Uma das condições mais complicadas entre as Disfunções Temporomandibulares é o deslocamento do disco sem redução (DDsR). Possivelmente o clínico encontrará nesta situação o paciente com travamento mandibular e limitação severa em abertura bucal, o que interfere na mastigação. Durante o exame detectará presença de deflexão em abertura bucal para o lado afetado e limitação no movimentos para o lado contrário. Em ressonância magnética pode ser encontrado ambos dos dos seguintes: na mordida habitual, a parte posterior do disco articular está localizada anteriormente em uma posição a 11:30 e a zona intermediária do disco está localizada anteriormente a cabeça da mandíbula e; em máxima abertura bucal, esta zona intermediária permanece localizada anteriormente à cabeça da mandíbula.
Bem, definido sobre o que vamos falar, vamos ao assunto do título da postagem. Hoje estava fazendo uma busca sobre as novidades em DTM/DOF nos artigos científicos e vi que a revisão sistemática sobre intervenções para DDsR havia sido atualizada. Publicada por pesquisadores ingleses, a revisão pode ser acessada na íntegra no Journal of Dental Research, um dos jornais mais prestigiados na Odontologia (é gratuito! aproveite!).
Em Odontolgia baseada em Evidências, sabemos que a Revisão Sistemática se encontra no topo dos tipos de estudos quando buscamos evidências para conduta em qualquer condição.
A revisão sistemática é um tipo de estudo secundário (quadro 1.1) que facilita a elaboração de diretrizes clínicas, sendo extremamente útil para os tomadores de decisão na área de saúde, entre os quais estão os médicos e administradores de saúde, tanto do setor público como do privado. Além disso, as revisões sistemáticas também contribuem para o planejamento de pesquisas clínicas.
As revisões sistemáticas reúnem – de forma organizada, grande quantidade de resultados de pesquisas clínicas e auxiliam na explicação de diferenças encontradas entre estudos primários que investigam a mesma questão.
Pois bem, o título do trabalho é TMJ Disc Displacement without Reduction Management: A Systematic Review e os autores buscaram trabalhos com DDsR agudo e crônico para responder a pergunta sobre dois desfechos: melhora na intensidade de dor e em abertura bucal.
Foram 21 estudos selecionados, 1305 pacientes envolvidos e várias intervenções comparadas.
De modo geral, o trabalho mostrou que quando as intervenções foram comparadas entre os grupos, a menos invasiva possível (educação e auto cuidados) produziu resultados semelhantes ao efeito de procedimentos mais “ativos” como uso de dispositivos interoclusais e fisioterapia combinados ou cirurgias da ATM.
Para DDsR agudo, a manipulação mandibular parece ser o procedimento que produz benefício imediato, com aumento da amplitude de abertura bucal. Já escrevi sobre isso aqui e é até hoje uma das postagens mais acessadas.
Todas as intervenções, quando analisadas intragrupo, ou seja, seu efeito sobre o baseline, mostram ser efetivas tanto no alívio da intensidade de dor quanto na movimentação mandibular. Entretanto, os autores mostram que os muitos dos estudos não abordam aspectos que poderiam ser atribuídos a esta melhora como: efeito placebo ou curso natural do DDsR; falha em poder estatístico e; a compreensão do termo minimal clinically important difference (MCID). Esta diferença mínima sugere por exemplo que redução de 1/3 na escala visual analógica de dor (que afere intensidade de dor) seria considerado desfecho positivo. Não há uma padronização entre os estudos.
Ainda, há técnicas que não tem evidência suficiente para serem incluídas neste estudo de metanálise. Uma delas é o uso a injeção das substâncias intra-articulares como ácido hialurônico.
Sugiro fortemente a leitura do texto completo para que todos os aspectos analisados sejam compreendidos! Fiz apenas um (micro) resumo! Clique aqui.
Ao final do texto os autores sugerem para a prática clínica o uso da intervenção mais simples, menos custosa e menos invasiva para o tratamento inicial de DDsR. Das variedades de terapias conservadoras avaliadas a menos invasiva é educação do paciente, auto-cuidados e manipulação mandibular (o quanto antes). Mas as outras terapias não devem ser refutadas, já que as evidências ainda são escassas.
Eu sempre sugiro aos colegas que desde o início concientize seu paciente que os procedimentos iniciarão com os menos invasivos mas dependendo da evolução do caso, todas as técnicas podem ser necessárias. É uma escada, degrau por degrau e com cautela sempre!
Falando em deslocamento….
Encontrei um vídeo ótimo sobre deslocamento da ATM (situação contrária a que descrevemos acima), quando o travamento é aberto. Dêem uma olhada!
E aproveitando o tema vídeo, segue o “clássico” (já perdi as contas de quantas aulas assisti com este vídeo) de DDsR:
Até mais!
São muito interessantes suas postagens, Ju… Nos veremos dia 6/12, no NEO da vila Mariana.
Enviada do iPhone
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Até lá! 🙂
Es ud. Genial!
Esa pedagogía que utiliza al escribir es digna de un maestro, gracias por compartirla.
Nos vemos pronto!
Obrigada! 🙂
Muito legal seu comentário e obrigado por compartilhar um assunto tão relevante. Acredito que as abordagens invasivas tenham sua indicação mas concordo que o tratamento escalonado que prioriza a abordagem conservadora é obrigação de todo profissional.
Valeu João! E fica o convite para que você escreva sobre os métodos cirurgicos aqui, que tal? 🙂