Disfunção ou Desordem Temporomandibular?

Confused ManMuitas vezes os colegas questionam qual seria o termo mais correto para nossa especialidade.

Há uma confusão entre os termos Disfunção ou Desordem.

Ao meu ver isso acontecia por uma tradução equivocada realizada para o termo Disorder (em inglês) que passou a ser Desordem (em português), termo espalhado pelo título do livro do Prof. Jeffrey Okeson em sua tradução.

Hoje recebi via email do professor Marcelo Mascarenhas um artigo publicado em 2009, escrito por Joffre Marcondes de Resende sobre linguagem médica.

Ele pesquisou termos como Transtorno, Disfunção, Dessaranjo, Distúrbio, Desordem e Perturbação.

Em suma, os termos Transtorno e Disfunção são mais citados e Desordem apareceu somente associado aos problemas dos sistema estomatognático. O autor concluiu após o levantamento bibliográfico que Desordem não seria um termo adequado.

Pensando além, o autor ainda relata que:

Distúrbio tem um significado mais amplo que Disfunção, já que abrange alterações de natureza estrutural e funcional, ao contrário de Disfunção, que se refere unicamente aos desvios da função de um órgão ou sistema.

Talvez DTM – Disfunção Temporomandibular ficaria mais adequado se fosse Dor e Disfunção Temporomandibular ou Distúrbio Temporomandibular.

E aí? O que acham?

Leiam o texto completo! Para isso, clique aqui!

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Dor crônica: novas diretrizes

Foi publicada no dia 01 de abril (e não é mentira!) no site Medscape a notícia de que a Sociedade Americana de Anestesiologia publicou na revista Anesthesiology uma atualização nas diretrizes para dor crônica.

Acho importante este tipo de consenso que reúne especialistas notórios na área para verificação da melhor evidência para diagnóstico e tratamento de uma patologia. Recomendo a todos que conheçam o projeto Diretrizes, uma iniciativa conjunta entre a Associação Médica Brasileira e o Conselho Federal de Medicina, sobretudo a metodologia adotada por ele.

Mas voltando ao assunto, estas diretrizes foram voltadas aos pacientes com dor crônica não oncológica, neuropática, visceral ou somática. Os autores indicam no texto que o tratamento destes pacientes deve ser multidisciplinar, buscando a melhora da qualidade de vida do doente.

Acho que algumas das colocações presentes nestas diretrizes poderiam ser aplicadas a Dor Orofacial. Os autores relatam as evidências com relação a diversas técnicas abordadas no tratamento da dor crônica como acupuntura, TENS, fisioterapia, toxina butolínica, tratamento farmacológico, etc.

Vou destacar dois trechos. O primeiro:  a definição de dor crônica.

For these Guidelines, chronic pain is defined as pain of any etiology not directly related to neoplastic involvement, associated with a chronic medical condition or extending in duration beyond the expected temporal boundary of tissue injury and normal healing, and adversely affecting the function or well-being of the individual.

O segundo sobre as injeções em pontos gatilhos miofasciais (trigger points):

The literature is insufficient to evaluate the efficacy of trigger point injections (i.e., compared with sham trigger point injection) as a technique for providing pain relief for patients with chronic pain (Category D evidence). Studies with observational findings suggest that trigger point injections may provide relief for patients with myofascial pain for assessment periods ranging from 1 to 4 months (Category B2 evidence).

Consultants, ASA members, and ASRA members agree that trigger point injections should be used for patients with myofascial pain.

Vale a pena a leitura!

Texto completo: http://journals.lww.com/anesthesiology/Fulltext/2010/04000/Practice_Guidelines_for_Chronic_Pain_Management_.13.aspx

Disfunção temporomandibular

Enfim, resolvi escrever sobre o tema com o qual trabalho a mais tempo dentro da especialidade de Dor Orofacial, a Disfunção Temporomandibular (DTM).

Frequentemente escuto e leio profissionais denominando as DTM por Disfunções da Articulação Temporomandibular (ATM) puramente. Entretanto, o termo DTM vai além das patologias envolvendo apenas a ATM. Várias definições surgiram ao longo do tempo para este mesmo problema. Cada autor de livro, cada professor universitário, cada profissional podem utilizar uma definição diferente para o mesmo problema. Assim, por bom senso, acho prudente utilizar sempre a definição referendada pela Associação Americana de Dor Orofacial (AAOP) que instituiu em suas diretrizes a seguinte definição:

Disfunção Temporomandibular (DTM) é um termo coletivo que envolve um número de problemas clínicos que envolvem a ATM e/ou músculos mastigatórios e estruturas associadas.

Então, DTM não é só um problema da ATM e sim algo a mais. Vou além, as DTM mais comuns são as musculares, onde na grande maioria das vezes não há envolvimento articular. É importante conhecer esta definição e a epidemiologia que envolve a DTM. A partir desta definição, então, pode-se classificar as DTM.

Já ouvi por aí que definir e classificar a DTM não é importante. Eu não concordo. E por que é importante então utilizar uma classificação?

Sobretudo para facilitar o diagnóstico e tratamento! Um tratamento para uma condição articular X talvez não seja o mesmo para Y. E se você buscar a melhor evidência para tratamento desta condição, terá que se deparar com estudos que tenham amostras de pacientes com características semelhantes ao paciente que está ali sentando na sua cadeira.

Com relação às classificações, surge um problema. Ainda não há uma classificação universalmente utilizada na clínica. E mais uma vez, cada autor, cada grupo de pesquisa parece utilizar a sua. Existe portanto, muitas vezes, falhas na comunicação entre profissionais. Não é tão difícil isso acontecer. Uma vez eu falava sobre o tratamento para um problema muscular X e um dos alunos não concordou, mas depois verificamos que não estávamos falando a mesma língua!! Ele pensava em uma classificação, eu em outra. Falha minha que devia ter começado já explicando sobre o que estava falando.

Sempre cito o exemplo da cefaleia. Os neurologistas cefaliatras se reuniram e propuseram uma classificação internacional que abrangessem o maior número de condições clínicas que cursam com cefaleia possíveis, que são reconhecidas por evidências científicas. De tempos em tempos é proposta uma renovação desta classificação. Ainda, artigos publicados em periódicos referendados podem modificar esta classificação. Esta classificação é utilizada tanto na pesquisa como na prática clínica.

Infelizmente isso ainda não acontece na DTM. Existem os grupos que utilizam suas próprias classificações, os profissionais, na prática clínica, que utilizam a classificação da AAOP ou a modificada de Bell, largamente difundida pelo prof. Jeffrey Okeson. São classificações bem abrangentes, com critérios de diagnóstico e sugestões de tratamento.

Já na pesquisa, pela aceitação dos periódicos internacionais, hoje para se publicar um trabalho que envolva pacientes com DTM, estes devem ser classificados de acordo com o Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC/TMD). Esta ferramenta facilita a comunicação e o entendimento, uma vez que a amostra de pacientes preenchem os mesmos critérios, ou seja, abre a possibilidade da comparação entre os resultados de tratamentos, por exemplo, realizados em pacientes de diferentes países. No site www.rdc-tmdinternacional.org é possível encontrar a versão validada em português deste exame, bem como assistir aos vídeos sobre como realizá-lo.

Neste ano foram publicados na revista Journal Orofacial Pain uma série de artigos que propõe mudanças importantes no RDC/TMD, inclusive sugerindo que estes critérios sejam utilizados não só na pesquisa como também na clínica, retirando o research da sua denominação (ficaria DC). Imprimi os artigos e vou ler com calma, trazendo em um post (prometo) os algoritmos e as principais mudanças! Aguardem!