Acho que vou começar a cobrar as pessoas publicamente! Foi só eu citar na última postagem que estava esperando o texto do amigo André Porporatti (já assistiu a aula dele? Não? clique aqui!) que o email veio rapidinho! 🙂
Este é um assunto muito interessante: Medicina Tradicional Chinesa.
Eu confesso que pouco conheço além da acupuntura. Fazendo algumas pesquisas para minha próxima viagem, descobri que na China a fitoterapia é até mais utilizada do que a acupuntura. Bem, o texto abaixo do André é só um aperitivo sobre o assunto.
Quando for permitido, o trabalho completo dele estará disponível no site www.andreporporatti.com
Eu sugiro a leitura abaixo! Grifei umas partes que achei interessante.
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é uma medicina energética e holística, que avalia o paciente como um todo. Ela necessita entender como os objetos de estudo interagem e repercutem no meio ambiente que os envolvem, buscando analisar melhor as consequências geradas no meio. A MTC é baseada em princípios filosóficos que regem todo o padrão de pensamento chinês.
Já a nossa medicina ocidental é muito diferente. É especializada e se utiliza de padrões mecanicistas e cartesianos, onde os fenômenos são observados a partir das partes que o compõem. Ela vem do pensamento de Aristóteles de particionamento, onde é preciso dividir as partes para compreender. A medicina ocidental é orquestrada por princípios de anatomia, bioquímica e fisiologia, e de acordo com essas disciplinas, o mecanismo de ação de qualquer terapia para a dor se transmite através de vias nervosas (fibras, neurônios, principalmente do tipo A delta e C).
Na MTC, temos como base uma estrutura energética para além do corpo físico, onde em nosso corpo a energia circula através de canais específicos, conhecidos como meridianos. A doença na MTC é sempre um desequilíbrio energético sobre os meridianos de órgãos e vísceras do corpo. A concepção filosófica chinesa a respeito do universo está apoiada em três pilares básicos: a teoria do Yang/Yin e do Qi (energia), dos cinco movimentos ou elementos (Fogo, Terra, Metal, Água e Madeira) e dos Zang Fu (órgãos e vísceras).
No oriente, existem várias formas de tratamento baseados na MTC que visam ao equilíbrio energético, as quais se incluem Fitoterapia, Acupuntura, Dietoterapia, Massoterapia (Tuiná), Feng Shui e outras.
A Acupuntura visa ao equilíbrio das enfermidades pela aplicação de estímulos através da pele, com a inserção de agulhas em pontos específicos de determinado canal energético (meridiano). É derivada dos radicais latinos acus e pungere, que significam agulha e puncionar, respectivamente.
Pela utilização sempre da “razão ocidental”, os mecanismos de ação da acupuntura foram explicados através de 3 princípios. O primeiro deles se baseia no efeito placebo da técnica, o que de certa forma é controverso, devido a acupuntura ser utilizada de forma eficaz também em seres não-sugestionáveis como animais e plantas. O segundo princípio se baseia na teoria do portão de controle de Wall e Melzack, já muitas vezes estudado. E por fim, o terceiro preceito envolve a liberação de hormônios e de substâncias neuroquímicas como corticóides, endorfina, serotonina e outros analgésicos naturais.
As intervenções médicas atuais para o manejo das Disfunções Temporomandibulares (DTMs) envolvem terapias com placas miorrelaxantes, medicamentos, fisioterapia, orientações e educação para o auto cuidado e cirurgia. As terapias não-invasivas ou mesmo não-cirúrgicas são as mais prescritas e, segundo a literatura, essas terapias provêm bastante sucesso até o momento.
Pesquisas mostram que 74% dos pacientes com DTM vêm procurando terapias conservadoras mais alternativas e complementares, buscando principalmente terapias manuais, massoterapia, e acupuntura.
A acupuntura tem sua indicação e eficácia no tratamento da DTM, baseado nos mecanismos de redução da dor, propriedades antiinflamatórias e com efeitos neuro-hormonais endócrinos.
Como o assunto da relação dos tratamentos conservadores ou alternativos para a disfunção temporomandibular está em alta nos meios acadêmicos de publicação científica, uma busca precisa na literatura, nacional e internacional, sobre essa relação é fundada e necessária.
A grande problemática nas pesquisas científicas atuais que utilizam a acupuntura como tratamento, fundamenta-se principalmente na “teoria ocidental” de criarmos protocolos terapêuticos para cada caso. Por exemplo, para tratar pacientes com DTM muscular devemos usar tais pontos de acupuntura. Entretanto, como comentado anteriormente, a Acupuntura é uma técnica da MTC que faz um diagnóstico energético e individualiza o tratamento para cada paciente, interrelacionando as consequências para o meio, os fatores emocionais, psicossociais e biológicos.
Nos artigos científicos, além de criarem protocolos terapêuticos, o diagnóstico realizado é sempre ocidental e o tratamento é o mesmo protocolo de acupontos para toda a amostra. Então, antes de analisarmos os artigos que utilizam acupuntura como terapia, devemos ter em mente de que a acupuntura é uma técnica oriental que busca individualizar o tratamento do paciente e busca sempre uma visão mais holística. Obviamente, cada artigo científico necessita padronizar sua metodologia, e a individualização do tratamento muitas vezes é impraticável.
Como trabalho de conclusão do meu curso de especialização em Acupuntura pelo Centro de Estudos de Terapias Naturais (CETN-Bauru) eu busquei conduzir uma revisão crítica da literatura, para verificar os resultados apresentados sobre a relação entre Acupuntura Tradicional Chinesa e Disfunção Temporomandibular do tipo Muscular e avaliar os protocolos terapêuticos e as técnicas de acupuntura para o tratamento da DTM.
Para tanto, foi realizado uma pesquisa em bancos de dados computadorizados, incluindo PubMed, LILACS, Scielo e Cochrane (incluindo o Cochrane Central) para identificar artigos científicos relevantes para o estudo. Os artigos foram selecionados entre os anos de 2000 à Maio de 2013, utilizando as palavras chaves: Disfunção Temporomandibular AND Acupuntura nos idiomas inglês e português.
Estudos randomizados controlados, estudos clínicos de coorte, clinical trials, estudos caso-controle, estudos transversais e relatos de séries de caso, que constassem em sua metodologia aplicação de técnicas diversas de acupuntura, os tipos de pontos e meridianos utilizados foram incluídos neste trabalho. Relatos de caso, revisões sistemáticas da literaturas já realizadas e revisões da literatura foram excluídos.
Ao final da busca sistematizada da literatura, de um total de 125 artigos, 21 artigos foram incluídos e mostraram resultados importantes, onde em sua grande maioria, o tratamento de acupuntura, seja isolado, seja complementar, ou comparado com outras técnicas, se mostrou superior e extremamente eficiente na melhora da dor e da função de pacientes com dor de DTM.
Como resultado alguns pontos de acupuntura foram mais citados como indicativos na melhora da dor em pacientes com DTM, como por exemplo, os pontos IG4 (Intestino Grosso 4), E6 (Estômago 6), E7 e F3 (Fígado 3).
Como conclusão, esta revisão proporcionou dados irrefutáveis de que a Acupuntura é uma técnica da medicina tradicional chinesa indicada e recomendada pela literatura nacional e internacional para o tratamento de desordens dolorosas temporomandibulares, promovendo alivio e/ou redução total da intensidade dolorosa, melhora nos movimentos mandibulares e na função oral e diminuição da atividade muscular dos músculos da mastigação.
Após a aprovação pelo diretoria do CETN, este trabalho de conclusão de curso será publicado. Para maiores informações, acesse e entre em contato: andreporporatti.com
Mais uma vez, obrigada André pela gentileza!
Oi Ju,
Muito legal este post!
Interessantíssima a diferança de visão do Ocidente p o Oriente c relação ao indivíduo. A gente sempre c protocolos até p aplicar o método deles, q trata o indivíduo caso a caso. Se é q me fiz entender.
Bjs.
Excelente postagem. Parabéns Juliana e André pela iniciativa!!
Olá. Meu nome é Luciano, sou dentista e acupunturista. Me deparei com a dificuldade de publicações sobre DTM e acupuntura, mencionada pelo André Porporatti, quando fiz o curso de mestrado.
As abordagens metodológicas ocidentais buscam, de certa forma, “rotular” o paciente com características patológicas semelhantes objetivando amostras homogêneas para que protocolos clínicos sejam testados e padronizados. Tal abordagem científica entra em choque com a individualização do diagnóstico e tratamento, preconizada pela Medicina Tradicional Chinesa. Até porque a evolução do desequilíbrio energético apresentado pelo paciente gera uma sintomatologia diferente e sistêmica, de acordo com o progresso da doença.
Sendo assim, um sintoma tratado isoladamente pela medicina ocidental pode ter outros sintomas sistêmicos associados, que holisticamente representam uma síndrome “oriental”. Um exemplo disso é a manifestação álgica na face (dor orofacial), que pode ter como origem outros sistemas comprometidos, pois na região orofacial transitarem os meridianos energéticos como o do Estômago, Vesícula Biliar, Intestino Grosso, Intestino Delgado, Bexiga e Triplo Aquecedor (dentre outros), que “ligam” os órgãos e vísceras ao exterior, por meio dos pontos de acupuntura. Por isso, o tratamento por acupuntura dificilmente pode ser “protocolado”.
Uma outra possibilidade de tratamento, muito encontrada na literatura, é utilizar pontos indicados para o controle sintomatológico de uma doença ocidental específica e empregá-los em todos os pacientes que apresentam uma manifestação sintomatológica comum. Mesmo havendo uma grande limitação pela não individualização diagnóstica e terapêutica, os estudos demonstram resultados positivos, quando se utiliza a acupuntura (inclusive em ensaios clínicos duplo-cegos controlados por placebo, desmistificando a atuação exclusiva placebo da acupuntura). Ultimamente, podemos também substituir agulhas por laser terapêutico e promover uma grande melhora da sintomatologia de nossos pacientes, além de gerar o controle de aspectos psicossociais desfavoráveis, já que a acupuntura (ou laser-acupuntura) age nos mecanismos autorreguladores promovidos por neurotransmissores, como a serotonina.
Caso alguém tenha interesse em um artigo científico sobre o tema, consulte o link: http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs10103-013-1273-x
Grande abraço e parabéns pela abordagem do tema!
Luciano Ambrosio Ferreira
Obrigada pelos comentários Luciano!
Juliana e André, parabéns pela divulgação da acupuntura, na prática odontológica.
Fatima Ferreira dos Santos
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