Pacientes associam bruxismo a DTM?

Já escrevi neste blog sobre a relação DTM e Bruxismo. Associar estas duas condições implica em acreditarmos que reduzindo eventos de bruxismo, reduziremos sintomas relacionados à DTM. Entretanto, como já escrevi, esta associação ainda não foi comprovada pela literatura.

Se para nós, cirurgiões dentistas, a afirmação da associação entre bruxismo e DTM é tão sugestiva, como seria então para os pacientes?

Estou aqui colocando minha leitura em dia e encontrei no último número da revista Journal Orofacial Pain, foi publicado por van der Meulen e colaboradores (Holanda) um artigo bem interessante sobre isso. O artigo inicia abordando um tema citado aqui no blog na postagem sobre placebo e nocebo: o sucesso de uma modalidade terapêutica depende da motivação do paciente.

A motivação do paciente depende em parte do que ele acredita ser verdadeiro. As crenças dos pacientes (illness beliefs – não achei uma tradução que eu gostasse para este termo!) podem ajudar ou atrapalhar. Pode ajudar quando o paciente encara e controla a doença ou atrapalhar quando ocorre uma discrepância entre o que o paciente e o clínico acreditam. A figura traz as dimensões que influenciam nesta crença.

Sabemos que hoje tratamentos conservadores, reversíveis são os propostos no tratamento da DTM, entre eles a redução de hábitos parafuncionais com controle realizado pelo paciente. Com isso, relatam os autores que a aceitação por parte do paciente de que a hiperatividade muscular mandibular está associada à sintomatologia da DTM pode se tornar necessária. Não só os pacientes devem incorporar a afirmação de que este comportamento é deletério como também devem saber avaliar sua capacidade de mudar de forma positiva. Neste trabalho os autores propuseram examinar pacientes com DTM com relação às suas crenças sobre sua condição e auto controle em relação ao bruxismo, bem como examinar se estas crenças estavam associadas com a frequencia do relato de bruxismo fornecido pelo paciente.

Os resultados mostraram que enquanto a maioria dos pacientes acreditava que o bruxismo era causa da sintomatologia da DTM,  embora mais de um terço dos pacientes não associavam seus sintomas de DTM com bruxismo. Quanto mais frequente o bruxismo, mais forte era a associação com os sintomas de DTM. O otimismo com relação ao auto controle da parafunção estava presente, entretanto não era predominante naqueles que relatavam maior frequencia de bruxismo (e também maior associação mais forte com DTM). Estes se mostraram mais pessimistas…

Claro que o fato de usar pacientes que relatam o bruxismo traz um viés importante ao estudo, mas traz também um ponto importante a ser reforçado: devemos conhecer e discutir as crenças dos pacientes antes do tratamento, para que a adesão do paciente seja maior.

Estudo simples, mas interessante!

Para ler o resumo do trabalho: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21197508

Abraços!