Já escrevi aqui que adoro ler artigos sobre bruxismo. Encaro como sessão de recreio frente a tudo que lemos sobre dor.
Hoje estou fazendo uma busca no Pubmed dos artigos que ainda não tenho do Prof. Gilles Lavigne do Canadá. Também já relatei aqui no blog o quanto admiro seus trabalhos.
Bem, encontrei um resumo de um artigo que infelizmente não tenho acesso. O artigo é de revisão e o resumo traz pontos importantes no entendimento desta condição que todos deveriam reconhecer.
Segue abaixo os pontos abordados:
- Bruxismo é um distúrbio do movimento relacionado ao sono, caracterizado por contrações repetidas da musculatura mastigatória.
- Ocasionalmente ocorre em associação a ruídos de ranger de dentes.
- Os sintomas mais comuns são: dor muscular e/ou articular, cefaleia e sensibilidade dentinária devido a fortes contrações musculares.
- É importante distinguir o bruxismo do sono daquele que acontece durante a vigília uma vez que possuem etiologia e fisiopatologia distintas.
- Na ausência de qualquer problema médico, outro distúrbio do sono, uso de drogas ilícitas ou medicação, o bruxismo do sono é considerado primário.
- Idade parece ter papel importante nesta condição uma vez que a condição é relatada em 14% das crianças, 8% entre adultos, mas apenas em 3% das pessoas na terceira idade.
- A patofisiologia do bruxismo ainda não está clara, mas pode estar associado a: alguns distúrbios neurológicos ou psiquiátricos; influências de fatores sensoriais no controle motor; interação de neurotransmissores; e alguns mecanismos associados ao microdespertar.
- O diagnóstico do bruxismo do sono é dado após entrevista com o paciente, exame clínico e registro do sono.
- A estratégia mais apropriada para tratamento de pacientes com bruxismo do sono deve se iniciar com uma reavaliação da queixa principal do paciente como, por exemplo, os ruídos de ranger de dentes ou dor na musculatura pela manhã.
- Um dispositivo intraoral, seja ele maxilar ou mandibular, é o procedimento reconhecido para prevenção dos ruídos de ranger de dentes na ausência de apneia do sono.
- Se algum distúrbio respiratório do sono estiver presente, um dispositivo de avanço mandibular pode ser considerado.
- Em casos moderados, uma abordagem com uso de relaxantes musculares a curto prazo pode ser considerada.
Agora vou deixar aqui meus comentários: primeiro, o texto diz claramente ser relacionado ao bruxismo do sono e devemos, como alerta os autores, distinguir este do bruxismo que ocorre em vigília. Segundo, o registro do sono tem como padrão ouro o uso da polissonografia. Apesar do custo já ser menor, ainda este exame é desconfortável e inacessível a maioria das pessoas, o que faz com que seja pouco realizado no diagnóstico do bruxismo do sono no Brasil. Com o avanço das pesquisas no desenvolvimento de novos dispositivos para este exame (em que o paciente o faça no conforto do seu lar, por exemplo) com confiabilidade, sensibilidade e especificidade adequados, isso possa se tornar mais frequente. Terceiro, já há estudos indicando que o uso de placas oclusais (chame do que quiser, miorrelaxante, Michigan, dispositivo intraoral liso, etc) pode aumentar as crises de apneias obstrutivas do sono, assim, cabe aqui lembrá-los que observar sinais e sintomas de distúrbio respiratório do sono é importante não só para bruxismo como para dor orofacial (clique aqui e leia mais sobre isso). Quarto, quando ele diz relaxante muscular acho que quer relacionar a dor e cansaço muscular pela manhã. Como não li o artigo na íntegra é difícil de saber. Eu recomendaria primeiro exame para diagnóstico desta possível dor muscular e depois orientações básicas de terapia reversível. Pela minha experiência (baixo nível de evidência científica, hein!) e por relatos de caso que já li, a maioria não necessitaria de medicação.
Estes tópicos são um bom guia para quem tem uma apresentação sobre bruxismo para fazer! Para cada slide, um tópico! 😉 #ficaadica!
Boa semana!!