Eu pedi, implorei, ajoelhei, e nada. Mas aí chegou Outubro, mês Rosa, mês de Maria, mês das crianças e achei que não podia passar deste mês. Finalmente, a professora e amiga (além de parceira no estudo do bruxismo) Adriana Lira Ortega arrumou um tempinho e mandou um texto para publicarmos aqui no blog! \o/
O texto chegou no mesmo dia do texto do Jorge von Zuben (por isso demorei a publicar Adriana!) e já estou me sentindo feliz por ter tantos amigos colaborando aqui com o Por Dentro da Dor Orofacial!
Sem mais delongas, segue o texto! Ótimo fim de semana a todos!

Adriana Lira Ortega, Pós doutora em Patologia Bucal e doutora em Ciências Odontológicas pela Faculdade de Odontologia da USP (FOUSP) , mestre em Morfologia pela Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), graduada em Odontologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Especialista em Odontopediatria pela Fundação para o Desenvolvimento Cienífico e Tecnológico da Odontologia (FUNDECTO) da FOUSP e em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais pelo Conselho Regional de Odontologia (CFO). Professora da graduação e pós graduação da Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL).
prof da graduação e pós graduação da universidade cruzeiro do sul unicsul
A criança na intersecção da Odontopediatria com a DTM/DOF
O fato de não haver crianças na rotina do atendimento dos ambulatórios de DTM/DOF não significa que elas estejam imunes à essa condição. Vários trabalhos epidemiológicos que investigaram sinais e sintomas de DTM/DOF em crianças apontam porcentagens que chegam a 35% da amostra avaliada. Então porque esse percentual não é atingido nas procuras em serviços especializados? Um dos prováveis motivos é que os sinais e sinto6mas investigados pelas pesquisas não chegam a afetar a qualidade de vida desses indivíduos e assim não são percebidos pela criança ou por seus cuidadores. No entanto, esse fato não se torna menos importante sabendo que, como em toda doença, pode haver evolução para quadros mais complexos. Desta forma, a percepção precoce de sinais e sintomas com posterior intervenção, pode ser uma forma eficiente de evitar a evolução ou minimizar o acometimento.
A Odontopediatria é a especialidade que prima pela prevenção de doenças ou alterações orofaciais para que a criança cresça livre de qualquer necessidade de tratamento. Sabendo que a oportunidade dos primeiros contatos da criança com o dentista é do Odontopediatra, fica claro que é sua responsabilidade reconhecer precocemente sinais e sintomas de DTM/DOF. Após a identificação desses sinais e sintomas, o paciente deve ser encaminhado para o profissional capacitado nessa área específica para que seja feito o diagnóstico preciso e seguimento do caso. Como não custa reforçar o que já está comprovado pelas evidências científicas, mas ainda permanece como prática no nosso meio, a capacitação em área clínica que vise a harmonia oclusal não habilita o profissional para o manejo de pacientes com DTM/DOF.
Nesse ponto a criança é encaminhada para um cirurgião dentista que normalmente trata de pacientes adultos. Para o profissional acostumado ao atendimento de adultos é importante alertar que o estabelecimento do vínculo com a criança é fundamental para a tomada de história e que nem sempre acontece no primeiro contato. Devemos lembrar que o adulto procura o serviço de saúde e quer ser tratado, enquanto que a criança não procurou e em algumas vezes não quer ou tem medo do que possa ser o tratamento. Além disso, algumas características dessa fase da vida exigem uma abordagem específica e o profissional precisa adequar a sua linguagem para fazer a tomada de história. É aconselhável o emprego rotineiro de recursos anamnéticos, como diário e escalas analógicas visuais infantis de dor, e também que se conheça as diversas etapas do desenvolvimento cognitivo para obtenção do máximo de informações. Lembrando que a catastrofização da dor em criança também existe, já foi bastante estudada e é influenciada pelo comportamento do cuidador.
De maneira geral, os estudos que abordam esse tema (DTM/DOF em crianças) estão mais restritos na área epidemiológica e muitas inferências são feitas a partir de pesquisas com adultos. Dessa forma, os protocolos de tratamento para crianças e adolescentes devem obedecer aos mesmos princípios preconizados atualmente e devem ser conservadores, reversíveis e baseados na melhor evidência científica disponível.
Aliás, é importante saber que o entendimento correto do que é evidência científica é condição fundamental para a prática da Odontologia.
Oi Juliana
Meu nome é Araci, faço parte da equipe do Curso de Ortodontia Preventiva e Interceptiva da Profis. Posso dizer que todos adoramos sua aula, foi muito esclarecedora e correspondeu plenamente às nossas expectativas.
Gostaria de saber por que existe o “conceito” de que “ao final da dentadura mista o bruxismo é fisiológico e que os dentes decíduos precisam ser desgastados.”
Você já leu algo a respeito disso?
Um abraço e obrigada
Araci
Eu já li e já ouvi mas me parece mais um achado. Não há evidências fortes que realmente exista. Veja bem, como eu falei na aula, o bruxismo é mais prevalente nesta faixa etária e pode ser uma coincidência.
Não há nada que prove que o bruxismo seja fisiológico nesta idade.
Abraços