinião, e a última pesquisa publicada sobre o assunto, veio da Índia o que reforçou a minha opinião. E não vamos mais falar disso até que nos provem o contrário!  Leiam aqui.)

Busquei algumas informações no capítulo Sleep Bruxism in Children dos autores Huynh e Cuillminault no livro Sleep Medicine for Dentist: a pratical overview para ilustrar esta postagem:

  • Baseado no relato de ranger de dentes, o bruxismo do sono é mais comum na infância (14 a 38%) do que na idade adulta (±8%)
  • A probabilidade da criança ranger ou apertar os dentes é 1.8 vezes maior se os pais estiverem conscientes dos sinais e sintomas de bruxismo
  • A probabilidade do relato de bruxismo aumenta 3.6 vezes se a criança apresenta algum distúrbio psicológico, 1.7 vezes maior se babar (isso mesmo, acho que tem relação com a respiração bucal, o que faz sentido) e 1.6 vezes se for sonâmbula.
  • Crianças com bruxismo tem 16 vezes (!) mais chances de serem ansiosos.
  • Crianças com TDHA – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade que recebem tratamento com medicações estimulantes do Sistema Nervoso Central (SNC) apresentam prevalência maior de bruxismo (o que pode ter relação com o papel dos neurotransmissores em bruxismo, ainda não estudado em crianças). Os autores enfatizam que neste caso o bruxismo seria secundário!
  • Os fatores genéticos merecem ser mais estudados. Se um dos pais relatam apresentar bruxismo, a criança tem 1.8 vezes mais chance de ser também bruxista (vou culpar minha mãe agora pelo bruxismo e também migrânea herdados!).

Pouquíssimos estudos foram realizados com polisonografia em crianças no intuito de estudar a fisiopatologia do bruxismo do sono infantil. Um dos estudos verificou uma aumento no número de microdespertar, o que associou a problemas comportamentais de atenção. A forma como aconteceu o evento do bruxismo do sono primário é similar ao do adulto. Outro estudo realizado em 90 crianças com cefaleia, verificou associação entre bruxismo do sono e cefaleia tipo tensional.

Agora o que mais chama atenção hoje em dia tanto nos livros como nas pesquisas que pipocam por aí é a relação entre os distúrbios respiratórios e o bruxismo (neste caso o primário é agravado ou o distúrbio do sono tem como consequência um bruxismo secundário).De fato, crianças com obstrução nasal têm prevalência de 62,5% de bruxismo. E já foi demonstrado que há uma redução na prevalência após procedimentos de tonsilectomia (de 45,5 para 11,8%) e adenotonsilectomia (25,7% para 7,1%).  Um estudo feito pela Universidade de Montreal com 604 crianças de 7 a 17 anos mostrou que pacientes Classe II apresentavam chance maior de relato de bruxismo (2.2 para esquelética e 1.9 para dental). Sobre isso, li no mesmo livro acima citado sobre  o papel do cirurgião dentista em detectar o paciente respirador bucal e submetê-lo a tratamento, sobretudo aqueles com atresia maxilar.

Além de tudo observado, para chegar e escrever aqui sobre este tema, li alguns artigos recentes sobre o assunto. Destaco aqui um artigo realizado no Brasil pela equipe do departamento de Pediatria e Ortodontia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) publicado em 2009 que avaliou a prevalência e influência dos fatores psicológicos no bruxismo infantil. Eles encontraram uma prevalência de 35.3% mas não encontraarm associação entre bruxismo, estresse ou gênero, idade e condição social. Crianças com algum tipo de neurose  ou muito responsáveis tiveram duas vezes mais chances de apresentar bruxismo do sono.

Resumindo o que li em alguns artigos: faltam artigos com critérios de diagnóstico válidos (se possível com polissonografia) para estudar o bruxismo em crianças, faltam os pesquisadores classificarem melhor o bruxismo (às vezes não sei do que estão falando, sobre bruxismo em vigília, do sono, primário, secundário…) e o papel da respiração parece ser uma linha de pesquisa interessante para mostrar que isso vai além da casualidade, afinal, quantas crianças hoje em dia não apresentam algum tipo de processo alérgico com obstrução nasal, por exemplo?

Alguém quer escrever mais sobre isso? 🙂

Mais sobre bruxismo? Clique aqui.

20 pensamentos sobre “Bruxismo infantil

  1. Olá Juliana, uma amiga me enviou o link desta postagem e confesso que achei muito bom, estou trabalhando com pesquisa sobre bruxismo do sono em crianças e adolescentes e é realmente muito difícil obter certezas nesta área.
    Adorei seu blog, irei acompanhá-la!

  2. E o que fazer em crianças qeu tem bruxismo ha anos? Sou dentista.. Placas flexíveis? Pois a o inconveniente dos dentes estarem em fase de esfoliação na maioria dos casos.

    • Vanessa, em breve vou fazer uma nova postagem com as propostas de tratamento. Mas acho que um ponto primordial é diagnosticar que tipo de bruxismo se apresenta (primário, secundário, do sono, vigília). A partir daí é meio caminho andado, não?

  3. Pingback: OdontofoGUIA! #38 | Medo de Dentista

  4. olá, juliana..como seria o controle em crianças que apresentam o bruxismo devido ao uso de fortes medicações, como os anticonvulcivantes e outras de efeito no sist. nervoso? a criança que acompanho apresenta bruxismo numa alta frequencia por dia!

    • Olá Swellen!
      Veja bem, existe uma classe medicamentosa, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina e noradrenalina que quando do seu uso, em alguns pacientes, pode levar a um bruxismo secundário ao uso desta medicação.
      Entretanto, assim como em adultos, muitas vezes a medicação é necessária. Quando isso acontece no consultório, eu entro em contato com o neurologista e discutimos se há outra alternativa para o tratamento neurológico. Caso contrário, se há danos estruturais, deve-se proteger os dentes com placa de mordida e orientar o paciente quanto ao hábito em vigília. Há outros fatores também, é importante verificar se o bruxismo é mesmo secundário à medicação ou à própria condição clínica (piora ou aparecimento concomitante com medicação ou condição).
      Sobre isso escreverei em breve.
      Abraços

  5. Olá, adorei seu post, muito útil! Mas tenho uma dúvida: uma criança que conheço apresenta um forte bruxismo do sono, mas com a chupeta o sintoma diminui muito. Dessa maneira a mãe resiste muito a suspender o uso da chupeta. Como devo orientar essa família? Obrigada

    • Olá!
      Bem a chupeta não diminui o bruxismo no meu ponto de vista, apenas diminui o contato entre os dentes e assim o barulho.
      Vou falar sobre tratamento em um próximo post mas o que já escrevi, vale para esta criança: ver se o bruxismo é primário ou secundário. Se secundário, eliminar ou controlar as causas. Se primário, aí analisar idade, grau de desgaste e etc… Em breve escreverei sobre isso.
      Abs

  6. Olá, estava procurando sobre bruxismo na infância, principalmente em crianças de 3 a 5 anos, e encontrei seu blog e achei muito interessante. Tenho um filho de 3 anos e meio e estou percebendo a algum tempo que ele range muito os dentes enquanto dorme. Nunca tinha ouvido falar de bruxismo, e uma amiga me falou e resolvi pesquisar sobre o assunto. Gostaria de saber se tem tratamento e como faço esse tratamento??? Desde já agradeço, boa noite!!!

    • Olá Marcela! Vou fazer uma postagem este final de semana sobre tratamento no bruxismo infantil. Peço que aguarde e fique tranquila. Bruxismo é muito comum na infância. Se seu filho tiver algum problema respiratório (rinite, bronquite, asma, sinusite) ou estiver resfriado, uma dica é controlar estes fatores, ou seja, consultar um otorrino, pois o bruxismo pode ser secundário à estes problemas, o que é comum na infância.
      Semana que vem não deixe de visitar o blog! Abraços

      • Olá Juliana como esta?a pouco descobrir o teu blog pois já a algum tempo ando preocupado com a minha filha Beatriz,ela tem 5 anos e já a algum tempo notei ranger os dentes durante toda noite.E verdade que se tem algo relacionado a mãe também o faz, como trata se povos de outra cultura eles não se importa a mínima para o assunto ao ponto que vou lhe pedir que se possível de me uma dica pois dia 24/09 volto ao pediatra e quero abordar o assunto outra vez”o mesmo já me disse que é super comum e que depois desaparece..
        A bia está nu pós operatório de otite média com derrame bilateral e hipertrofia dos adenoides.Fez uma miringotomia bilateral com aspiração colocaram tubos de shepard,mais a adenoidectomia com cureta de Backman.
        Grato
        Ademar lima,lisboa 13/09/2012

      • Ademar, o bruxismo infantil pode ou não estar relacionado aos problemas respiratórios. Procure conversar com o pediatra para que estes sejam solucionados. Procure também um dentista para que este avalie se o bruxismo provocou ou não algum dano às estruturas dentárias.
        Abraços

  7. A doutora deve ser daquelas pessoa quais quase já não existe, que Deus a abençoe.e farei com certeza!

  8. Oi Juliana então vim ler o artigo pois, o meu filho de 3 anos esta tendo bruxismo dormindo como estou dormindo com ele na minha cama vejo… que desespero… o pai teve e fez tratamento quase perdeu os dentes pois não sabia descobriu ao ir fazer um tratamento dentario.
    Mas infelizmente o meu filho teve 3 confulsões, sendo uma completa com todos os efeitos e as outras duas ele ficou com o olhar diferente e não estava respondendo mais a gente e na ultima ele rangeu os dentes.
    Ele esta passando com a neuro e estamos em fase de exames. Gostei do seu artigo. Obrigada agora é ir atras de um tratamento.

  9. Profª Juliana, algumas crianças que chupam o dedo,chupeta,range os dentes, principalmente,estes hábitos parafuncionais podem serem causados pela ausência
    frequentos dos pais no seu convívio?

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