O avanço da Inteligência Artificial (IA) tem transformado a área da saúde, oferecendo novas possibilidades para a disseminação do conhecimento e o suporte à prática clínica. No entanto, a crescente popularidade dessas ferramentas levanta um questionamento fundamental: as informações fornecidas por modelos de IA são confiáveis e podem ser utilizadas como referência na Odontologia?
No estudo “A Comparative Analysis of Three Large Language Models on Bruxism Knowledge”, publicado no Journal of Oral Rehabilitation, realizamos uma análise comparativa da precisão, consistência e legibilidade das respostas geradas por três modelos de IA – ChatGPT-3.5, ChatGPT-4 e Gemini – sobre bruxismo. Os resultados apontam que, apesar do potencial dessas ferramentas, há limitações que exigem uma abordagem cautelosa por parte dos profissionais da saúde.
Metodologia do Estudo
Para avaliar a qualidade das respostas dos modelos de IA, seguimos um protocolo rigoroso:
- Identificação das perguntas mais frequentes: Utilizamos a ferramenta Google Trends para mapear os principais temas pesquisados sobre bruxismo.
- Seleção de 30 perguntas-chave: Com base nas tendências identificadas, elaboramos questões relevantes para a prática clínica.
- Testes em três modelos de IA: As perguntas foram enviadas para os modelos ChatGPT-3.5, ChatGPT-4 e Gemini em dois momentos diferentes, para verificar a consistência das respostas.
- Avaliação das respostas: Analisamos a precisão das informações com base em literatura científica e escalas padronizadas de legibilidade.
Principais Resultados
A análise revelou dados preocupantes e importantes reflexões para a odontologia:
✅ Precisão moderada: Nenhum dos modelos atingiu um nível de acerto ideal. As taxas de respostas corretas foram:
- ChatGPT-3.5: 68,3%
- ChatGPT-4: 65%
- Gemini: 55%
✅ Alta consistência: Os três modelos apresentaram acordo substancial nas respostas quando repetidas ao longo do tempo, indicando que suas informações são relativamente estáveis.
✅ Legibilidade variável:
- O modelo Gemini produziu textos mais acessíveis e fáceis de compreender.
- ChatGPT-3.5 e ChatGPT-4 geraram conteúdos mais complexos, exigindo maior nível de interpretação para o leitor.
✅ Limitações conceituais:
- Definições imprecisas sobre bruxismo.
- Inclusão de informações desatualizadas ou incorretas sobre fatores de risco.
- Ausência de aspectos fundamentais para um diagnóstico e manejo clínico adequado.
Esses achados indicam que, embora os modelos de IA possam fornecer respostas coerentes e organizadas, a precisão das informações ainda não é confiável o suficiente para a prática odontológica.
A Inteligência Artificial na Prática Clínica: O Que Isso Significa?
A IA tem se consolidado como uma ferramenta útil na educação em saúde, mas seu uso clínico requer validação profissional. A dependência exclusiva dessas tecnologias pode levar à propagação de desinformação, comprometendo o atendimento ao paciente.
Portanto, os profissionais da odontologia devem:
🔹 Utilizar IA de forma complementar, sempre verificando a confiabilidade das informações.
🔹 Apoiar-se em literatura científica e diretrizes clínicas para embasar diagnósticos e condutas terapêuticas.
🔹 Desenvolver pensamento crítico, avaliando a qualidade e veracidade das respostas geradas por IA.
A tecnologia evolui rapidamente, e o potencial da IA para apoiar a odontologia é inegável. No entanto, o conhecimento baseado em evidências científicas continua sendo o pilar essencial para a prática clínica segura e eficaz.
Conclusão e Leitura Completa do Estudo
O estudo publicado no Journal of Oral Rehabilitation oferece uma análise detalhada das vantagens e limitações dos modelos de IA no contexto do bruxismo. Para uma compreensão mais aprofundada dos resultados e suas implicações, acesse o artigo completo:
🔗 [InCamargo, E.S., Quadras, I.C.C., Garanhani, R.R., de Araujo, C.M. and Stuginski-Barbosa, J. (2025), A Comparative Analysis of Three Large Language Models on Bruxism Knowledge. J Oral Rehabil. https://doi.org/10.1111/joor.13948
A reflexão sobre a incorporação da Inteligência Artificial na odontologia é fundamental para garantir que essas ferramentas sejam utilizadas de maneira responsável e baseada em evidências. O debate sobre esse tema é essencial para o avanço seguro da tecnologia na área da saúde.
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🔹 Profa. Dra. Juliana Stuginski Barbosa
Especialista em DTM e Dor Orofacial
Por dentro da dor orofacial 