Faz mais de uma semana que tento ler o recém artigo publicado pelos autores Charles Greene e Ales Obrez na revista Triple O:
O assunto deste artigo de revisão é discutido há muitos anos e volta e meia volta a ser discutido: a validade do reposicionamento mandibular como terapia preventiva ou abordagem terapêutica em pacientes com DTM. O artigo é longo e vou tentar abordar em algumas postagens aqui no blog.
Segue o resumo do artigo:
In this paper, the authors review the rationale and history of mandibular repositioning procedures in relation to temporomandibular disorders (TMDs) as these procedures have evolved over time. A large body of clinical research evidence shows that most TMDs can and should be managed with conservative treatment protocols that do not include any mandibular repositioning procedures. Although this provides a strong clinical argument for avoiding such procedures, very few reports have discussed the biologic reasons for either accepting or rejecting them. This scientific information could provide a basis for determining whether mandibular repositioning procedures can be defended as being medically necessary. This position paper introduces the biologic concept of homeostasis as it applies to this topic. The continuing adaptability of teeth, muscles, and temporomandibular joints throughout life is described in terms of homeostasis, which leads to the conclusion that each person’s current temporomandibular joint position is biologically “correct.” Therefore, that position does not need to be changed as part of a TMD treatment protocol. This means that irreversible TMD treatment procedures, such as equilibration, orthodontics, full-mouth reconstruction, and orthognathic surgery, cannot be defended as being medically necessary.
Hoje destaco dois trechos:
O primeiro é do início do texto quando os autores relataram que ao estudar qualquer procedimento deveríamos pensar no que eles chamaram em ingles de “medical necessity” e que tomarei a liberdade de traduzir como necessidade biológica. Este conceito implica que um procedimento clínico deveria ser indicado e realizado pelos seguintes motivos:
- A condição (por exemplo, má posição mandibular) é usualmente reconhecida como um problema de saúde ou doença
- Testes diagnósticos utilizados para examinar quando o paciente tem esta condição são válidos e com sensibilidade e especificidade aceitáveis
- A condição do paciente pode piorar se um procedimento especifico não é realizado
- O procedimento clínico tem especificidade para atender ao problema particular do paciente
- O procedimento é clinicamente eficaz de acordo com os critérios de evidência (isto é, não somente efeito placebo)
- A doença ou condição não poderia ser resolvida realizando um procedimento menos invasivo, o que justifica a procedimento clínico baseado em sua taxa de risco e benefício.
Achei bacana a reflexão sobre estes itens. Acho que podemos usar quando discutirmos as mais variadas técnicas.
O segundo trecho diz respeito à dispositivos interoclusais. Quinta feira estarei em Bauru, no IEO, e neste módulo uma das discussões com o pessoal da especialização será sobre dispositivos interoclusais. Assim destaco agora o trecho em que os autores relatam que na literatura, ao longo dos anos, o relato de melhora de sinais e sintomas de DTM com o uso de aparelhos interoclusais é comum.
Muitos estudos mostram que a placa estabilizadora tradicional pode ser utilizada com sucesso em uma abordagem conservadora e que não envolve reposicionamento mandibular permanente. Interessante que em estudos comparando as placas estabilizadoras a placas reposicionadoras (com a proposta de recapturar um disco deslocado), os resultados são bem favoráveis ao uso das placas estabilizadoras, mesmo que elas não recapturem discos.
Entretanto, os autores destacaram dois cenários clínicos onde alguns pacientes se beneficiariam do uso de aparelhos que poderiam reposicionar provisioriamente a mandíbula para anterior: dor articular aguda e deslocamento do disco com redução e travamento intermitente.
Segundo os autores, na dor aguda (ocasionada por evento intrínseco como abertura bucal prolongada por longas sessões no dentista, incubações ou subluxação da mandíbula) o uso deveria ser junto com uma combinação de terapias (medicamentos, bolsa de gelo, repouso) por 24 horas até que o processo inflamatório se solucionasse, revertendo o aparelho a uma placa lisa estabilizadora para uso noturno somente.
No segundo caso, os pacientes usariam a placa para uso durante o sono, não com o objetivo de recapturar o disco mas para permitir a mudança e remodelação do disco e tecidos retrodiscais, melhorando a dinâmica da ATM e evitando as situações dolorosas.
Os autores destacam que em ambos os casos não há a intenção de provocar uma mudança permanentemente na posição mandibular (para isso orientam o cuidado máximo para evitar o sobre uso do dispositivo) e que o objetivo final deve ser permitir que a ATM retorne à posição original determinada pela máxima oclusão habitual do paciente.
O artigo aborda ainda aspectos interessantes como um trecho dedicado a homeostase do complexo craniofacial, mas sobre isso vou escrever outro dia!
Se puderem, dêem uma olhada nas referências utilizadas por eles! Tentei colocar aqui mas não consegui! 😦
Falando nisso…
Lendo o artigo me lembrei da aula sobre placas oclusais do Prof. Paulo Conti (Dispositivos intraorais e DTM: evidência aplicada a prática clínica) que gosto muito! Este ano ele irá a ministrá em curso durante o Congresso da AILDC que será realizado em Lima no Peru!
Vejam abaixo!
Dra. Juliana,
Há um mês mais ou menos minha mandíbula travou, eu abria a boca apenas 2 dedos, fiquei assim por 2 semanas. Fui ao dentista e ele recomendou o uso da placa! Comecei a usar e voltou ao normal. Mas estava com uma cirurgia de desvio de septo marcada e o dentista recomendou adiar por pelo menos 2 meses para a cicatrizaçao. Gostaria da sua opniao, devo esperar?