Trabalhar só com DTM e Dor Orofacial, é possível?

No ano passado, mais precisamente no dia 30 de março, o amigo e dentista Ricardo Ferreira de Paula da cidade vizinha a minha, Batatais, me enviou um texto sobre um assunto bem interessante: trabalhar somente com a especialidade de DTM e Dor Orofacial, seria possível?

Este texto foi publicado no antigo blog instinto e por isso resolvi replicá-lo aqui depois que o colega Marcelo Mattos relembrou sua existência no facebook. E passado um ano, não é que o assunto ainda continua atual!

Boa leitura a vocês e bom final de semana! 😉

Primeiramente gostaria de agradecer à Juliana pelo espaço, oportunidade e confiança para escrever em seu dileto blog, certamente o melhor que existe sobre o assunto em português e provavelmente em qualquer outra língua!

Trabalho com DTM e Dor Orofacial desde meados de 2004-2005, ano que em fiz meu primeiro curso na área, uma atualização. Nesse período minha carreira em odontologia se iniciava e eu realmente não tinha noção alguma dos aspectos financeiros que envolvem nossa profissão. Vou tentar relatar aqui o que já tentei fazer para tentar aumentar a margem de contribuição desta especialidade em meu consultório. Mas antes gostaria de deixar claro que não me considero apto a dar nenhuma orientação financeira realmente válida para o tipo de trabalho que a especialidade exige, apenas vou expor um ponto de vista, tudo bem?

História da Odontologia versus DTM e Dor Orofacial

modus operandi da Odontologia válido para praticamente todas as especialidades é: Cliente paga por um serviço que ele vê. Por exemplo: Paciente paga e tem seu tecido cariado removido. Paciente paga e tem seu dente restaurado. Paga e tem a estética do sorriso melhorada. Tem uma prótese nova para mastigar. Tem um dente extraído, um implante implantado, um aparelho colocado, uma gengiva curada… Esse tipo de abordagem educou nossos pacientes a valorizarem apenas aquilo que eles percebem. Assim criamos algumas distorções, como exemplo: Paciente valoriza uma restauração em resina mas não gosta de pagar pelo forramento que vai proteger a polpa. Paga por uma prótese parcial removível mas não pelas restaurações que são feitas para preparar os nichos. Paga pela extração de um dente e acha que remover os pontos não vai custar nada para o dentista. É uma briga velha. Queremos nos valorizar mas somos os primeiros a fomentar a desvalorização.

Isso é especialmente nítido na especialidade DTM e Dor Orofacial. Como valorizar uma consulta inicial que dura às vezes mais de uma hora em que nem sempre se chega a alguma conclusão, em que às vezes precisamos apenas fazer um pedido de imagem, ou em que você apenas informa ao paciente que seu problema é simples e exige uma mudança de postura em relação à vida, ou que precisa fazer apenas alguns exercícios para melhorar…?

Cansei de ouvir Paciente tem que levar alguma coisa pra casa, senão não paga pelo tratamento. E assim acaba-se criando distorções da realidade, como entregar ao menos uma receita ao paciente, fazer placa interoclusal mesmo em casos sem necessidade real, criar planos de tratamentos fixos como se fossem um combo da Net, sociedade com parceiros de trabalho para quem encaminhamos e outras maluquices que ainda estou por conhecer.

A necessidade de cada paciente é individual. A dificuldade em alcançar um objetivo depende de muitos fatores alheios ao profissional e seu conhecimento, como resposta fisiológica e disposição para mudança que o paciente realmente apresenta. Assim fica evidente que tentar padronizar tratamentos é um caminho torto.

Minha forma de trabalho

Ao longo dos anos já tentei cobrar de forma padronizada, algo como DTM Articular: X reais, DTM muscular Y, caso crônico X+Y. Já tentei cobrar caro pela consulta inicial. Já tentei cobrar apenas quando eu pudesse dar alguma solução melhor que um encaminhamento ou um “conviva com o problema”, mas penso que mesmo nesses casos a cobrança é necessária, pois mesmo sem poder fazer algo melhor pelo paciente estou trabalhando, e trabalho deve ser remunerado.

Atualmente eu cobro um valor que acho apropriado para a clientela que atendo, tanto na consulta inicial como nas consultas seguintes. Se precisar de 5 visitas, serão 5x o preço, se for uma consulta só, apenas uma vez. Se precisar fazer alguma outra intervenção como um dispositivo interoclusal, intervenção em algum dente, enfim, outro tipo de coisa, cobro à parte. Trabalhando dessa forma consigo me sentir minimamente valorizado, pois sou remunerado pelo meu trabalho, e me livro de quem quer meu conhecimento sem pagar por isso. Tratamento gratuito é responsabilidade governamental, pagamos imposto pra isso. Minha estrutura custou caro e meu conhecimento custou bem caro também, não é possível trabalhar por caridade sem pedir falência no fim das contas…

Finalizando

DTM e Dor Orofacial é uma área linda, apaixonante. Viver apenas dela, infelizmente, não é possível para mim, não na realidade em que estou inserido. Fico muito satisfeito quando vejo colegas que investem na especialidade e vivem muito bem obrigado. Sei que é possível e, quem sabe algum desses colegas não se dispõe a fazer um texto expondo também o seu ponto de vista, seria enriquecedor.

Agradeço novamente à Juliana, fico à disposição para a discussão, contrapontos, argumentos, conversas, enfim, para qualquer manifestação que queiram fazer. Podem me encontrar nos canais:

Twitter @ricardofpaula

Blog Pessoal: www.ricardodentista.com.br

Forte abraço!

Ricardo Ferreira de Paula .˙.

2 pensamentos sobre “Trabalhar só com DTM e Dor Orofacial, é possível?

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