Você já percebeu que alguns pacientes enfrentam mais dificuldades que outros antes e depois da cirurgia ortognática? Uma nova pesquisa publicada recentemente na revista científica Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology (Bonotto et al., 2025) nos ajuda a entender melhor o porquê disso acontecer.
No estudo, do qual tive o prazer de participar como colaboradora, a Profa. Danielle Bonotto e colaboradores investigaram pacientes candidatos à cirurgia ortognática com deformidades dentofaciais (DDF). O objetivo era avaliar o risco de desenvolver ou agravar a disfunção temporomandibular (DTM) dolorosa e identificar quais fatores poderiam contribuir para isso.
Dois perfis claramente identificados
Os resultados foram bastante esclarecedores! Conseguiram estratificar os pacientes em dois grupos principais:
- Grupo Vulnerável: São aqueles que apresentam uma maior prevalência de dor muscular na região da ATM, sintomas somáticos expressivos (como fadiga, dores generalizadas sem causa aparente), ansiedade elevada, bruxismo em vigília frequente e qualidade de sono ruim.
- Grupo Adaptativo: São pacientes que possuem poucos sintomas relacionados à DTM e demonstram uma adaptação melhor, enfrentando menos dificuldades no período pré e pós-operatório.

Por que é importante reconhecer esses perfis?
Identificar precocemente pacientes do grupo vulnerável permite que cirurgiões e equipes de saúde ofereçam uma abordagem mais individualizada e preventiva. Isso significa orientar o paciente para um controle melhor da ansiedade, sugerir estratégias comportamentais para redução do bruxismo em vigília e, claro, cuidar da qualidade do sono antes da cirurgia. Essas medidas podem reduzir significativamente as complicações e melhorar a satisfação dos pacientes.
A importância dos fatores psicológicos e comportamentais
Um ponto importante é que fatores anatômicos isolados, como o tipo de perfil facial (Classe I, II ou III), não tiveram associação direta com o risco para DTM dolorosa ou dificuldades pós-operatórias. Isso reforça o entendimento atual de que aspectos psicossociais e comportamentais têm um papel crucial na manifestação e perpetuação das dores orofaciais.
Mulheres precisam de atenção especial
Outro destaque do estudo foi a constatação de que mulheres compõem a maioria do grupo vulnerável, apontando uma suscetibilidade aumentada em relação aos homens para desenvolver dor e ansiedade após a cirurgia ortognática.
Conclusão: abordagem multidisciplinar é fundamental
Este estudo ressalta a importância de uma abordagem multidisciplinar na preparação dos pacientes para a cirurgia ortognática. Profissionais da saúde mental, especialistas em sono e dor orofacial devem trabalhar juntos com os cirurgiões bucomaxilofaciais para garantir o sucesso e a qualidade de vida dos pacientes.
Se você é cirurgião-dentista ou profissional da saúde, esteja atento a esses fatores ao planejar e conduzir tratamentos ortodônticos e cirúrgicos. Avaliar, identificar e intervir precocemente nesses fatores pode transformar o percurso dos seus pacientes!
Até a próxima!!
Referência completa: Bonotto DV, Cavalheiro JS, Firmino RT, Stuginski-Barbosa J, Scariot R, Sebastiani AM. Stratification of orthognathic surgery patients for painful TMD and associated factors. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol. 2025 Mar;139(3):279-288. doi: 10.1016/j.oooo.2024.09.001.
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