Tive alguns problemas técnicos no blog e durante estes dias não foi possível postar nada aqui. Peço desculpas mas a culpa é do sistema (lembrei do Capitão Nascimento agora…).
Para compensar esta ausência a minha amiga e colega de doutorado, além de cirurgiã-dentista super competente, Naila Godói Machado, preparou um texto bacana sobre a apresentação que ela realizou no curso de especialização em DTM e Dor Orofacial do IEO-Bauru (curso este que conta com professor Paulo Conti na coordenação).
O tema de sua apresentação foi a transição entre s critérios de diagnóstico para disfunção temporomandibular (DTM), RDC/TMD para o novo DC/TMD, que será publicado muito em breve, no Journal of Orofacial Pain, conforme anunciado no site.
Segue o texto!

Profa. Naila Godói Machado
– Doutoranda em Reabilitação Oral pela FOB-USP
– Mestre em Clínica Odontológica Integrada pela UFU
– Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial pelo ICS – FUNORTE
– Aluna do Curso de Especialização em DTM e Dor Orofacial pelo IEO-Bauru
O Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC/TMD ) é um instrumento de diagnóstico, criado em 1992, baseado em recomendações de especialistas internacionais e informações disponíveis na época. Acredito que a melhor forma para mensurar a importância desta ferramenta na área de dor orofacial, especificamente em Disfunções Temporomandibulares, é tentar imaginar como era o estudo/pesquisa antes da sua criação. Quanta confusão! Termos múltiplos, exames pouco documentados, diagnósticos imprecisos e uma enorme dificuldade de comunicação e avaliação das terapêuticas adotadas. É bem verdade que o RDC/TMD representa um dos avanços mais significativos nos últimos 20 anos por permitir a realização de estudos mais padronizados sejam estudos experimentais, clínicos ou populacionais.
Poucas áreas na pesquisa sobre distúrbios da dor podem reivindicar o nível de comparabilidade entre os estudos que o RDC/TMD permite devido aos critérios que incluem a operacionalização nos procedimentos para a coleta de dados e aos critérios diagnósticos proporcionados. Ressalta-se que todas as especificações são cuidadosamente documentadas e padronizadas, conduzindo a um exame clínico sistemático; outra vantagem seria as definições operacionais baseadas em termos não ambíguos (exemplo: ao invés de relatar que o paciente apresenta limitação de abertura, na avaliação do RDC/TMD essa abertura é quantificada e classificada). Assim, um estudo feito na China poderá ser comparado a um estudo feito no Brasil pela padronização estabelecida, obtendo assim resultados mais próximos da realidade.
Outra grande inovação do RDC/TMD no estudo da dor é ser constituído por dois eixos de abordagem: Eixo I (Aspectos Físicos) e Eixo II (Aspectos Psicossociais). A intenção de localizar a dor e desordem dentro de um espaço de duas dimensões reflete os aspectos físicos (doença); psicossociais e aspectos comportamentais (doença) do indivíduo. Obviamente, existem muitas críticas associadas ao emprego do RDC/TMD e por essa razão este instrumento passa por constantes atualizações no intuito de obter confiabilidade, validade e utilidade clínica. Destaca-se aqui também a grande preocupação do RDC/TMD estar consoante com os princípios de Odontologia Baseada em Evidências Científicas.
Atualmente em linhas gerais as críticas vigentes focam no aprimoramento dos critérios de diagnóstico para o exame físico e diagnóstico, necessidade de ampliar a gama de distúrbios orofaciais representados e avaliar/atualizar os domínios do Eixo II. Outro ponto fundamental deve-se ao fato do RDC/TMD ser um instrumento direcionado para as pesquisas, não sendo viável seu emprego clínico.
Por todas essas críticas, os pesquisadores iniciaram um grande projeto multicêntrico com o apoio de várias associações internacionais, incluindo o National Institute of Dental and Craniofacial Research e várias reuniões foram realizadas nos últimos anos entre os maiores pesquisadores no assunto para realizar a revisão do RDC/TMD e permitir a criação/transição para o novo instrumento: Diagnostic Criteria (DC / TMD). Todos os estudiosos na área estão aguardando ansiosamente o DC/TMD, cuja publicação será na primeira edição do Journal of Orofacial Pain de 2014, conforme divulgação no http://www.RDC/TMD-tmdinternational.org.
Mas afinal quais seriam as principais diferenças entre o RDC/TMD para o DC / TMD? O primeiro ponto a ser abordado, que já foi comentado aqui no Blog com maestria (Essa tal dor familiar…), é o fato de no DC/TMD existir uma preocupação em reproduzir a queixa principal durante o exame físico e a familiaridade da dor. Outro ponto está relacionado à presença de dores durante a função e dores referidas. Em relação aos diagnósticos temos as seguintes classificações: dor miofascial com ou sem limitação de abertura no RDC/TMD e já no DC/TMD os diagnósticos são dor miofascial ou dor miofascial referida. Ainda, os grupos musculares a serem palpados foram reduzidos, excluindo a palpação nos sítios intra-orais.
Mais diferenciações estão listadas na tabela abaixo.
História Clínica | RDC
1992 |
RDC
Revised |
DC |
Dor contínua na face, mandíbula,
ou região temporal no mês passado? |
X | X | X |
Exame confirma a localização da dor | X | X | |
Dor modificada com movimento, função e parafunção | X | ||
Relato da localização da dor do paciente | X | X | X |
Dor muscular à palpação | X | X | X |
Relato do paciente de dor no masseter ou dor no temporal durante abertura mandibular | X | X | |
Relato de «dor familiar» do paciente | X | X | |
Relato de «dor referida» do paciente | X | X | |
Medição do intervalo vertical
de movimento da mandíbula |
X | X |
Tabela 1- Adaptado de: http://www.rdc-tmdinternational.org/Portals/18/Other%20documents/IADR-Barcelona%202010%20Symposium%20-%20DC-TMD.pdf
RDC/TMD (1992) (20 sítios) | DC/TMD (12 sítios) |
– Temporal anterior | – Temporal anterior |
– Temporal médio | – Temporal médio |
– Temporal Posterior | – Temporal Posterior |
– Masseter Origem | – Masseter Origem |
– Masseter Corpo | – Masseter Corpo |
– Masseter Inserção | – Masseter Inserção |
– Região Posterior Mandibular | |
– Região Submandibular | |
– Área do Músculo Pterigoideo Lateral (Sítio Intra-Oral) | |
– Tendão do Músculo Temporal (Sítio Intra Oral) |
Tabela II- Adaptado de: http://www.rdc-tmdinternational.org/Portals/18/Other%20documents/IADR-Barcelona%202010%20Symposium%20-%20DC-TMD.pdf
Querida Naila, obrigada pelo texto! 🙂
Para quem quiser entrar em contato com a Naila, o email dela é naila_godoi@yahoo.com.br e no Facebook.
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