Nos últimos tempos venho observando o crescente número de pacientes que chegam para atendimento com dores persistentes pós implantodontia.
Era de se esperar uma vez que houve um crescimento substancial no número maior de procedimentos sendo realizados no país (ainda bem!).
Mas porque isso acontece?
Os mecanismos são muito parecidos com os que levam a dor persistente dentoalveolar (antigamente chamada Odontalgia Atípica).
O implantodontista deve estar atento quanto à possibilidade de ocorrer este tipo de dor neuropática pós traumática. Alguns fatores são importantes:
- a dor pode acontecer dias, meses ou anos após a colocação dos implantes dentários
- a característica da dor neuropática é diferente da dor inflamatória pós operatória, ou seja, esteja atento a padrões de dor não típicas. A dor neuropática em qualidade lembra agulhadas, pontadas, ardência e queimação.
- os traumas podem ser diretos ou indiretos aos nervos.
- A não ser em trauma direto do implante sobre o canal alveolar e logo após o procedimento, a remoção do implante e novos procedimentos cirúrgicos e invasivos não são indicados, sob o risco de lesionar ainda mais estas fibras.
Um dos fatores que mais confunde o clínico é a proximidade ao canal do nervo alveolar inferior. Os danos às fibras nervosas podem acontecer mesmo à distância.
(neste momento sinto uma vontade imensa de desenhar para vocês entenderem, mas na ausência deste recurso, tentem imaginar!)
Tentando explicar a grosso modo, o que acontece é que no dano indireto, sangramento, sangramento, pressão , ação de irritantes químicos durante inflamação ou infecção da região peri-implantar, compressão pelo trabeculado ósseo após instalação do implante ou até mesmo durante o processo de osseointegração afetam as fibras nervosas, que podem ser ramificações do tronco principal. No dano direto, agulha durante a anestesia, manipulação do nervo ou mesmo a proximidade do implante ao canal, afetam o nervo.
Daí inicia-se um processo de neurite (inflamação do tecido nervoso) que pode ser reversível ou persistir. É neste estágio que o tratamento precoce pode ser eficaz.
Assim, o professor Gary Heir, da Rutgers School of Dental Medicine – New Jersey, ano passado em palestra realizada na Faculdade de Odontologia de Bauru – USP (FOB-USP), relatou a importância do monitoramento do paciente até 48 horas após o procedimento para verificar se recuperou as sensações na região e se o quadro pós operatório está típico ou se há sintomas do quais possa desconfiar de dor neuropática. Quando o dano for detectado, deve-se examinar, mapear a área atingida, fotografar, e iniciar o uso de antiinflamatórios esteroidais.
Mas se a dor persistir após este período, avaliação com testes quantitativos sensoriais e o tratamento direcionado a dor neuropática, com medicamentos tópicos e sistêmicos, deve ser iniciado.
O profissional especialista em Dor Orofacial deve estar familiarizado e treinado para realizar os testes sensoriais e tratamento direcionado a todos os casos de dores neuropáticas orofaciais, inclusive as pós traumáticas. Nem só de DTM vive a especialidade meu povo (#ficaadica)!
Eu espero que os cursos de Implantodontia passem estas informações a seus alunos.
E não puxando sardinha para nosso lado, mas já o fazendo, fico orgulhosa de fazer parte da equipe da FOB – USP. André Porporatti, que já escreveu aqui sobre acupuntura , é hoje expert nos testes sensoriais. Além dele, meus colegas Carolina Ortigosa Cunha (leiam a experiência dela com pesquisa em animais aqui), Fernanda Araújo Sampaio, Lívia Maria Sales-Pinto Flamengui e Jorge Flamengui estiveram em New Jersey onde passaram por treinamento intensivo em Dor Orofacial com os professores Eli Eliav e Gary Heir, entre outros. Todos nós sob batuta do comandante Prof. Paulo Conti estamos envolvidos no diagnóstico e tratamento destes pacientes.
Querem saber mais? Estes colegas publicaram um artigo bacana (e em português para ninguém reclamar) na revista Dental Press Implantology que está disponível para leitura no link: http://www.dentalpress.com.br/portal/neuropatia-pos-implante/
A equipe do Prof. Siqueira também publicou na revista Dor um artigo onde cita estas condições: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-00132011000200015&script=sci_arttext
Querem saber mais ainda? Venham estudar conosco. Acompanhem os cursos da equipe de Dor Orofacial da FOB-USP sob coordenação do professor Paulo Conti.
Encontre profissionais especialistas em Dor Orofacial em www.sbdof.com
Ola Juliana, sou especilaista em DTM e dor orofacial em Brasilia e tenho acompanhado seus post c enorme prazer! Acho que este ultimo aibre dor neuropatica e implantes deveria ser compartilhado com o maior numero de dentistas possivel. Gostaria entao de saber de posso divulga- lo na integra, citando sua autoria, para amigos e grupos de dentista no facebook?! Obrigada e um grande abraco!
Leticia
Claro Letícia! Fique a vontade!!
Dra Juliana,
Parabéns pelo texto. Gostaria de compartilhar pois sou dentista no RJ e amei.
Abco Rosa Yana.
Fique a vontade Rosa! Abs