A renovação do conhecimento

Hoje enquanto fazia a sobremesa do almoço de feriado, coloquei no You Tube a palestra divulgada na página da Dental Press como um show. Trata-se da palestra de abertura do 8o. Congresso Internacional da Dental Press, ministrada pelo Prof. Alberto Consolaroque aconteceu ontem!

Literalmente um show! O professor fez uma retrospectiva bacana sobre os mitos que rondam a Ortodontia. Não sou ortodontista e nem este blog é dedicado a esta especialidade, mas o que me chamou a atenção foi constatar entre as cabeças pensantes da saúde um mesmo objetivo: é preciso mudar.

É preciso deixar mitos e dogmas para trás e conhecer o novo, entender o porquê. Puxa vida,  tenham pensamento crítico, mantenham-se atualizados, aprendam a desapegar dos mitos, formulem a sua própria linha de atuação. Como o professor disse nesta palestra, o mito, a crença o dogma são muito atrativos. Acreditar é muito fácil! Falando na área de DTM e Dor Orofacial, como é difícil, mesmo com tantas evidências fortes, fazer com que os colegas se desapeguem de algumas coisas, como, por exemplo, o ajuste oclusal para tratamento de DTM!

A palestra tem duração de quase uma hora, mas vale a pena! Dê um play!

Falando nisso…

Está chegando a hora do II Congresso Brasileiro de Dor Orofacial, promovido pela SBDOF (quem vai? o/) e a palestra de abertura será realizada pelo Prof. Eli Eliav,  da Rutgers School of Dental Medicine nos Estados Unidos. Ano passado fui ao ICOT/AAOP Meeting, realizado em Las Vegas e tive o prazer de assistir a sua palestra, com tema semelhante à descrita acima. Para quem deseja se lembrar, clique aqui e leia a postagem. Prof. Eliav lembrou que é possível sim fazer uso da Odontologia baseada em Evidências na sua rotina clínica.

No II CBDO, além desta palestra, ele também irá falar sobre o uso dos testes sensoriais quantitativos, tema super atual e que nos ajuda na escolha na terapia, especialmente em dores neuropáticas.

Você vai perder? 😉

II CBDOF.004

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Evidências

Entre devaneios e feriado com a família, eu li alguma coisa sobre DTM e Dor Orofacial. Bem, eu passei os olhos mais do que li! rs…

Chamou minha atenção uma discussão que estava acontecendo no fórum do site www.dtmedor.com.br

A discussão era sobre um artigo de revisão de literatura que abordava a relação entre DTM e oclusão. Na verdade nem vou entrar no mérito do tema abordado (vou falar sobre isso no Congresso Internacional do Rio de Janeiro! Aguardem informações!), quero falar sobre leitura crítica. O grande problema deste artigo de revisão é exatamente a metodologia. Para ser mais clara, vire e mexe tentamos enfatizar a importância da Odontologia baseada em Evidências. Mas ainda há pessoas que confundem evidências com artigo publicado. Presenciei isso recentemente em uma palestra que assisti e confesso que fiquei chocada com a desinterpretação do que vem a ser evidência. É o que o amigo Marcelo Ugadin postou nos comentários: odontologia baseada em referência e não evidência!

Fonte: Dicionário Michaelis

Nesta história o que me chamou a atenção foi praticamente o uso de artigos que traziam apenas conclusões ou pensamentos que refletiam a opinião do autor. Este é o grande problema deste tipo de trabalho e que gerou uma carta a revista e a discussão no fórum.

A  preferência sempre deve ser dada a trabalhos que revisem toda a literatura ou pelo menos a literatura recente, mesmo não sendo uma revisão sistemática com análise. Eu dei como exemplo no fórum uma  revisão que publicamos sobre cefaleia e fibromialgia. Ali está claro como fizemos o levantamento dos dados, quais as palavras chave utilizadas e quantos artigos e onde foram encontrados sobre o tema.

É o mínimo…

Os trabalhos de revisão são ótimos para tomarmos conhecimento sobre um determinado assunto mas podem atrapalhar se buscarmos trabalhos que apenas reflitam uma opinião pessoal.

No livro Critical Thinking de Donald M. Brunette há um capítulo em que o autor relata exatamente esta situação. Lá ele coloca o exemplo dos casos clínicos publicados. É claro que a publicação de um caso ou série de casos sobre uma patologia é o primeiro passo para se iniciar os estudos sobre ela, mas as evidências sobre o tratamento aplicado são as de mais baixo nível, exatamente porque reflete a conduta do autor e existe, claro, a tendência de se publicar apenas os casos de sucesso.

Acho importante o exercício do pensamento crítico!

Enfim, ufa, pensamento exposto, recado dado! 🙂

P.S.: algumas pessoas estão me perguntando como acessar a discussão. Entrem no site http://www.dtmedor.com.br e façam seu cadastro para ter acesso (é gratuito). Depois é só clicar em fórum que todas as discussões poderão ser visualizadas.

Pensamento crítico


Estou lendo o livro Critical Thinking: understanding and evaluating dental research do Prof. Dr. Donald Brunette. O livro tem como lema: seja um consumidor sofisticado da literatura odontológica.

Na contracapa há a promessa de  (se você ler claro) desenvolver as habilidades necessárias para reconhecer e selecionar artigos de boa qualdiade, avaliar os desenhos experimentais e a estratégia de pesquisa e detectar erros típicos e abusos da estatística.

Ok, você pode dizer, sou um profissional da saúde clínico, gosto de atendimentos e não de pesquisa, mas hoje em dia, com o número imenso de informações pipocando por aí na internet, o acesso mais fácil aos estudos científicos, o número grande de cursos, é importantíssimo separar o joio do trigo, ou seja, a boa da má informação.

Este livro me faz pensar bastante sobre isso e o quanto é comum me confrontar com situações que o autor classifica como falácias de nenhuma evidência (afirmações) e também falácias de evidências insuficientes ou inapropriadas.

A publicidade usa de artifícios de afirmação o tempo todo, como na propaganda da cerveja X, onde a praia é linda cheia de mulheres. Isso leva os homens bobos a supor que a cerveja seja também excelente.

Na área da saúde não é diferente. Quem nunca presenciou uma técnica sendo repetida como uma afirmação mesmo sem provas, simplesmente porque as pessoas acreditam nela ou particularmente quando o palestrante tem um quê de superioridade? Recentemente, num grande congresso de Dor Orofacial, um professor, quando questionado onde se baseava a sua técnica para tratamento, simplesmente respondeu, nos 1000 casos tratados no meu consultório. Qual a credibilidade disso? Quem me prova que é verdade? Quem acreditou nisso?

Dúvido que você que está lendo o que eu escrevo agora não tenha se deparado com esta situação! Especialmente os dentistas têm uma atração por aparelhos, dispositivos intraorais, (como faço?, onde compro?) mas dificilmente se questionam, se esta técnica ou dispositivo funciona melhor do que  já é utilizado. O método em que a técnica ou dispositivo foi testado é válido? Foi testado??

Existe um fabricante de placas de mordida que sempre me oferece cursos de treinamento (recebo via email). Fui verificar o que esta placa tinha de diferente para eu precisar comprá-la e me submeter a um curso para utilizá-la. Entrei no site e na parte de bibliografia haviam inúmeros artigos, em letras tão pequenas que precisei do zoom. O que estavam lá? Muitas pesquisas sobre o dispositivo? Não. Estavam artigos bem conhecidos sobre DTM e bruxismo, até mesmo uma citação do artigo do Costen!

Me engana que eu gosto?


Aproveitando este texto desabafo, no blog Entendendo a Dor Orofacial do Odonto 1, há um texto excelente sobre Odontologia Baseada em Evidências escrito pelo Prof. Reynaldo Martins Jr. que sugiro que todos leiam! Serve para qualquer especialidade e profissão! Gaste uns minutinhos por lá! Segue o link: http://www.odonto1.com/blogs/julianabarbosa/?p=549

Atualizando: o blog não existe mais… E o livro está esgotado…

Segue um trechinho do texto:

Se o acesso às informações não é mais problema, a dificuldade agora é outra: são muitas as informações disponíveis, e o clínico não parece preparado, na maioria das vezes, para separar a boa da má informação, tendo como conseqüência uma resistência a uma prática baseada em evidências científicas. Nesse contexto, não é incomum ouvirmos frases como “cada um fala uma coisa” e “os pesquisadores (ou professores) não se entendem” , resultando em uma regressão ao modelo anterior, baseado em crenças, tradição e principalmente opiniões de profissionais com os quais o clínico se identifique (através de cursos, artigos do tipo tutorial ou ponto-de-vista, e livros) .

 

Essa situação ocorre basicamente por desconhecimento do que seja Ciência de maneira geral, e Odontologia Baseada em Evidências, de maneira particular, fruto de um sistema educacional que leva a aluno a “aprender” e “reproduzir” sem ser estimulado a pensar, questionar, descobrir por si as respostas. Faremos algumas breves considerações sobre esses pontos.