A postagem de hoje se iniciou com uma foto que estava em meu celular. Esta foto é de um slide da aula do colega José Luiz Peixoto, em um dia de curso que ministrávamos na APCD.
Este é um assunto para muito tempo: a melhora do paciente. Por que alguns pacientes com dores tão intensas e graves tem uma melhora espetacular, outros não, outros são refratários ao tratamento? Muita coisa está envolvida: genética, emoções, sono, estado físico, etc etc etc. E entre tudo isso, a experiência prévia do paciente.
O artigo citado no slide é Memories of chronic pain and perceptions of relief de Feine, Lavigne, Dao, Morin e Lund publicado na revista Pain em 1998.
Apesar de ter sido publicado há mais de 10 anos, este artigo se mantém atual.
O artigo parte do princípio que os profissionais da saúde geralmente questionam seus pacientes sobre a dor passada, a dor experimentada por eles, bem como usam o relato do paciente como evidência para a eficácia do tratamento. O que os autores planejaram foi estimar a capacidade da lembrança da dor vivida e ainda descrever a relação entre a lembrança da dor e as mudanças na intensidade da dor e melhora do paciente durante o tratamento de pacientes com disfunção temporomandibular muscular crônica.
Os resultados mostraram que o fato do paciente não se lembrar corretamente da experiência de dor vivida tem a frequencia aumentada com o passar do tempo, e é dependente dos níveis de dor antes do tratamento, e da dor no momento do retorno da consulta. O achado geral deste estudo confirmou que a dor crônica é lembrada de forma incorreta e geralmente superestimada pelos pacientes com dor cônica.
É razoável assumir que a percepção do paciente sobre a sua melhora poderia ser influenciada por muitos fatores, como a expectativa do paciente, e é presumível relatar que a melhora reflete a redução na intensidade da dor, o que é totalmente dependente da experiência prévia da dor. O que o estudo mostrou é que parece que apenas parte disso é verdade: a verdadeira mudança da dor não apresentava um efeito significativo na melhora e, ainda, haviam pacientes que relatavam melhora quando a dor se tornava ainda pior. A experiência prévia influenciava a forma com que o paciente relatava a melhora.
Bem, qual a conclusão disso tudo? O relato do paciente não necessariamente reflete a eficácia de uma terapia e é o pior indicador de mudanças da dor crônica. Os autores sugerem, e eu acho importante, que o diagnóstico e tratamento da dor muscular crônica baseiem-se na aferição da dor nos pacientes no momento da consulta (poderia ser através de escalas que verifiquem a intensidade da dor, testes sensoriais, como algometria, ou ainda o próprio exame da função mandibular) ou através de diários de dor. Estas ferramentas trariam dados mais refinados do que o relato verbal da dor passada ou da melhora.
De fato, pensando em tudo isso e estrapolando para a experiência clínica, quantas e quantas vezes não recebemos um paciente que após o tratamento relata pouca melhora mas cuja função está restabelecida? É para pensar…
Agradeço ao Peixoto a autorização para divulgar esta foto do slide!
Para quem se interessar pelo assunto, texto na íntegra: memories of pain.
Abraços a todos e bom domingo.
vou estudar o texto. Obrigado pela dica, Jualiana. Não o conhecia.
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Drª Juliana, adoro o seu blog, pois sempre contém textos interessantes e que me inspiram a continuar estudando e a desenvolver trabalhos acadêmico. Achei esse post muito interessante, bem como o artigo e pretendo me informar mais acerca desse assunto. Parabéns pelo blog e espero que você sempre continue postando e incentivando outros acadêmicos e mesmo os profissionais .a buscarem novos conhecimentos.
Obrigada Letícia! 🙂