Li um texto excelente hoje escrito pelo Prof. Charles Greene na revista American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics. O texto, uma carta direcionada ao editor, foi publicado agora em Janeiro no volume 139 número 1. É uma carta em resposta à um texto publicado pelo Prof. Slavicek, na mesma revista, que discorria sobre a relação Ortodontia X Disfunção Temporomandibular. Neste mesmo volume, saiu também um artigo que objetivou avaliar de que forma a DTM é ensinada em cursos de pós graduação em Ortodontia nos Estados Unidos. Para quem se interessar pelos artigos, aqui está o link da revista: http://www.ajodo.org/
Mas o que me chamou a atenção neste texto foi o trecho em que o Prof. Greene relata o que ele pensa sobre o que o ortodontista deveria saber sobre DTM. No Brasil, creio eu pelas conversas com colegas por aí, com algumas excessões, os cursos de pós graduação não abrem espaço para o debate e reflexões sobre este tema de forma profunda.
O Prof. Greene então relatou que, primeiro, é absolutamente essencial que o ortodontista compreenda os processos de crescimento e desenvolvimento do sistema mastigatório, sendo que a ATM é um dos principais componentes. Ainda, pode-se discutir com a ciência básica qual seria o papel da ATM nesses processos, porque nem todas essas questões foram resolvidos ainda. Segundo, eles devem reconhecer que desarranjos internos da ATM em pacientes em fase de crescimento podem causar ligeira assimetria mandibular, e isso deve ser levado em consideração durante o tratamento, no entanto, não há necessidade de tratar esta condição porque muitas vezes os discos vão se adaptar à suas novas posições. Em terceiro lugar, o ortodontista deve estudar e compreender os efeitos dos aparelhos funcionais sobre a mandíbula em crescimento e evitar a sua utilização em pacientes adultos. Finalmente, eles deveriam tentar terminar o tratamento com a ATM em uma posição retruída, razoável e biologicamente aceitável. Ao contrário do gnatologistas, que falam de posições, como a relação cêntrica em décimos de milímetros, o Prof. Greene acredita que a posições condilar obtida ao final do tratamento ortodôntico será boa o suficiente, exceto quando em posição protuída. Se o dentista que refere pacientes a você referindo procura um razoável grau de precisão neste assunto, o professor sugere que você converse com ele e explique então sobre o funcionamento da ATM e como esta pode se adaptar à finalização de diversas técnicas ortodônticas.
O texto segue com o que diz respeito à DTM em si. Já está claro que o ortodontista deve avaliar seus pacientes antes do tratamento ortodôntico para sinais e sintomas de DTM, mas deve ter um conhecimento dos sintomas triviais e daqueles realmente significativos. Deve-se ter cuidado com aqueles pacientes que tenham um histórico de DTM, pois sabemos que os sintomas são flutuantes e estes têm risco maior de apresentar recorrências durante o tratamento ortodôntico. Se os sintomas aparecerem durante o tratamento, o ortodontista deve estar preparo para reconhecê-los e tratá-los ou encaminhá-los enquanto suspende a terapia ortodôntica ativa momentaneamente. Se isso acontece com frequencia em alguns pacientes, deve-se pensar em alterar o plano de tratamento ou mesmo suspendê-lo.
E o Prof. Charles Greene encerra esta parte do texto com o trecho mais importante na sua e na minha opinião: os ortodontistas devem dizer NÃO aos dentistas e pacientes que procuram a Ortodontia como solução para os problemas relacionados a DTM.
O texto na íntegra está aqui: http://www.ajodo.org/
Entrevista com o Prof. Charles Greene sobre o mesmo assunto: http://www.orthodonticproductsonline.com/issues/articles/2007-03_06.asp
Mais sobre Ortodontia X DTM aqui.
Abraços e boa semana!
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É uma pena que os cursos de ortodontia não enfoquem essa matéria que já é uma especialidade. Tenho dito sempre aos meus colegas: ortodontia não trata DTM. Tenho tratado muitos pacientes encaminhados em sua maioria por dentista, como também por médicos otorrinos e recentemente também por médico neurologista, que até pouco tempo resistiam em aceitar o envolvimento da ATM nas cefaléias.
Juliana
Estou coordenando uma espec. em ortodontia com destaque especial para DTM/DOF na APCD J Paulista. Para meus alunos, sempre conto uma experiencia que vivi na Univ. Michigan em 1997: ao ser perguntado sobre o que ele fazia quando um paciente em tratamento ortodontico queixava-se de dor, Prof. McNamara, para decepção daqueles que esperavam alguma “dica”, respondeu simplesmente: encaminho para o especialista em dor!!! Abs e Feliz 2011!
Acredito que aprender tratamento DTM na especialização de ortodontia, seja algo inviável em funlção do tempo e da quantidade de informações , mas nós poderíamos aprender da importancia de avalair a ATM, e que tratar DTM , não é perfumaria como tenho ouvido dizer de colegas.
Aldo
Olá Dra adorei o texto! Na especialização de Ortodontia nas aulas de DTM sempre ou via o professor Ronaldo Ruella especialista na área dizer: “Vocês são especialistas em transformar uma maloclusão estável numa oclusão instável! Muito cuidado no diagnóstico da doença, histórico médico-odontológico, antes de iniciarem um tratamento ortodôntico.
Olá Koga! Obrigada pelo comentário e pela visita ao blog!!! Abraços
“Os ortodontistas devem dizer NÃO aos dentistas e pacientes que procuram a Ortodontia como solução para os problemas relacionados a DTM”. Legal difundir esse conceito. Os casos podem até existir, porém são raros.
É verdade Vitor. Vou promover esta frase hj! Abraços