É preciso falar sobre xerostomia e ardência bucal

É inacreditável a quantidade de emails que recebo de pessoas que estão sofrendo de ardência bucal no Brasil, Portugal, Angola e Cabo Verde. E isso tudo porque em 2010 escrevi dois artigos sobre ardência bucal aqui no blog.

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De lá pra cá tenho a sensação de que o desconhecimento ainda paira sobre este assunto.

E pelos emails que recebo, cheguei a conclusão que os colegas dentistas ainda não se habituaram a investigar esta queixa e também, a observar a ocorrência de xerostomia em seus pacientes.

Semana passada estive em Belo Horizonte falando sobre Síndrome da Ardência Bucal. Não é a primeira vez claro que ministro esta aula, mas foi a primeira vez em que dei foque principal não à SAB e sim a Xerostomia (boca seca).

E por que?

Porque é este o problema mais frequente e responsável pela queixa de ardência bucal entre os emails e também pacientes que atendo.

A SAB é rara.

Eu não sei se os alunos curtiram, mas eu achei muito bom falar sobre este assunto e, inclusive, melhorou a minha prática clínica. Estou ainda mais atenta!

Na busca de atualizar os slides encontrei muito material bacana e dentre os artigos que li, quero destacar o consenso da ADA – American Dental Association – sobre o assunto. Bem completo, segui com ele para preparar alguns slides que irei disponibilizar abaixo para vocês. Sugiro a leitura!

A Xerostomia pode ser provocada por diversos fatores como problemas sistêmicos, medicamentos ou radioterapia.

Por que incomoda tanto? Porque reduz a secreção de saliva e sabemos da importância desta na mastigação e deglutição. Além disso a saliva lubrifica os tecidos orais e mantém o pH equilibrado. Um fato importante a ser observado é que a hipossalivação provoca alterações no paladar, assim como as observadas na SAB.

Entre estas causas colocadas, quero destacar a xerostomia por efeito medicamentoso. A grande maioria dos casos se encaixa nesta categoria.

Vários são os medicamentos que podem levar a xerostomia como efeito colateral.

Dentre eles:

  • Anti colinérgicos
  • Anti histamínicos
  • Anti hipertensivos: inibidores da enzima angiotensina, bloqueadores do receptor de angiotensina, alfa e beta bloqueadores adrenérgicos, diuréticos
  • Opióides
  • Antidepressivos, antipsicóticos
  • Relaxantes musculares

Vejam quantos medicamentos que usamos até no tratamento da DTM, não?

É claro que o efeito é diferente de pessoa para pessoa! Nem todos que ingerem estes medicamentos apresentam xerostomia.

Você pode pensar: para tratar basta que troquemos as medicações! Mas isso muitas vezes não é possível!

Super importante: se seu paciente lhe procurar com ardência bucal, gaste um bom tempo o avaliando. Ouça sua história, exame, verifique a quantidade de saliva!

Para triagem ou primeiro contato, quatro perguntas podem ser realizadas ao seu paciente:

  1.  A quantidade de saliva em sua boca parece ser pouca?
  2. Quando você se alimenta a quantidade de saliva parece ser pequena?
  3. Você ingere líquidos para ajudar a engolir alimentos secos?
  4. Você tem dificuldade para engolir?

Acenda a luz amarela se a resposta for sim a qualquer das perguntas acima.

Fique atento aos sinais e sintomas de xerostomia. Veja os slides abaixo! Não se admire se encontrar dentes desgastados…

Na clínica odontológica um exame rápido, indolor e de baixo custo é a  sialometria  que quantifica a saliva em repouso e a saliva estimulada e comprovar que a xerostomia está presente.

Existem vários métodos pelo qual pode ser realizado. Vejam a tabela abaixo.

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Fonte: Sialometria: aspectos de interesse clínico. Rev. Bras. Reumatol. vol.53 no.6 São Paulo Nov./Dec. 2013 http://dx.doi.org/10.1016/j.rbr.2013.03.001

Eu faço o método de drenagem ativa e depois estimulo a produção de saliva através de ácido cítrico. Os dois métodos por 5 minutos. Coleto em um medidor graduado.

Os valores aceitáveis são mínimo de 0.3 a 0.5 ml/min para drenagem ativa e mais do 1 ml/min na estimulada.

É possível trazer conforto ao paciente com ardência bucal por xerostomia através do uso de  informação, medidas preventivas (não esquecer que são pacientes mais susceptíveis a cárie, traumas, periodontopatias, desgaste dentário) e  tratamento paliativo com umidificante oral ou saliva artificial em spray ou gel. Em alguns casos, existem gomas de mascar a base de xilitol que podem ser utilizadas. Outros produtos incluem pastas de dentes, bochechos, etc. É possível encontrar produtos de diversas áreas.

O tratamento medicamentoso é apenas utilizado em casos bem específicos.

E LEMBREM-SE: SOMENTE INICIE UM TRATAMENTO APÓS CONSULTAR UM CIRURGIÃO DENTISTA!

Dentre as especialidades odontológicas, a Estomatologia é a mais indicada. No site da Sociedade Brasileira de Estomatologia é possível verificar um indicador profissional: http://www.estomatologia.com.br/profissionais Entretanto há poucos especialistas no Brasil, o que reforça a importância deste texto.

É isso! 🙂

Slides da aula abaixo:

 

 

 

 

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Rapidinhas: desgaste dentário e SAOS

Tenho dois mantras que recito em toda aula de bruxismo:

1. Bruxismo não é DTM

2. A presença de desgaste dentário não indica que o paciente apresenta bruxismo do sono.

O primeiro mantra é fácil de explicar: simplesmente não são a mesma condição. Ainda, hoje a relação entre bruxismo e DTM é questionada, sobretudo quanto ao tipo de bruxismo e ao tipo de DTM.

O segundo mantra parece irraizado na mente dos cirurgiões dentistas e fazê-los observar além do óbvio é minha missão na aula. Os estudos falham em associar o desgaste dentário ao bruxismo do sono. Para dar um nó na cabeça,  bruxismo do sono primário tem ocorrência flutuante e o desgaste é uma cicatriz, não se sabe, naquele momento, quando aconteceu.

E olhem só que interessante: nas aulas do Dia do Bruxismo, a professora Adriana Lira Ortega comenta sobre a possível associação entre bruxismo do sono com síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS). Como já escrevi aqui no blog, esta associação pode ter várias direções, mas a mais provável seria colocando o bruxismo como mocinho da história, afinal o ato de movimentar a mandíbula pode estar associado a abertura da passagem do ar posterior e ainda salivação. Mas uma teoria pode indicar que isso aumente a ocorrência de desgaste dentário.


Revisando os artigos recentemente publicados sobre bruxismo, encontrei um estudo piloto que teve uma ideia interessante: verificou a associação entre desgaste dentário e SAOS em pacientes diagnosticados com possível bruxismo do sono.

O nome do artigo é  Frequency of Obstructive Sleep Apnea Syndrome in Dental Patients with Tooth Wear e foi publicado em 2015 no Journal of Clinical Sleep Medicine.

Os resultados mostraram que a frequência de SAOS em pacientes com desgaste dentário foi 3 vezes maior do que na população. Ainda, encontraram correlação positiva significativa entre a gravidade do desgaste dentário e a gravidade da SAOS, ou seja, quanto maior o número de eventos de apneia, maior o desgaste dentário encontrado.

Apesar de podermos discutir vários pontos negativos do trabalho como a escolha da amostra, estes resultados mostram algo que sempre pedimos aos colegas clínicos: pensem além do bruxismo! Outros distúrbios do sono podem estar interferindo na qualidade de vida de seu paciente.

Se não estudou ainda sobre SAOS e insônia, etc; corra atrás do prejuízo!

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

Falando nisso….

O Dia do Bruxismo irá acontecer em Porto Alegre e Cuiabá! Fique de olho para não perder sua vaga!

Vagas limitadas!

Saiba mais em www.diadobruxismo.com