Recentemente recebi algumas mensagens perguntando sobre o uso dos alinhadores ortodônticos e se eles aumentariam a frequência de bruxismo.
Observei que ainda na literatura não há estudos sobre estes dispositivos e bruxismo, seja do sono ou da vigília.
Mas pensando sobre isso e conhecendo sobre bruxismo podemos realizar algumas inferências.
- Bruxismo é controlado pelo sistema nervoso central (SNC). Fato. Para o músculo contrair, é de centros superiores que parte o potencial de ação neuronal. No bruxismo do sono existem mecanismos deflagradores já identificados (vide despertares breves e sistema nervoso autonômico) em fases NREM, onde qualquer dispositivo tem um efeito a curto prazo ou aumentando, reduzindo ou mesmo não mudando o numero de eventos durante a noite. Pensando em alinhadores, o professor Daniele Manfredini e colaboradores realizaram uma pesquisa com mantenedores de espaço como placas de acetato e compararam duas noites de sono sem e duas com o mantenedor. Não houve diferença na atividade eletromiográfica em músculos analisados entre as noites. Podemos deduzir que talvez apresente bruxismo do sono quem já apresenta bruxismo do sono. Se o alinhador irá proteger os dentes nestes casos, aí é outro assunto.
- Bruxismo da vigília também é controlado pelo SNC. Nós sabemos que é associado a ansiedade e concentração. Mas seria a presença do alinhador algo para aumentar ou reduzir a frequência deste tipo de bruxismo? Explicar isso em poucas palavras é mais complicado, mas vou tentar. Primeiro porque existem vários tipos de movimentos considerados BV como encostar, encostar com movimentos leves, apertar ou ainda contrair os músculos mesmo sem toque dentário. Qual seria estimulado? Ainda, venho conversando com colegas bastante sobre o perfil do paciente. Parece que não é a mecânica ou o dispositivo e sim como é este paciente. Há algum tempo estamos estudando a vigilância ou melhor, a hipervigilância e como este perfil de comportamento tem relação com o aumento da contração muscular e consequemente bruxismo. (ver postagem realizada aqui no blog!) A presença do alinhador seria um gatilho ao aumento ou mesmo desencadear bruxismo por mecanismos relacionados a vigilância? E se o comando fosse o contrário? Se durante a avaliação isso fosse detectado e trabalhado para o paciente não encostar os dentes ou manter uma melhor postura mandibular (repouso muscular) utilizando o alinhador como “lembrete”? Seria possível? Apenas divagando… É preciso pesquisar mais sobre isso e qual seria o impacto da educação nestes casos. Devemos nos lembrar sempre que o comportamento é algo individual.
- E por fim, a professora Ambra Michelotti chama a nossa atenção a um aspecto pouco explorado, neuroplasticidade relacionada ao estímulo do ligamento periodontal, como no recente trabalho publicado pelo grupo dela. Neste trabalho ficou demostrado que possivelmente indivíduos com hábitos parafuncionais na vigília como o bruxismo, apresentam sensibilidade oclusal maior e eles atribuíram isso a atividade dos mecanorreceptores mais estimulados nestas pessoas com maior atividade parafuncional prévia.
Por fim, creio que é preciso aprimorar o diagnóstico de bruxismo do sono e sobretudo bruxismo na vigília em pacientes que se submeterão a terapias na odontologia. Artigos recentes apontam que cerca de 30% dos jovens apresentem bruxismo na vigília e é exatamente a população alvo do uso de alinhadores.
Para mim cada vez mais fica claro que a falha em identificar não só hábitos mas o perfil do paciente é que faz com que alguns apresentem aumento de frequência de bruxismo, dor na face e até não tolerem o uso dos dispositivos.
Será que educar o paciente antes de iniciar o tratamento, promover controle de parafunções (não só bruxismo) não traria um benefício maior?
Pensando…
Mas, vamos aguardar as pesquisas que sairão do forno em breve para que possamos embasar melhor nossas ideias!
Fontes:
Serra-Negra JM, Dias RB, Rodrigues MJ, Aguiar SO, Auad SM, Pordeus IA, Lombardo L, Manfredini D.
Cranio. 2019 Mar 25:1-6. doi: 10.1080/08869634.2019.1587854.
Zani A, Lobbezoo F, Bracci A, Ahlberg J, Manfredini D.
Front Neurol. 2019 Mar 1;10:169. doi: 10.3389/fneur.2019.00169. eCollection 2019.
Manfredini D, Lombardo L, Vigiani L, Arreghini A, Siciliani G.
Prog Orthod. 2018 Jul 23;19(1):24. doi: 10.1186/s40510-018-0228-y.
Valentino R, Cioffi I, Vollaro S, Cimino R, Baiano R, Michelotti A.
Cranio. 2019 Mar 21:1-7. doi: 10.1080/08869634.2019.1589703.
An interview with Ambrosina Michelotti.
Michelotti A.
Dental Press J Orthod. 2018 Mar-Apr;23(2):22-29. doi: 10.1590/2177-6709.23.2.022-029.int.
Cioffi I, Landino D, Donnarumma V, Castroflorio T, Lobbezoo F, Michelotti A.
Clin Oral Investig. 2017 May;21(4):1139-1148. doi: 10.1007/s00784-016-1870-8.
Michelotti A, Cioffi I, Landino D, Galeone C, Farella M.
J Orofac Pain. 2012 Summer;26(3):168-75.
Occlusal sensitivity in individuals with different frequencies of oral parafunction.
Bucci R, Koutris M, Lobbezoo F, Michelotti A.
J Prosthet Dent. 2019 Mar 15. pii: S0022-3913(18)31001-1. doi: 10.1016/j.prosdent.2018.10.006.
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Falando nisso….
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06/12/2019 – Campinas, SP – Organização Imajon Cursos.
Interessante que se 30% jovens que usam alinhadores tem BV seria importante identifica-los e aproveitar o alinhador, como ajuda cognitiva, para que deixem o hábito. Tipo: se continua com Bruxismo pode prejudicar o resultado do tratamento, não pode apertar o alinhador e etc.