Este post foi uma sugestão do colega Maurício Bernardes. Se preparem que é um longoooo post!
Eu cito muitas vezes a Classificação Internacional das Cefaleias (CIC) e como é algo tão familiar para mim, deixo de apresentar ou falar mais sobre isso. Eu sei que muitos não a conhecem ou não estão familiarizados.
Eu acredito que um tipo de classificação assim faz falta para nós que estudamos e trabalhamos com dor orofacial. Os neurologistas tem a vantagem de poder falar a mesma língua, em todo o planeta, quando adotaram a CIC, o que não acontece conosco. Só para DTM, quantas classificações você conhece? Posso citar, Bell, Academia Americana de Dor Orofacial, RDC/TMD…. fora as adotas por cada serviço ou autor. E aí que começa a dificuldade em realizar estudos com amostras homogêneas, trocar experiências sobre tratamentos, etc…
Mas vamos voltar a CIC. O que eu acho mais bacana nesta classificação é que ela não é imutável, pelo contrário, está em constante atualização. Hoje, está na sua segunda edição, publicada em 2004 na revista Cephalalgia. Esta edição já apresenta alguns adendos, publicados em outras edições da mesma revista, que buscam aprimorar os critérios de diagnóstico das condições que cursam com cefaleia.
Um deles foi a modificação dos critérios de diagnóstico para Migrânea Crônica.
A CIC é extensa. Inicia dividindo as condições em três grandes capítulos: cefaleias primárias; secundárias; e neuralgias cranianas, dor facial primária e central e outras cefaleias.
Cefaleia primária é definida como a dor que ocorre na cabeça sem relação temporal com outro transtorno que poderia ser reconhecido como causa de cefaleia. As cefaleias secundárias englobam vários tipos diferentes de cefaleia associadas a uma causa subjacente.
Dentre as cefaleias secundárias está a dor facial por DTM. Mas infelizmente sua descrição na CIC não é adequada.
Pelo que vocês podem perceber, a CIC só descreve a dor facial associada a uma DTM articular. Podemos tecer outras críticas como só poder classificar esta cefaleia se um transtorno da ATM for tratado de forma eficaz. Até então, o paciente teoricamente não receberia este diagnóstico.
Mas, e a DTM muscular. Bem, aí não há um item específico. Em algumas situações, uma dor localizada no temporal oriunda de pontos gatilhos miofasciais , pode ser classificada como cefaleia tipo tensional associada a dolorimento pericraniano, um subtipo de cefaleia primária! A fisiopatologia da cefaleia tipo tensional associada a presença de pontos gatilhos miofasciais tem sido estudada intensamente por um grupo de pesquisadores da Espanha, liderados pelo Prof. Fernando De-Las-Peñas. Ainda, a cefaleia por DTM muscular pode ser classificada no item 11.8 Cefaleia atribuída a outro distúrbio do crânio, pescoço, olhos, ouvidos, nariz, seios da face, dentes, boca ou outras estruturas faciais ou cervicais. Ou seja, nada muito específico.
Ano passado ouvi o Prof. Schiffman, em palestra realizada durante o Congresso do Comitê de Dor Orofacial da SBCe (atenção, informações sobre o congresso deste ano em www.sbcefaleia.com/gramado) que há um grupo já estudando para modificar e aprimorar estes itens da classificação para que seja possível critérios de diagnóstico mais sensíveis e confiáveis para DTM.
Outras condições de dor orofacial estão classificadas na CIC como, por exemplo, as dores dentárias (item 11.6), odontalgia atípica (item 13.18.4), síndrome da ardência bucal (item 13.18.5) e neuralgia do trigêmeo (item 13.1) entre outras.
Quem se interessa no assunto dor orofacial deve conhecer os critérios de diagnóstico da CIC e tê-la sempre por perto para consulta, seja para diagnóstico e tratamento, seja para realizar o diagnóstico diferencial entre as condições clínicas apresentadas pelo paciente e poder referir este paciente ao médico com tranquilidade.
Sugiro que vocês acessem a classificação na íntegra:
- Site ótimo com tudo sobre a CIC: http://ihs-classification.org/en/
- Referência para quem tem acesso a Cephalalgia: 2004;24 Suppl 1:9-160.
- Documento em word no site do Prof. Reynaldo: http://rlmjdtm.ning.com/forum/topics/classificacao-internacional-de
Existem exemplares em português a venda. Veja pelo google!!
Enquanto escrevia este post, me lembrei de casos onde a cefaleia primária muda sua localização habitual e acomete a face ou mesmo dentes. Este diagnóstico é difícil de ser realizado e requer conhecimento destes critérios. Acho que já tenho mais um tema para um próximo post! 🙂
Oi Juliana! Seus textos são muiiiiiiiiiiito bons. Parabéns e obrigado por estar investindo nisto.
RobertoGaranhani
Pingback: Neuralgia do trigêmeo « Por dentro da Dor Orofacial
Pingback: Odontalgia não odontogênica: cefaleia primária « Por dentro da Dor Orofacial