Odontalgia não Odontogênica

Quando a dor é no dente e não do dente….

Estava hoje mexendo nos arquivos do meu HD externo e encontrei uma aula que ministrei em 2009 sobre Odontalgia não Odontogênica. Resolvi tirar as fotos e figuras dos casos clínicos (não tenho autorização para divulgar na internet) e compartilhei com vocês através do Slideshare.

Vejam que apesar de não ter as fotos, alguns casos estão descritos e alguns deles estão publicados na literatura, basta procurar!

E quais são as condições associadas às odontalgias?

Não podemos esquecer que para chegar a estes diagnósticos o primeiro é investigar a possibilidade de dor odontogênica.

Boa semana!

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Ano mundial contra a Dor Neuropática

A IASP (International Association for the Study of Pain) iniciou em outubro de 2014 a campanha Ano Mundial contra a Dor Neuropática.

Este é um tema bastante desconhecido ainda da comunidade odontológica. Já escrevi algumas vezes aqui no blog, mas quanto mais informações, melhor!

Vocês podem saber mais consultando o site da IASP, ou da Sociedade Brasileira de Estudo para Dor (SBED), lembrando que o congresso da SBED este ano será em Curitiba em setembro!

Como hoje recebi por email um boletim da IASP com links para publicações abertas sobre o tema, resolvi escrever aqui e compartilhar com vocês! Aproveitem que os capítulos e artigos estão gratuitos e traduzidos para o português! Clique aqui!

Ainda é possível baixar mais nove capítulos referentes ao tema:

E mais artigos:

Vamos ler mais sobre isso! Material é que não falta!!

Falando nisso…

O Grupo de Assistência, Pesquisa e Estudo em Dor Orofacial e Cefaleia (GAPEDOC), que é um projeto de extensão universitária da Faculdade de Odontologia de Araraquara/UNESP, está promovendo reuniões científicas sobre Dor Neuropática neste semestre! Algumas já aconteceram e você pode ter acesso a agenda bem como fazer download do material discutido em reunião pelo site www.gapedoc.net.br

Lembrando que o Bauru Orofacial Pain Group será representado pelo André Porporatti que participará da reunião sobre Odontalgia Atípica no dia 21/05 e por mim (\o/) que estarei na reunião sobre dor neuropática pós traumática. As reuniões acontecem sempre às 13:00 hs e são gratuitas. Confira toda a programação aqui.

Falando mais um pouquinho sobre isso…

Também durante o II Congresso Brasileiro de Dor Orofacial promovido pela SBDOF o tema será abordado, sobretudo o uso dos Testes Quantitativos Sensoriais, palestra que será realizada pelo Prof. Eli Eliav da Rutgers School of Dental Medicine. Não percam. Informações no site www.sbdof.com

II CBDOF.019

Dor persistente pós procedimentos

Já escrevi algumas vezes aqui no blog sobre as dores crônicas persistentes pós procedimentos odontológicos, dores neuropáticas pós traumáticas, como na postagem sobre Odontalgia Atípica (hoje chamada de dor dentoalvelar persistente) e Dor Neuropática Pós Implantodontia.

Recebi hoje pelo email dois links sobre o assunto. Não relatam diretamente procedimentos odontológicos mas são bem interessantes. Ambos os links são reportagens realizadas após uma conferência de anestesiologistas realizada em Cingapura.

O primeiro publicado no jornal The Sidney Morning Herald descreve que pelo menos 20% de todos os australianos submetidos a procedimentos cirúrgicos sofrem com dores persistentes.

O que chamou a minha atenção foi a descrição realizada pelo professor Audun Stubhaug, especialista em dor pela Universidade de Oslo. O mesmo relatou nesta conferência que alguns testes prévios podem indicar aqueles pacientes com maior risco de apresentarem dores crônicas.

São eles: limiar de dor baixo em testes sensoriais, alto ou baixo índice de massa corpórea, fumantes, dor crônica prévia, depressão e ansiedade.

Segundo o professor, estes fatores predizem 80% dos pacientes que por ventura apresentarão dor crônica pós procedimentos.

O professor no segundo link relata também a importância da genética. Talvez no futuro testes rápidos em consultório poderão nos auxiliar na detecção destes pacientes.

Lembrem-se sempre que estes também são fatores de risco para dor neuropática pós traumática, bem como dor intensa pré procedimento, longa duração de dor, presença de fibromialgia, insônia e outros distúrbios do sono.

Seguem os links:

http://www.smh.com.au/national/health/hundreds-of-thousands-suffer-longterm-pain-after-surgery-20140504-zr4f3.html

http://www.heraldsun.com.au/news/victoria/tests-to-identify-future-sufferers-of-chronic-pain-after-operations/story-fni0fit3-1226905944726

Neuropatia pós implantes dentários

Nos últimos tempos venho observando o crescente número de pacientes que chegam para atendimento com dores persistentes pós implantodontia.

Era de se esperar uma vez que houve um crescimento substancial no número maior de procedimentos sendo realizados no país (ainda bem!).

Mas porque isso acontece?

Os mecanismos são muito parecidos com os que levam a dor persistente dentoalveolar (antigamente chamada Odontalgia Atípica).

O implantodontista deve estar atento quanto à possibilidade de ocorrer este tipo de dor neuropática pós traumática. Alguns fatores são importantes:

  • a dor pode acontecer dias, meses ou anos após a colocação dos implantes dentários
  • a característica da dor neuropática é diferente da dor inflamatória pós operatória, ou seja, esteja atento a padrões de dor não típicas. A dor neuropática em qualidade lembra agulhadas, pontadas, ardência e queimação.
  • os traumas podem ser diretos ou indiretos aos nervos.
  • A não ser em trauma direto do implante sobre o canal alveolar e logo após o procedimento, a remoção do implante e novos procedimentos cirúrgicos e invasivos não são indicados, sob o risco de lesionar ainda mais estas fibras.

Um dos fatores que mais confunde o clínico é a proximidade ao canal do nervo alveolar inferior. Os danos às fibras nervosas podem acontecer mesmo à distância.

(neste momento sinto uma vontade imensa de desenhar para vocês entenderem, mas na ausência deste recurso, tentem imaginar!)

Tentando explicar a grosso modo, o que acontece é que no dano indireto, sangramento, sangramento, pressão , ação de irritantes químicos durante inflamação ou infecção da região peri-implantar, compressão pelo trabeculado ósseo após instalação do implante ou até mesmo durante o processo de osseointegração afetam as fibras nervosas, que podem ser ramificações do tronco principal. No dano direto, agulha durante a anestesia, manipulação do nervo ou mesmo a proximidade do implante ao canal, afetam o nervo.

Daí inicia-se um processo de neurite (inflamação do tecido nervoso) que pode ser reversível ou persistir. É neste estágio que o tratamento precoce pode ser eficaz.

Assim, o professor Gary Heir, da Rutgers School of Dental Medicine – New Jersey, ano passado em palestra realizada na Faculdade de Odontologia de Bauru – USP (FOB-USP), relatou a importância do monitoramento do paciente até 48 horas após o procedimento para verificar se recuperou as sensações na região e se o quadro pós operatório está típico ou se há sintomas do quais possa desconfiar de dor neuropática. Quando o dano for detectado, deve-se examinar, mapear a área atingida, fotografar, e iniciar o uso de antiinflamatórios esteroidais.

Mas se a dor persistir após este período, avaliação com testes quantitativos sensoriais e o tratamento direcionado a dor neuropática, com  medicamentos tópicos e sistêmicos, deve ser iniciado.

O profissional especialista em Dor Orofacial deve estar familiarizado e treinado para realizar os testes sensoriais e tratamento direcionado a todos os casos de dores neuropáticas orofaciais, inclusive as pós traumáticas. Nem só de DTM vive a especialidade meu povo (#ficaadica)!

Eu espero que os cursos de Implantodontia passem estas informações a seus alunos. 

E não puxando sardinha para nosso lado, mas já o fazendo, fico orgulhosa de fazer parte da equipe da FOB – USP. André Porporatti, que já escreveu aqui sobre acupuntura , é hoje expert nos testes sensoriais. Além dele, meus colegas Carolina Ortigosa Cunha (leiam a experiência dela com pesquisa em animais aqui), Fernanda Araújo Sampaio, Lívia Maria Sales-Pinto Flamengui e Jorge Flamengui estiveram em New Jersey onde passaram por treinamento intensivo em Dor Orofacial com os professores Eli Eliav e Gary Heir, entre outros. Todos nós sob batuta do comandante Prof. Paulo Conti estamos envolvidos no diagnóstico e tratamento destes pacientes.

Querem saber mais? Estes  colegas publicaram um artigo bacana (e em português para ninguém reclamar) na revista Dental Press Implantology que está disponível para leitura no link: http://www.dentalpress.com.br/portal/neuropatia-pos-implante/

A equipe do Prof. Siqueira também publicou na revista Dor um artigo onde cita estas condições: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-00132011000200015&script=sci_arttext

Querem saber mais ainda? Venham estudar conosco. Acompanhem os cursos da equipe de Dor Orofacial da FOB-USP sob coordenação do professor Paulo Conti.

Encontre profissionais especialistas em Dor Orofacial em www.sbdof.com

Palestra gratuita!

Convido a todos para uma palestra gratuita que irei ministrar na APCD de Franca, SP.

Faz tempo que não falo aqui em Franca e espero que seja um encontro proveitoso para divulgar a dor neuropática orofacial, seus diagnósticos e tratamentos.

Então, marque na agenda:

13 de julho de 2012, sexta feira, das 14 às 18 horas.

DORES NEUROPÁTICAS: QUANDO ESTA É  A CAUSA DA DOR DENTÁRIA
Conteúdo:
– Como avaliar o paciente com dor persistente pós tratamento odontológico (especialmente endodontia e implantodontia)
– Dor neuropática: definição e fisiopatologia
– Casos clínicos e comentários sobre: neuralgia do trigêmeo, odontalgia atípica e neuroma de amputação
A palestra é gratuita mas requer reserva pelo telefone: 016 37240077
A APCD fica na Rua Dr. Julio Cardoso, 2060 no centro de Franca.

Apresentações sobre Dor Orofacial

Encontrei no You Tube hoje um canal da cirurgiã-dentista Michele Jehenson do Bay Area Pain and Wellness Center localizado em Los Gatos, Califórnia, duas ótimas apresentações sobre Dor Orofacial.

A primeira diz respeito a diagnóstico e tratamento de DTM, a segunda sobre mecanismos de dor neuropática orofacial e a terceira sobre odontalgia não odontogênica.

Interessante!

Bom domingo!

Site do Mês

E este foi um mês para mim devagar quase parando… E já chegou ao fim! O tempo passa rápido mesmo!

E como em outubro teremos o V Congresso do Comitê de Dor Orofacial da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe), em Gramado, RS, o site escolhido este mês é o site da SBCe!

O site é direcionado para informar pacientes sobre alguns aspectos associados a cefaleia e algias craniofaciais.

Para os profissionais são disponibilizados vídeo aula, fórum (do qual já falei aqui), livros exclusivos e grande parte do arquivo da revista Migrânea & Cefaleias! Algumas áreas do site são públicas, outras destinadas para os associados (para mais informações, entre em contato pelo email secretaria@sbcefaleia.com).

Inclusive, na área destinada ao comitê de Dor Orofacial há um link para os artigos publicados sobre o tema mais recentemente na revista!

O site é http://www.sbcefaleia.com e o link para todas as informações sobre o congresso de Gramado é http://www.sbcefaleia.com/gramado

Também fiz um post para divulgar o congresso que você pode ler clicando aqui!

Estarei lá falando sobre a relação entre os distúrbios respiratórios do sono e a dor orofacial e também sobre odontalgia atípica! 🙂

Até lá!

Odontalgia Atípica

Ontem falei para profissionais da saúde sobre Odontalgia Atípica (OA) e Síndrome da Ardência Bucal durante o Sábado da Cefaleia, evento promovido pela Sociedade Brasileira de Estudo para Dor (SBED) e Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe).

Então, lembrei que ainda não tinha escrito nada sobre OA aqui no blog! Resolvi fazer um texto curtinho, da mesma forma que foi a palestra, para apresentar esta condição clínica a quem ainda não está familiarizado. Isso é muito importante. Eu acredito que as dores neuropáticas intraorais precisam ser divulgadas para que o diagnóstico seja realizado e ocorra melhora na qualidade de vida dos pacientes.

Odontalgia Atípica (OA) é um —termo aplicado à dor contínua em dente ou região de alvéolo dentário, após exodontia, na ausência de qualquer causa odontogênica identificável e —faz parte de um grupo maior de condições classificadas pela Sociedade Internacional de Cefaleias (2004) como dor facial persistente idiopática.

A —dor é constante, com características de queimação, ardência ou pontadas, presente por mais de 4 meses e inalterada. —Unilateral, não segue distribuição nervosa e é ausente durante o sono, sem caráter paroxísticos. —Estimulação por pressão no local não altera dor, entretanto, há presença de alodínia e hiperalgesia. —Bloqueio anestésico local pode não ser conclusivo ou efetivo.

Em 83 a 93% dos casos a dor iniciou após tratamento odontológico. O grande problema desta condição é a demora no diagnóstico. Geralmente é realizado o tratamento endodôntico. Depois de algum temp0, o dente passa a doer, de forma constante, o que faz com o que o paciente retorne ao dentista. E então, o dentista, mesmo diante de um tratamento endodôntico adequado, tente a realizar um procedimento no intuito de aliviar a dor. Apicectomias e exodontias são os procedimentos de eleição. O que acontece depois? Bem, a dor persiste, agora na região do alvéolo.

E por que isso?

Todo o procedimento invasivo, e isso inclui a maioria dos tratamentos odontológicos, leva a secção de fibras nervosas. No caso do tratamento endodôntico, as fibras são seccionadas ao nível do ápice dental. Ali pode ocorrer três processos. O mais comum é a cicatrização destas fibras, com ausência de dor. Mas dois outros processos, que podem ocorrer simultaneamente ou não, podem levar a dor neuropática.

A liberação por via antidrômica (de dentro para fora) de substância P e outros neuropeptídeos pró dor no local, faz com ocorra a sensibilização das terminações nervosas ali localizadas, aumenta-se os impulsos nervosos ao sistema nervoso central. Se o paciente estiver com a modulação de dor prejudicada, pode ocorrer um processo denominado sensibilização central, que pode manter a dor mesmo se a liberação de neuropeptídeos na periferia cessar. Este quadro recebe o nome de dor por desaferentação.

Ainda, pode ocorrer a formação de neuroma, que foi descrito em outro post aqui no blog.

Assim, sabendo a fisiopatologia, podemos pensar no tratamento. Infelizmente —não há um consenso sobre um protocolo terapêutico mais adequado:

  • OA foi recentemente reconhecida
  • Difícil diagnóstico
  • Ausência de estudos bem elaborados de controle clínico para avaliar a eficácia dos medicamentos

Assim, o que há descrito na literatura é o uso de medicamentos tópicos como capsaícina associada a lidocaína. A aplicação seria realizada com auxílio de moldeiras, seja confeccionadas com resina acrílica ou mesmo acetato. O importante é a vedação, já que capsaícina é uma substância dervivada da pimenta vermelha, e pode não ser muito agradável se tocar na língua! A função da capsaícina seria esgotar as reservas de substância P naquela região (“depletar”).

Mas, agora vou falar por experiência própria, nem sempre isso é suficiente e há necessidade de associar uma medicação via oral para dor neuropática, como antidepressivo tricíclico, gabapentina, pregabalina, etc…

Bem, o recado está dado. Quer ler mais sobre o assunto? Achei um artigo da equipe do Prof. Clark que saiu na JADA, gratuito! Clique aqui ó: http://jada.ada.org/cgi/reprint/140/2/223

Boa semana a todos!