Odontologia “metafísica”

Hoje no blog o texto não é meu! Pedi ao meu querido amigo Yuri Martins Costa para que escrevesse um pouquinho sobre um dos artigos gerados de sua pesquisa de mestrado, que tem como co-autores André Porporatti, eu, Prof. Leonardo Bonjardim e Prof. Paulo Conti.

O Yuri, para quem ainda não conhece, é meu colega no doutorado em Ciências Odontológicas da Faculdade de Odontologia de Bauru – USP, orientado também pelo Prof. Paulo Conti. Fazemos parte do Bauru Orofacial Pain Group!

Atualmente o Yuri está passando uma temporada na Dinamarca , na Universidade de Aarhus,  em um dos maiores laboratórios de Dor Orofacial e Função Mastigatória, coordenado pelo Prof. Peter Svensson e com participação da professora Lene Baad-Hansen.

Yuri, muito obrigada pelo texto, ensinamentos e  parceria de sempre! 🙂

Segue o texto! Boa leitura!

Captura de Tela 2015-03-19 às 09.41.04

Prof. Yuri Martins Costa

Uma das principais razões do meu entusiasmo pela área da Dor Orofacial é que a conduta clínica nessa especialidade se difere substancialmente das áreas mais tradicionais da Odontologia. E uma das diferenças que me chama bastante atenção é o fato de que quando lidamos com pacientes com dor crônica, raramente tratamos “apenas” sinas e sintomas físicos. A própria natureza do problema nos força a ir além do que podemos objetivamente medir ou perceber de imediato. Nesse contexto, nosso artigo recém publicado na Archives of Oral Biology procurou pesquisar um pouco mais sobre essa questão e apresenta dados que evidenciam um efeito positivo importante de terapias comumente utilizadas para tratar a dor miofascial mastigatória em variáveis que a priori não fazem parte do alvo primário dessas terapias: ansiedade, depressão e catastrofização. Apesar de parecer óbvio que terapias focadas no controle da dor também tenham “efeitos colaterais” em outros aspectos que estão intimamente relacionados, como os citados acima, ainda faltavam evidências dentro da nossa área para legitimar essa hipótese, principalmente em relação ao uso das placas oclusais. E esse foi o grande objetivo de nosso estudo: medir e comparar o efeito adicional do uso da placa oclusal na melhora de variáveis psicológicas em pacientes com queixa principal de dor miofascial mastigatória.

O desenho do estudo foi o mais rigoroso possível para pesquisas que envolvem terapias: ensaio clínico randomizado. Um grupo recebeu tratamento que envolveu apenas orientações sobre a doença e para mudança de hábitos enquanto que o segundo grupo foi tratado com essas mesmas orientações mais o uso de placa oclusal estabilizadora. Os resultados mais interessantes foram que ambas as terapias amenizaram o grau de catastrofização dos pacientes depois de 5 meses, embora um efeito positivo foi obtido já no 2o mês de tratamento para o grupo tratado com placa oclusal. Além disso, apenas esse grupo (orientações + placa oclusal) teve uma redução significativa nos sintomas de ansiedade e depressão após 5 meses.

Segundo nossa opinião, os destaques de nosso trabalho são que as terapias minimamente invasivas usadas para tratar a dor miofascial mastigatória parecem ser efetivas para a melhora de variáveis psicológicas e que a placa oclusal pode oferecer um efeito adicional que consiste principalmente em acelerar o aparecimento desses efeitos benéficos. Com isso, a mensagem que gostaríamos de deixar é que cresce constantemente a quantidade de evidências que apontam para efeitos terapêuticos das placas oclusais que vão além da correção ou melhora dos aspectos mecânicos de arranjo oclusal/equilíbrio muscular e envolvem, pelo menos indiretamente, características psicológicas e comportamentais e, por isso, sendo um pouco amplo na definição e com certa dose de exagero proposital, podem ser considerados “efeitos metafísicos”. Obviamente esse assunto precisa ser discutido de uma forma muito mais profunda e, justamente por esse motivo, convido a todos que se interessam pelo tema para fazer o download gratuito do artigo (apenas até o dia 29 de Abril de 2015), lerem, criticarem, debaterem e construírem suas próprias conclusões.

Link para o artigo: http://goo.gl/OKNMwT

Publicidade

Bloqueio da dor inflamatória

Saiu em todos os canais de jornalismo científico: os cientistas brasileiros da Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto descobriram que uma proteína, a fractalcina, está envolvida na indução das dores crônicas de origem inflamatória. O estudo sugere que o bloqueio periférico dos receptores dessa proteína é o alvo potencial para o controle desses tipos de dores.

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado em junho na revista Proceedings of the National Academy of Science. Os autores são os professores Sérgio Henrique Ferreira e Thiago Mattar Cunha, o pós-doutor Guilherme Rabelo de Souza e o pós-graduando Jhimmy Talbot, todos do Departamento de Farmacologia da FMRP.

Para quem deseja ler mais sobre dor, o pessoal do departamento de Farmacologia da FMRP-USP mantém um um excelente site, o DOL – Dor on Line  que já comentei aqui no blog. Agora eles estão com uma página no facebook também!

Sem tempo de mais comentários, deixo vocês com a reportagem da Agência Fapesp:

Uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP) pode ajudar na elaboração de medicamentos para o controle de dores inflamatórias, como as que acompanham a artrite reumatoide.

Segundo a FMRP-USP, os cientistas descobriram que uma proteína, a fractalcina, está envolvida na indução das dores crônicas de origem inflamatória. O estudo sugere que o bloqueio periférico dos receptores dessa proteína é o alvo potencial para o controle desses tipos de dores.

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado em junho na revista Proceedings of the National Academy of Science. Os autores são os professores Sérgio Henrique Ferreira e Thiago Mattar Cunha, o pós-doutor Guilherme Rabelo de Souza e o pós-graduando Jhimmy Talbot, todos do Departamento de Farmacologia da FMRP.

De acordo com Cunha, pela primeira vez conseguiu-se demonstrar a existência de um tipo celular que participa do processo de indução e manutenção da dor: são as chamadas células satélites.

Encontradas exclusivamente nos gânglios raízes dorsais, as células satélites envolvem os neurônios que carregam a dor e têm sua ativação mediada por uma proteína, a fractalcina. Essa proteína já havia sido descrita em processos dolorosos, mas nenhum estudo a tinha associado com a ativação da célula satélite.

“Se conseguirmos desenvolver um medicamento que bloqueie esse processo, podemos diminuir a dor. Sabemos que há indústrias farmacêuticas tentando desenvolver substâncias para bloquear o efeito dessa proteína. Talvez essas drogas possam servir como novos analgésicos contra dores inflamatórias”, disse Cunha.

A doença mais prevalente entre as doenças inflamatórias e que tem como principal sintoma a dor é a artrite reumatoide. No entanto, Cunha lembra que a pesquisa pode contribuir para, num futuro próximo, amenizar dores de pessoas que sofrem com osteoartrite, gota, doenças reumáticas em geral, além de traumas cirúrgicos e torções.

O artigo Fractalkine mediates inflammatory pain through activation of satellite glial cells(doi:10.1073/pnas.1307445110), de Guilherme Souza e outros, pode ser lido por assinantes da PNASem www.pnas.org/content/110/27/11193.abstract.

Sensibilização central

Estou cá eu revisando alguns trabalhos para o artigo que estou escrevendo quando me deparo com um trabalho escrito em 2010 por Nijs e colaboradores e publicado em uma revista chamada Manual Therapy.

O artigo chamou minha atenção porque trata de um assunto que abordei muito por cima na postagem sobre alodínia aqui no blog: sensibilização central. Mas não é só definição e fisiopatologia, os autores realizaram uma revisão de literatura para mostrar aos profissionais a importância de se reconhecer a presença de sensibilização central e como realizar este reconhecimento em seus pacientes com dor musculoesquelética.

Conhecer e entender isso é importante porque a sensibilização central é o que praticamente separa um paciente com dor aguda de um com dor crônica.

Ocorre um aumento da atividade aferente, o que leva a um aumento da resposta dos neurônios localizados no sistema nervoso central (SNC) seja na medula ou, no caso da dor orofacial, no subnúcleo caudal do nervo trigêmeo localizado no tronco encefálico.

Com este processo há uma facilitação da passagem do sinal que virá depois a ser reconhecido como dor.

Imagine agora que a modulação da dor (que está ali para equilibrar os sinais) está prejudicada, defasada, cansada e simplesmente não atua. O quadro está montado: dor crônica.

Lógico que expliquei da maneira mais simples possível. É preciso estudar mais este processo. E por que? Oras, todo mundo quer tratar seus pacientes da melhor maneira. Conhecer os passos, e saber de que forma é possível revertê-los, é necessário para o controle da dor!

Mas voltando aqui ao trabalho, os autores então relatam que é preciso ao profissional primeiro ouvir o paciente. Existem condições como fibromialgia, síndrome da fadiga crônica e síndrome do intestino irritável onde a sensibilização central é característica da condição. Como diagnosticar sem conhecer, não é mesmo? Outras condições como a cefaleia, a disfunção temporomandibular (DTM), osteoartrite, dor lombar, etc, a sensibilização central pode fazer parte de um subgrupo de condições.

Os sintomas são os mais variados possíveis, mas em uma tabela os autores expõem alguns mais frequentemente citados pelos pacientes (tabela abaixo).

Cabe aqui dizer que pode-se usar aquele questionário sobre alodínia que citei em outra postagem.

SINTOMAS SC.001

Sintomas relacionados a presença de sensibilização central

Os autores escreveram também sobre os testes sensoriais que podem ser realizados e propuseram até um fluxograma para a identificação da sensibilização nos pacientes.

Quer saber mais sobre isso, olha a boa notícia, o artigo está disponível online! É só clicar: http://www.manuellterapi.net/intern/images/stories/pdf/recognition%20of%20central.pdf

 

Bem, agora acho que volto aqui só depois do carnaval!

Aproveitem para cair no samba! 🙂

Bom carnaval!

 

 

Vídeos sobre neuroanatomia

Passeando pelo Facebook hoje (já curtiu? www.facebook.com/dororofacial) encontrei duas postagens do colega Sérgio Terçarolli com vídeos sobre anatomia do nervo trigêmeo.

Achei-os muito didáticos e bem feitos! Vou colocar já na aula de neurofisiologia da dor!

Para começar o ano, que tal começar do básico? É dever conhecer o nervo trigêmeo! 😉

Obrigada Sérgio!

Abaixo link para os vídeos:

https://www.youtube.com/watch?v=w-wim7JvT_o

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=E8RrN0LWBbg#!

Dor crônica: múltiplos fatores

Quem pensa  no controle da dor somente em problemas mecânicos ou anatômicos (vide oclusão dentária) quando se trata de dor por Disfunção Temporomandibular (DTM) não imagina o quanto outros fatores estão envolvidos na gênese e mantenção desta dor, especialmente da dor crônica.

Estou preparando mais uma aula sobre neurofisiologia da dor e acrescentando tópicos que vi em Milão (placebo, nocebo) e achei interessante compartilhar com vocês este slide que trata da percepção da dor e o quais fatores atuam em sua modulação.

Catastrofização, hipervigilância, placebo, nocebo, crenças, expectativas… Conceitos que devemos incorporar aos que já exaustivamente estudamos em dor crônica.

Ao seu tempo, vou procurar trazer este assunto a tona aqui no Por Dentro da Dor Orofacial! Por agora segue o slide para reflexão! 🙂

Placebo, nocebo e a relação entre profissional e paciente

Um dos workshops que mais gostei no congresso da IASP foi um sobre placebo e nocebo (Placebo Analgesia and Nocebo Hyperalgesia: From Bench to Bed). A sala estava lotadíssima! Eu assisti às palestras em pé.

 

Não me admira o interesse dos profissionais da saúde neste assunto. Hoje sabemos que nenhuma terapia voltada para a dor é 100% eficaz. Se podemos contar com os efeitos benéficos do placebo, por que não conhecê-lo? Se podemos evitar os efeitos nocebo, por que não fazê-lo?

Já escrevi algumas vezes no blog sobre placebo e nocebo, crenças dos pacientes e a relação profissional e paciente. E estava pensando mais uma vez nestes assuntos e no que vi nas aulas durante o Congresso Mundial de Dor em Milão, quando me deparei com um texto publicado no jornal Folha de São Paulo de autoria do médico e mestre em filosofia Luiz Roberto Londres. Este texto foi indicado pelo amigo José Luiz Peixoto Filho na comunidade de DTM e Dor Orofacial do Facebook. Estranhei os poucos “curti”e comentários. Acho que este assunto, bem como a questão da solicitação indevida de exames complementares, citada também na mesma postagem, são atuais e deveriam ser assuntos debatidos não só pela classe médica, mas por todos profissionais da saúde!

Mas por que linkei um assunto (placebo, nocebo) a outro (texto publicado na Folha)?

Bem, primeiro convido a todos para ler o texto:

Tendências/Debates: Médicos que não querem conversa

LUIZ ROBERTO LONDRES

Durante minha formação, tive o privilégio de conviver com Danilo Perestrello, autor de “A Medicina da Pessoa” (Atheneu). Vinham ao consultório não só pessoas doentes, mas pessoas que se sentiam doentes.

Um dia, em conversa com meu pai, cardiologista cujos passos segui, comentei que metade dos meus atendimentos eram de pessoas sem doença física. Ele retrucou: “Só metade? Você deve estar adoecendo alguns”.

Em inúmeros casos, a simples conversa resolvia a “doença”. Muitos saíam da consulta sem solicitação de exames ou receitas. Em nova consulta, estavam totalmente “curados”.

Na medicina atual, aos poucos a pessoa foi reduzida à condição de doente. Não mais interessava sua vida, história, personalidade ou situação psicológica e social, apenas os sintomas no momento da consulta. A anamnese, entrevista inicial com o paciente, passou a se limitar aos dados da doença apresentada. A alteração biológica passa a ser tudo.

Na medicina atual, não se leva em conta características específicas de cada paciente, que podem determinar se o tratamento indicado deve ser administrado. Um exemplo gritante é aplicação de cirurgias ou tratamentos agressivos, tantas vezes extremamente dispendiosos, a idosos que provavelmente faleceriam de outras causas antes que a doença em questão levasse ao óbito.

Médicos se sentem oprimidos em relação ao tempo que podem dispensar a uma consulta e perderam o espírito crítico em relação ao valor da anamnese –que, segundo Howard Barrows, da Universidade de Southern Illinois, dá ao bom médico 90% de chance de diagnóstico certo.

Deixamos de lado os princípios médicos para atender volume. Recém-formado, fui colocado em um ambulatório com uma lista de 40 pacientes para serem atendidos em quatro horas. Atendi como deveria e, ao final do meu tempo, havia atendido por volta de 15. No dia seguinte, fui chamado à diretoria do hospital, que questionava minha conduta. Médicos não têm de atender filas, têm de atender pacientes.

Na nossa época de estudantes, aprendíamos que exames serviam para confirmar ou não o diagnóstico e quantificar alguns parâmetros. Hoje, isso foi esquecido. Além disso, médicos se fiam em laudos de colegas que não conhecem, sem avaliar o grau de sua capacidade médica.

Com esse reducionismo, o médico é cada vez mais dispensável, podendo ser substituído por computadores.

Fonte: Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1150563-tendenciasdebates-medicos-que-nao-querem-conversa.shtml

Durante uma das aulas do workshop a palestrante, ao falar do efeito Nocebo, erlatou que nos Estados Unidos 50% dos pacientes saem de uma consulta médica sem compreender adequadamente o que o profissional lhe falou. Isso influi drasticamente no tratamento a ser realizado neste paciente. Parece tão óbvio e absurdo mas vejo isso se repetir várias vezes na especialidade de DTM e Dor Orofacial. Quando atendo pacientes refratários, que me relatam procurar meu atendimento por ter “ATM” e já terem sido submetidos a outros tratamentos, a primeira coisa que faço é perguntar se ele sabe o que é ATM e o que é DTM, se sabe o seu diagnóstico (qual tipo de DTM) e se sabe porque foram realizados os procedimentos no qual foi submetido anteriormente (sejam eles qual forem). A resposta muitas vezes é um ponto de interrogação!

Explicar ao paciente tudo nos mínimos detalhes (claro em linguagem compreensível) leva tempo mas triplica a chance de sucesso do procedimento!

E isso já foi testado!

Na mesma palestra um experimento simples demostrou a necessidade do conhecimento por parte do paciente da terapia que lhe é sugerida. O efeito placebo é representado experimentalmente pela diferença entre o efeito analgésico de uma terapia antes e após procedimentos denominados open (com expectativa e demonstrado) e hidden (sem expectativa, oculto). No uso de antinflamatórios, mostrar a medicação que está sendo aplicada no paciente praticamente dobra o efeito analgésico! Interessante também relatar o estudo com pacientes com a Doença de Alzheimer onde o comprometimento de áreas cerebrais com papel importante na cognição influencia diretamente no resultado das terapias analgésicas.

Isso se aplica a todas as terapias voltadas para a dor, em todas as áreas.

Assim, converse com o seu paciente, explique exatamente o que, por que e como!

Termino com os dizeres de um dos slides apresentados:

4 dicas retiradas do artigo: Nocebo effects, patient-clinician communication, and therapeutic outcomes de Colloca e Finnissis publicado em fevereiro no jornal JAMA (para ler o texto completo, clique aqui):

1. Reformule como você divulgará o procedimento

2. Eduque tanto pacientes como clínicos sobre o detrimento do efeito nocebo

3. Dedique tempo adequado para conhecer as expectativas e perspectivas do paciente

4. Faça uma adequação na forma de explicar às necessidades do paciente

Não percam o próximo congresso da IASP! Será em 2014 e em Buenos Aires.

Eu e o poster (se não é ele não dava para ir a Milão, rs…)

 

 

5 perguntas sobre Dor Orofacial para… Professor Peter Svensson

Na primeira semana de maio o Professor Peter Svensson esteve na Faculdade de Odontologia de Bauru – USP, a convite do professor Paulo Conti, para ministrar a disciplina Dores Orofaciais para os alunos da pós- graduação. E graças ao professor Conti, eu, a Ana Lotaif e o José Luiz Peixoto Filho pudemos participar como alunos convidados. Obrigada, Conti!!!

Peter Svensson é professor da Universidade de Aarhus, Dinamarca, onde é chefe da disciplina de Fisiologia Oral na Faculdade de Odontologia e também integra o MINDLab, Centro de Neurociências Integrativa Funcional no Hospital Universitário. Também, é editor chefe do Journal Oral Rehabilitation e presidente do consórcio internacional do Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC/TMD) de 2010 até 2013.

Foi uma semana extremamente gratificante, quando nós pudemos aproveitar palestras muito interessantes e confirmar tanto a experiência em pesquisas quanto a capacidade de ensino do Professor Svensson. Os tópicos apresentados foram sobre os mecanismos das DOF, uma atualização sobre Bruxismo e Dor Orofacial Neuropática, e o processo evolutivo do DC/TMD. Espero de coração que este seja apenas um primeiro encontro!

Voltando de Bauru, o José Luiz teve a idéia de iniciar aqui no blog uma série de entrevistas sobre DTM e Dor Orofacial, com pessoas envolvidas em atividade clínica, ensino e pesquisa nessa área, as “5 perguntas para…”, e nós estamos muito orgulhosos de iniciar com o Professor Peter Svensson.

E lá vamos para a primeira!

On the first week of May, Professor Peter Svensson was at the Dental School of Bauru – USP, invited by Professor Paulo Conti, to present lectures on Orofacial Pain to post-graduate students. And thanks to Professor Conti, I, Ana Lotaif and José Luiz Peixoto Filho could atend as invited students. Thank you, Conti !!!

Peter Svensson is professor at the University of Aarhus School of Dentistry division of Clinical Oral Physiology, and holds an appointment at the University Hospital in the MindLab (Functional Integrative Neuroscience Center). Also, he is the chief editor of the Journal of Oral Rehabilitation and president of the International Consortium – Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC / TMD) – from 2010 to 2013.

 It was an extremely rewarding week, and we could enjoy very interesting lectures and confirm the experience on research and teaching skills of Professor Svensson. The topics presented were a review on Orofacial Pain mechanisms, an update on Bruxism and Orofacial Neurophatic Pain, and the evolving process of the DC / TMD. I hope with my heart that we can meet again in the future!

Back from Bauru, José Luiz had the idea to start in the blog a series of interviews on TMD and Orofacial Pain with people involved in clinical, teaching and research in this area, the “5 questions to…”, and we are very proud to start it with Professor Peter Svensson.

And here we go!

5 perguntas para Peter Svensson – 5 questions to Peter Svensson

1) Como é o ensino do tema Dor Orofacial e DTM em seu país?

How is the Orofacial Pain and TMD teaching in Denmark? Do dental students have it as a regular discipline? Is OFP/DTM a recognized specialty in Dentistry at your country?

Na Dinamarca os alunos de Odontologia tem 2 anos de formação em Fisiologia Oral, que abrange as DTM e a Dor Orofacial (DOF). Assim, eles aprendem a avaliar, diagnosticar e tratar esses pacientes. Infelizmente, não existe oficialmente a especialidade de DTM e DOF na Dinamarca, mas atualmente estamos trabalhando junto ao Conselho Nacional de Saúde para ver se conseguimos ter mais especialidades odontológicas na Dinamarca (atualmente existem apenas duas especialidades oficializadas: a Ortodontia e a Cirurgia Buco-Maxilo-Facial). Isso faz com que os Dentistas clínicos sejam capacitados a diagnosticar e tratar os tipos mais comuns de DTM e DOF – e também saber quando e como encaminhar pacientes, por exemplo, ao nosso departamento.

Dental students in DK have 2 years of training with oral physiology which covers TMD / OFP. So they get to see and diagnose and treat patients. Unfortunately, there is no official specialty in OFP in DK but we are currently working with the National Board of Health to see if we can manage to get more specialities in DK (only 2 officials: ortho – and oral and maxillofacial surgery).This also demands that “normal” dentists can diagnose and treat the most common types of OFP and TMD – and know when and how to refer to e.g. our department.


2) Que áreas lhe despertam interesse em pesquisas atualmente?

What are your present research interests in the OFP/TMD area?

Estou muito interessado na plasticidade do córtex cerebral e na importância do cérebro na regulação da dor. Também em termos dos efeitos do treinamento, o cérebro é extremamente envolvido e importante. Ainda, existe um amplo leque de pesquisas que vão desde o estabelecimento de perfis somatossensoriais de diferentes condições de Dor Orofacial até o emprego de vários tipos de técnicas de eletrofisiologia (estudos de EMG / reflexos / mastigação / e condução nervosa). Nós gostamos de ter uma abordagem experimental e também clínica no estudo das DOF. O principal objetivo é aprender mais sobre os seus mecanismos para ajudar a melhorar o seu diagnóstico e tratamento.

I am very interested in cortical plasticity and the importance of the brain in the regulation of pain. Also in terms of training effects the brain is extremely involved and important. Otherwise there is a wide span of research from somatosensory profiling in different OFP conditions to various types of electrophysiology (EMG / reflexes / mastication / nerve conduction studies). We like to take an experimental but obviously also clinical approach to the study of OFP. The main goal is to learn more about mechanisms to help improve diagnosis and management.

3) Testes Quantitativos Sensoriais (TQS – QST): instrumento de pesquisa com possível aplicação clínica? Por favor comente.

Is QST a research instrument with clinical application? Please comment on that for us.

TQS (QST) é uma técnica maravilhosa, mas requer habilidade, diretrizes e um laboratório bem equipado. Portanto, há uma necessidade de se desenvolver técnicas mais simples,”semi”-quantitativas, porém confiáveis e válidas e que possam ser utilizadas no ambiente clínico odontológico. Acredito que o estabelecimento de perfis somatossensoriais é uma forma muito útil para caracterizar o fenótipo dos pacientes – e que este conhecimento pode levar ao desenvolvimento de tratamentos específicos, por exemplo, não apenas para tratar uma condição de DOF específica, mas para tratar uma condição de DOF específica com um perfil somatosensorial específico (por exemplo, uma que apresente alodinia mecânica dinâmica e uma outra que apresenta alodínia térmica).

QST is a wonderful technique but requires skill, guidelines and a well-equipped lab. So there is a need to develop more simple but reliable and valid “semi”-quantitative techniques that can be used chair-side. I believe somatosensory profiling is a very useful way to characterize the endophenotype of the patients – and that this may develop into specific management, e.g., not just to treat a specific OFP condition but to treat a specific OFP condition with a specific somatosensory profile (e.g dynamic mechanical allodynia vs warmth allodynia).

4) Como é sua participação no CONSORTIUM e o novo DC-RDC?

Tell us briefly about your participation in CONSORTIUM and the new DC-RDC.

Eu sou o atual diretor do projeto RDC / TMD e estamos trabalhando no novo DC/TMD (Schiffman et al. – a ser publicado na JADA ainda este ano). Foi um longo processo que contou com a ajuda de muitas pessoas. Acredito que o novo DC/TMD será mais fácil de usar e, naturalmente, fornecer uma medida direta de validade. Por isso, deverá ajudar tanto os clínicos quanto pesquisadores. É muito importante que nós tenhamos uma linguagem “comum” para o diagnóstico das DTM – e é aí que o DC / TMD realmente tem a sua importância. Vou incentivar as pessoas a aderirem ao projeto do DC-RDC/TMD e participarem da sua emocionante evolução – que eventualmente levará a um RDC inteiro para as DOF.

I am the current director of the RDC/TMD consortium and we are working on the new DC/TMD (Schiffman et al. – to be published in JADA – later this year). It has been a long process with the input and help from many people. I believe that the new DC/TMD will be easier to use and of course provide a direct measure of validity. So it should help both clinicians and researchers. It is so important that we have a “common” language in the diagnosis of TMDs – and this is where the DC/TMD really has its importance. I will encourage people to join the RDC/TMD consortium and take part in the exciting developments – that will eventually lead to an entire RDC for orofacial pain.
5. Quais foram suas impressões pessoais sobre as pesquisas em andamento pela equipe de estudantes coordenada pelo professor Paulo Conti na Faculdade de Odontologia de Bauru?

What were your personal impressions with the ongoing researches done by Paulo Conti’s students at Bauru School of Dentistry?

Fiquei extremamente impressionado com os muitos projetos de pesquisa, de alta qualidade e relevantes, apresentados durante a semana. Eles trarão uma boa e duradoura contribuição para o campo das DOF. Além disso, todos os apresentadores fizeram um trabalho muito bom em apresentar e discutir seus projetos em Inglês. Eu não tenho dúvidas que a pesquisa de Dor Orofacial no Brasil está avançando rapidamente – e ajudará a guiar o desenvolvimento clínico também. Estou ansioso para colaborar em alguns dos projetos no futuro!

I have been extremely impressed by the many and high-quality and relevant research projects presented during the week. They will all make good and lasting contributions to the field. Also, all presenters did an extremely good job in presenting and discussing their projects in English. I am not in doubt the OFP research in Brazil is moving fast forward – and will help to guide the clinical development as well. I am looking forward to collaborate on some of the projects in the future!

Obrigada a Ana Cristina Lotaif e ao José Luiz Peixoto Filho pela colaboração nesta postagem!

Esta entrevista também estará disponível no site www.dtmedor.com.br

Vídeo sobre terapia com placebo

Hoje pela manhã recebi um email do meu amigo e mestre Márcio Bittencourt sobre um blog fantástico de neurociências, de um psicólogo, Dr. Shock.

Passeando pelo blog encontrei uma postagem sobre efeito placebo com um vídeo fantástico! Assistam! Altamente recomendado!

Bem, esta semana o ritmo é de ansiedade! Se há algo no mundo que espero todo ano é o carnaval! Isso mesmo, vamos sambar e esquecer da dor! Agora é só planejamento da fantasia! 🙂

———————————————————-

Atualização!

O colega José Luiz Peixoto Filho deixou nos comentários o link para a versão legendada para o português do vídeo acima! Quem preferir está logo abaixo.

Obrigada José Luiz!!! 🙂

Quem fez a legenda do vídeo foi Felipe Epaminondas, mestre em psicologia e especialista em psicopatologia pela PUC-GO e professor do ILES/ULBRA de Itumbiara e da pós-graduação na PUC-GO.

O blog dele é: http://scienceblogs.com.br/psicologico/

Alodínia em pacientes com migrânea e DTM

A equipe do curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto sempre traz resultados de pesquisa interessantes sobre a relação Disfunção Temporomandibular (DTM) e Cefaleias.

Um dos trabalhos que ganhou prêmio durante o V Congresso de Dor Orofacial da Sociedade Brasileira de Cefaleia foi exatamente um dos que este grupo vem produzindo ao longo do tempo. A pós doutoranda Thaís Cristina Chaves, com supervisão da sempre competente Profa. Dra. Débora Bevilaqua Grossi, mostrou que os pacientes com migrânea que apresentavam alodínia cutânea (marcador importante para a cronificação da dor) apresentavam menor limiar de dor ao frio na face e maior frequencia de DTM do que pacientes com migrânea mas sem alodínea.

Relatou Thaís à reportagem:

“A alodínia pode ser considerada um marcador da cronificação da enxaqueca, e os nossos dados sugerem que a DTM pode desempenhar um papel determinante no aparecimento da alodínia cutânea naface desses pacientes. Portanto, apresentar DTM pode alterar a sensibilidade dolorosa e predispor à alodinia pacientes com enxaqueca”.

Hoje pela manhã vi a reportagem  sobre o trabalho no jornal da USP de Ribeirão Preto e gostaria de compartilhá-lo com todos!

Para ler basta clicar no link http://www.pcarp.usp.br/acsi/edicoes/E995.PDF e ir até a página 05.

Parabéns a todo o grupo! 🙂


Estudando neurofisiologia da dor pelo… you tube?!

Adoro navegar pelo You Tube atrás de vídeos para colocar em aulas. Já comentei sobre isso aqui e também coloquei duas apresentações que achei bem interessantes em outra postagem.

Agora resolvi fazer uma compilação dos vídeos que estou encontrando (eu uso o blog às vezes como caderno de anotações, rs…).

Primeiro anatomia do nervo trigêmeo. Achei este vídeo com uma estudante de odontologia (suponho) de Pernambuco (suponho, sotaque), narrando a trajetória do nervo! Muito bom! Fica a dica aos professores de anatomia! Para que ficarmos passando slides de figuras? Vamos mostrar de uma forma dinâmica!

A única coisa que mudaria no vídeo acima é que citaria um dos ramos como auriculotemporal e não como foi colocado.

Neuroanatomia: macro e micro no vídeo abaixo. É um pouco mais longo…

E o que dizer deste vídeo abaixo sobre anatomia do neurônio? Primeiro, queria uma “lousa” desta, segundo queria desenhar bem como ele (ô inveja!)!  Quem já me viu desenhar um neurônio sabe do que estou falando!

Então, os passos da neurofisiologia da dor: transdução, transmissão, modulação e percepção.

Não encontrei um vídeo que gostasse sobre transdução do sinal.

Mas um sobre inflamação aguda que pode ajudar… Segue abaixo!

Reflexo motor:

Vídeos curtinhos sobre sinapse neural são bem vindos! Abaixo um bem didático.

E os receptores de glutamato no segundo neurônio? AMPA, NMDA…

Recaptação de neurotransmissor:

Sensibilização periférica:

Passo seguinte: modulação do sinal!

Percepção? Pain is in the brain!!

Há muito mais pelo You Tube! Para quem gosta, um prato cheio!

As dicas de como baixar os vídeos estão aqui (veja os comentários).

Bom feriado!