Efeito placebo

Comecei a pensar nesta postagem há cerca de 15 dias quando li um artigo de março de 2007 publicado na revista Pain Clinial Uptades, uma publicação da IASP, uma revisão sobre efeito placebo e efeito nocebo.

Este artigo é bem resumido e direto ao explicar ambos os efeitos, mostrando que nos últimos 10 anos os avanços na metodologia e tecnologia da pesquisa começaram a elucidar as repostas psicobiológicas à administração do placebo, e mostrando que não há apenas uma resposta e sim várias. Mas ainda muita pesquisa deve ser realizada para entender melhor estes mecanismos e utilizar o efeito placebo a favor na clínica. Quando li esta frase me lembrei imediatamente do Dr. Speciali, que em um dia de ambulatório conversava com os residentes enfatizando que o efeito placebo deve jogar a favor dos profissionais da saúde.

O contrário do efeito placebo seria o efeito nocebo, o que ainda foi pouco investigado, principalmente por problemas éticos que limita as pesquisas para este fim, afinal, este efeito se mostra desfavorável ao paciente.

Mas voltando a falar sobre efeito placebo, os processos mais estudados e detalhados dentro deste efeito seriam o condicionamento e a expectativa.

É sobre a expectativa do paciente com relação ao tratamento que gostaria de refletir um pouco. Ao ler o texto pude comprovar que já me deparei com esta situação muitas vezes na prática clínica. Como relatam os autores, a expectativa é uma ferramenta poderosa para se obter o efeito placebo.

Eu percebo isso claramente quando o paciente chega ao atendimento com uma ideia prévia do que pode solucionar sua dor. O exemplo mais recente que tenho em mente é de uma paciente jovem, com dor muscular local em masseter (mialgia local), associada a apertamento em vigília. Introduzi uma terapia com orientações básicas, termoterapia, massagem, na qual sempre obtenho sucesso. Mas neste caso em particular a paciente desde o primeiro momento me questionava sobre a placa de mordida. Por mais que eu argumentasse que não haveria necessidade deste procedimento naquele momento, a paciente não se conformava. No retorno, houve melhora na palpação e função mandibular mas a paciente ainda não estava satisfeita, afinal estava condicionada por parentes e vizinhos que somente a placa traria uma melhora total. Depois do terceiro retorno cedi à sua vontade e nem preciso relatar aqui que a melhora em uma semana foi espetacular. Mas vem cá, o que realmente fez efeito? Isso se repete com vários pacientes, seja com placa, seja com medicação e até mesmo pedido de exames de imagens. Claro que a ideia não é ceder à todas as vontades dos pacientes, afinal de contas, é o profissional da saúde que está no comando do tratamento, é ele também que deve informar ao seu paciente o que há de melhor para seu tratamento, o que é realmente comprovado e executar o tratamento com o máximo de bom senso. Este caso que relatei é excessão e não regra.

“Pessoas com alta expectativa com relação à analgesia necessitam de menores doses de medicamentos analgésicos…”

Outro ponto citado no texto é o relacionamento profissional-paciente que podem influenciar este efeito de várias formas como os efeitos emocionais gerados pela simpatia do paciente com o profissional e até a forma com que é explicado o problema clínico ou a posologia da medicação ao paciente.

Sugiro que leiam o texto! Segue o link para o download: http://www.iasp-pain.org/AM/AMTemplate.cfm?Section=Home&TEMPLATE=/CM/ContentDisplay.cfm&CONTENTID=7623

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Abraços a todos e bom feriado!

P.S.: Algumas curiosidades :

1. Ao fazer a postagem sempre busco imagens para “decorar” o blog. Adorei o site de cartoons! rs… segue abaixo dos de placebo!

2. Achei vários sites cujo tema é terapias onde o efeito é placebo mas o que mais me assustou é a terapia que utiliza velas para remover resíduos da orelha (inclusive relatam resíduos emocionais). Não conhece? Clica aqui.

3. Tem gente lucrando vendendo pastilhas de efeito placebo! O lema do site é experimente o efeito placebo em você. 15 dólares o vidrinho! Veja aqui.

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9 pensamentos sobre “Efeito placebo

  1. Ola Ju, a própria disfunção é intimamente ligada ao achar…
    Como o diagnóstico é estemamente limitado ao especialista em disfunção, pois os outros profissionais estipularam a resolução do problema com uso de placas, tudo se torna complexo….
    em experiência clínica observo variâncias entre diagnósticos, muitas vezes corretos, mas com tratamentos que deixam o paciente incertos.
    Paciente que sofre de dor continua e aguda não conseguem dissernir sobre o que é, eo que não é!
    Cabe a nós colocarmos a certeza na primeira consulta. Um ponto certo, o rumo. difícil pra caramba. e poucos pacientes querem pagar por isso. Diferença que resulta no preço da consulta de cada um de nós. O pior que tem muito clínico que satisfaz com explicações na primeira consulta, geralmente de graça….
    Adimiro imensamente sua dedicação a disfunção…. |ingratamente os pacientas não reconhece esse grande CONHECIMENTO!!!

    Meu grande abraço

    Guilherme Montenegro

  2. Placebos…. Sempre um assunto em evidência e controverso… pena que os comitês de ética não gostam de ler o lemos e estudamos.
    Jú, vou te enviar por mail um artigo de 2003 sobre placebo e Pesquisa em Migrânea. Interesting!! Adorei os cartoons!!

  3. Pingback: Pacientes associam bruxismo a DTM? « Por dentro da Dor Orofacial

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