Consenso internacional para definição e graduação do bruxismo

Eu sei que prometi escrever sobre o congresso do IADR e farei em breve! Mas o problema é o de sempre, tempo! Meu dia precisava ter 36 horas!!

Acabei de ministrar uma aula sobre bruxismo para a especialização de Prótese e lembrei que ainda não havia postado aqui sobre o consenso internacional sobre bruxismo.

Em janeiro de 2013 foi publicado no Journal of Oral Rehabilitation um artigo que reuniu pesquisadores do mundo todo para definir e graduar bruxismo.

Eles realizaram uma discussão por escrito entre vários experts em bruxismo para formular uma definição em comum e sugerir um sistema de graduação.

Primeiro a definição (Nota: a tradução é livre):

bruxismo.049

Os autores chamam atenção para dois fatos:

  1. Esta definição precisa ser validada
  2. Esta definição pode ser adotada na clínica ou pesquisa e ainda, estimula-se que comecem a separar as duas condições: bruxismo do sono e bruxismo em vigília.

Como comento em minhas aulas, são duas condições distintas com fisiopatologia e tratamento distintos! Precisa-se de mais pesquisas com bruxismo em vigília e quem sabe este consenso não estimule isso, não é?

Com relação à graduação do bruxismo do sono, ele seria:

bruxismo.050

Esta parte eu gostei. Agora os trabalhos de pesquisa realizados apenas com questionário não devem ter como título, por exemplo, “prevalência de bruxismo do sono em…” e sim “prevalência de possível bruxismo do sono…”. Por que isso é importante? Bem, como foi demonstrado nos últimos trabalhos da professora Karen Raphael da Universidade de Nova York (aliás, adorei as aulas dela no IADR, comentarei depois), a grande maioria dos pacientes que relatam apresentar bruxismo não é detectado no exame de polissonografia. Claro que há limitações do exame, como ser realizado num ambiente estranho e da própria condição já que a ocorrência do bruxismo é flutuante e variável entre as noites, mas este achado se repete em vários estudos.

Com relação à graduação do bruxismo em vigília, os autores relatam que seria necessário um exame de eletromiografia mas que este deveria ser realizado combinado com o que chamaram de metodologia de avaliação momentânea ecológica, que permitiria uma estimativa real da frequência de contatos dentários durante o dia (clique aqui para ver um exemplo desta metodologia). Seria mais ou menos como ter um alarme no celular, que quando tocasse o paciente anotaria se está ou não com os dentes encostados. Poderia ser feito um diário (alô pessoal do Desencoste!). Acho que as metodologias para bruxismo em vigília devem ser aprimoradas.

A colega Adriana Lira Ortega que estuda bruxismo infantil postou um slide semelhante no facebook e relatou o quão difícil é ainda enquadrar a criança nesta graduação, afinal é preciso relato da própria ou dos pais.

Enfim, aqui está o link para o paper: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/joor.12011/abstract

E logo abaixo os autores. Só fera, diga-se de passagem!

Aproveitando esta postagem, entrem no site da SBDOF. Dia 17 de abril vence o prazo para se inscrever com preço menor no I Congresso Brasileiro de Dor Orofacial. O endereço é www.sbdof.com

Abraços!

P.S.: se forem usar as figuras, dêem os créditos a este site! São slides da minha aula! 🙂

F. LOBBEZOO*, J. AHLBERG†, A. G. GLAROS‡, T. KATO§,  K. KOYANO¶, G. J. LAVIGNE**,R. DE LEEUW††, D. MANFREDINI‡‡, P. SVENSSON§§¶¶*** & E. WINOCUR†††

*Department of Oral Kinesiology,Academic Centre for Dentistry Amsterdam (ACTA), MOVE Research Institute Amsterdam, University of Amsterdam and VU University Amsterdam, Amsterdam, The Netherlands, †Institute of Dentistry, University of Helsinki, Helsinki, Finland, ‡Kansas City University of Medicine andBiosciences, Kansas City, MO, USA, §Department of Oral Anatomy and Neurobiology, Osaka University Graduate School of Dentistry, Osaka,Division of Oral Rehabilitation, Faculty of Dental Science, Kyushu University, Fukuoka, Japan, **Centre d’e´tude du sommeil, Faculty of Dental Medicine, Universite´ de Montre´al and Hoˆpital du Sacre´-Coeur, Montreal, PQ, Canada, ††Division of Orofacial Pain, Department of Oral Health Science, University of Kentucky, Lexington, KY, USA, ‡‡TMD Clinic, Department of Maxillofacial Surgery, University of Padova, Padova, Italy, §§MINDLab, Center of Functionally Integrative Neuroscience, Aarhus, ¶¶Clinical Oral Physiology, School of Dentistry, Aarhus University, Aarhus, ***Department of Oral Maxillofacial Surgery, Aarhus University Hospital, Aarhus, Denmark and †††Orofacial Pain & TMD Clinic, Department of Oral Rehabilitation, The Goldschleger School of Dental Medicine, Tel Aviv, Israel

 

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9 pensamentos sobre “Consenso internacional para definição e graduação do bruxismo

  1. Olá Juliana. Respondendo em nome do “pessoal do Desencoste”, na próxima atualização do app, teremos uma ferramenta para avaliar o “encoste” e tbém a dor, se for o caso. Virá em outras línguas e para android tbém.
    Excelente post, como sempre!

  2. Olá, parabéns pelo blog. Há relação entre bruxismo e TPM? Ou devido ao nível de extresse ser maior para algumas mulheres nesse período?
    Obrigada
    Roberta(www.planodesaude.net)

    • Olá Roberta! Eu diria que talvez sim para o bruxismo em vigília mas o mesmo não pode se dizer para o bruxismo do sono.
      Para bruxismo em vigília já há estudos indicando sua associação a problemas emocionais e acredito que o mesmo seja encontrado para o estresse. Em bruxismo do sono, aí já usando a graduação, o possível bruxismo do sono já foi associado a problemas emocionais mas há todo o problema com relação à metodologia dos estudos.

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