Dia Internacional das Mulheres

Hoje é dia 08 de março de 2019.
Como é Dia da Mulher, a newsletter de jornalismo que assino gratuitamente, canal Meio News, enviou logo cedo alguns dados. Em 2018, foram registrados 4.254 homicídios dolosos de mulheres. O número representa uma queda ligeira de 6,7% em relação ao ano anterior. Mas, destes, 1.135 foram considerados feminicídios — crimes nos quais a vítima morre por ódio motivado pelo gênero. É um aumento relativo aos 1.047 de 2017.
Dados ainda ruins, não.
Na América Latina pelo menos há o que se comemorar um pouco, parece que foi a região que mais avançou em termos de igualdade de gênero no mundo. Mas esta melhora não foi, infelizmente, puxada pelo Brasil. Mesmo assim, a igualdade só seria alcançada na região em 74 anos, mantendo este ritmo de avanços. E dentro de muitos países, a diferença entre os sexos diminui a passos muito lentos. Segundo o site da BBC, na América do Sul, BolíviaArgentina e Colômbia são os mais bem colocados. O Brasil aparece entre os quatro últimos países da região (e em 95º lugar no mundo), acima de Paraguai, Guatemala e Belize. Uma vergonha.
E além da violência, dos abusos morais e sexuais, os problemas são   igualdade de salários, a participação política e econômica das mulheres.
E por falar sobre educação/ciência/universidade que é uma área em que vivi durante os últimos anos, houve um avanço em 10 anos, com maior número de mulheres matriculadas no ensino superior, mas… igualdade não é medida apenas em números. Dados da UNESCO indicam que ainda mulheres chegam menos ao topo da carreira!
Vejam só, para vocês terem uma ideia, dados no CNPQ mostram que nas bolsas com maior financiamento, há apenas 24,6% de mulheres.
A reportagem da BBC aponta mais dados sobre o assunto: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47490977
Pensando na minha especialidade, lembrei que mês passado a Prof. Karina Helga Turcio apresentou seu TCC no curso de Especialização em DTM e Dor Orofacial lá no Bauru Orofacial Pain Group exatamente sobre gênero e dor. Foi uma apresentação brilhante em que ela abordou diferentes aspectos sobre o porquê da dor por DTM e outras condições ser mais prevalente em mulheres, abordando desde aspectos genéticos, hormonais até a respeito de percepção de dor pelo sistema nervoso central. Em breve vou colocar aqui o texto do TCC.
Mas quero destacar um aspecto que falamos pouco, o estresse pós traumático e a relação com DTM. Outro TCC, este já publicado, da turma anterior (da Camila Vaz e publicado pela Profa. Dyna Mara Ferreira e nós como co autores) traz uma revisão importante sobre este assunto e mostrou a complexidade do assunto (para ler a versão em português, segue o link http://www.scielo.br/pdf/brjp/v1n1/pt_1806-0013-brjp-01-01-0055.pdf) mas ainda a maioria dos estudos não trazia informações sobre violência sofrida por mulheres.
Neste mês de março de 2019 foi publicado um artigo que começa a estudar algo que observo na rotina clínica. A maioria dos meus pacientes com dor musculoesquelética, especialmente os casos crônicos de DTM muscular, é mulher. E não é comum o relato de assédio (relacionamentos abusivos, assédio moral no trabalho – inclusive por outras mulheres – violência doméstica, assédio sexual), tristeza por desigualdade, ansiedade por falta de oportunidades. O artigo que li, publicado no Journal of Dentistry por Chandan et al.,  trouxe um pequeno insight sobre o assunto, ainda não se tratando de mercado de trabalho/estudo mas sobre violência doméstica: Intimate partner violence and temporomandibular joint disorder”. 
Este tipo de violência inclui abusos emocionais, físicos e/ou sexuais e negligências e globalmente parece afetar 1 em cada 3 mulheres, o que é uma prevalência muito alta. Assim, os pesquisadores na Grã Bretanha procuraram estudar a relação entre estes abusos e a DTM. O estudo foi simples, com limitações, retrospectivo mas foi o primeiro a indicar que uma associação significativa entre a incidência de DTM e violência contra mulher. O triste é que a principal limitação do trabalho relatada é exatamente a acurácia dos registros de violência, já que em todo mundo parece que relatar ainda é um tabu a ser vencido pelas mulheres. É preciso que o especialista em Dor Orofacial esteja atento a estes fatores mas também é preciso que procuremos por treinamento adequado para abordar estes assuntos, ainda mais no país em que moramos. O link para o artigo está aqui: https://doi.org/10.1016/j.jdent.2019.01.008
Reflita, como podemos mudar toda esta estatística para números ainda mais positivos? Vamos fazer pelo menos a nossa parte, dentro da nossa comunidade!
Devemos encarar o 8 de março como momento de mobilização para a conquista de direitos e para discutir as discriminações e violências morais, físicas e sexuais que ainda em 2019 são sofridas pelas mulheres. Devemos impedir que retrocessos ameacem o que já foi alcançado em diversos países.
“Você precisa fazer aquilo que pensa que não é capaz de fazer.” – Eleanor Rooselvelt
E para inspirar a todos, que tal contar às suas crianças (meninos e meninas) histórias de verdadeiras heroínas? Eu adorei o livro Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes que o pessoal do B9 conseguiu transformar em podcasts estes contos de fada de mulheres extraordinárias! Vale muito a pena ler ou ouvir! 
Você pode ouvir em qualquer aplicativo/site para podcast e no link há vários.
Ou clique abaixo para ter acesso via Spotify:
E vamos lá! Há muito trabalho pela frente!
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