Nossa, faz tempo que quero falar sobre um problema que envolva diretamente a ATM! Parece uma coisa mas quem é leitor de muito tempo pode perceber que tenho uma tendência a assuntos relacionados a neurofisiologia da dor, sono, bruxismo e até mais sobre as DTM musculares. Talvez por viés de pesquisa, já que são temas diretamente ligados aos meus trabalhos da faculdade.
Mas é claro que é fundamental ao especialista em DTM e Dor Orofacial conhecer profundamente o que acontece na ATM, especialmente quando ocorre erosões e modificações na estrutura óssea da cabeça da mandíbular (nome para o antigo côndilo).
Uma dica que sempre dou a amigos que querem se atualizar é leia uma (boa) revisão da literatura. Faz tempo que quero falar sobre um artigo que volta e meia passo os olhos. O artigo foi publicado em agosto de 2012 na revista Journal of Oral and Maxillofacial Surgery dos autores Michael Gunson, G. William Arnett e Stephen B. Milam e tem como título Pathophysiology and Pharmacologic Control of Osseous Mandibular Condylar Resorption. Resolvi então citar alguns trechos deste artigo para relembrar o especialista ou aguçar naquele que lê pela primeira vez sobre este assunto, a curiosidade em ler mais.
Acho fundamental, assim como citado pelos autores, que quando lidamos com qualquer condição, devemos conhecer a fisiopatologia da mesma. Assim, a escolha da modalidade terapêutica fica mais clara, fará mais sentido e possivelmente trará mais benefícios ao paciente.
Com relação a reabsorção condilar (RC – favor não confundir neste texto com relação cêntrica ou pior Roberto Carlos) é notório o seu estrago com efeitos como desequilíbrio facial, redução da passagem do ar (olha a SAOS aí gente), mordida aberta, entre tantos. Algumas causas já foram descritas como iniciadoras ou perpetuadoras de um quadro de RC como: artrite reumatóide, trauma, compressão da ATM, desequilíbrio de hormônios femininos, procedimentos odontológicos, bruxismo, outros hábitos orais, etc. Mas também existe um tipo de RC a idiopática no qual os pesquisadores ainda estudam qual seriam os fatores envolvidos na mesma.
Independente da “causa”, os autores relaram que a fisiopatologia é a mesma e envolve basicamente 3 passos:
- Ativação dos osteoblastos por citocinas liberadas por células inflamatórias
- Osteoblastos recrutam osteoclastos
- A atividade dos osteoclastos resultam na secreção de enzimas responsáveis pela degradação da hidroxiapatita e colágeno.
Infelizmente, nem tudo são flores e não é tão simples assim. Para entender todo o processo e em especial, para escolher a terapêutica farmacológica que possa ser empregada, os autores relatam algumas substâncias e processos fundamentais.
- Gênese de radicais livre – liberados especialmente com o aumeto de carga na ATM que iniciam reações oxidativas e danos aos tecidos articulares.
- Citocinas que ativam o processo de catabolismo – destacando-se o TNF-α (fator de necrose tumoral alfa), IL-6 (interleucina 6) e RANKL (ligante do receptor ativador do fator nuclear kappa-beta). Parece grego para quem lê pela primeira vez mas mais abaixo explico melhor o papel do RANKL.
- Metaloproteinase da matriz – endopeptídeos liberados pelos osteoclastos que requerem zinco como co-fator para sua ativação e que são importantes na degradação da ATM.
Deve-se destacar o papel dos fatores de susceptibilidade para RC como genética, estado nutricional (fala-se muito sobre o papel da vitamina D), bruxismo e outros hábitos orais e até compressão iatrogênica ocasionadas por procedimentos odontológicos como placas mal adaptadas, aparelhos orais, cirurgias ortognáticas, etc e, o gênero.
Sim, as mulheres infelizmente, mais uma vez, são mais susceptíveis a RC. E sobre isso os autores explicam o papel do estrógeno nesta cascata de eventos.
Vou tentar sintetizar:
- Na presença de um fator estimulante (citocinas) ocorre uma ligação entre o RANKL e o RANK (este ainda não citado mas que se encontra na superfície de osteoclastos).
- Com esta ligação, há uma diferenciação para osteoclastos maduros, prontos para catabolizar.
- Quem antagoniza esta ligação é uma substância chamada osteoprotegerina (inibidora da RANKL). A redução desta substância não só favorece esta ligação, como também aumenta a produção de IL-6, dentre outros eventos.
- E aí que entra o estrógeno! Este auxilia na produção de osteoprotegerina.
As figuras a seguir são do próprio artigo e acho que ajudam a sedimentar estas ideias. Para ver mais clique aqui. Para ler o artigo na íntegra (eu faria isso), clique aqui. Depois de ler sobre a fisiopatologia, e aí, como tratar? 😉 Deixe seu comentário!
ATENÇAO
O colega José Luiz Peixoto Filho chamou deixou um comentário pertinente no Facebook (já curtiu? http://www.facebook.com/dororofacial):
Link para a pag do Arnett onde ele fala sobre o assunto:http://www.arnettgunson.com/education-materials/tmj/condylar-resorption
PS: é bom lembrar que AINDA não existe unanimidade sobre o tema, e que esse ano será lançada uma edição do Seminars in Orthodontics só sobre esse assunto! Vamos aguardar!
Obrigada pelo link Zé!
Abraços a todos!






4 respostas
Ju, Vou postar algumas imagens de pacientes para vc …..as
reabsoções condilares, as AIJs, e alterações em pacientes jovens
são alarmantes…….talvez seja algo que os especialistas tem que
deixar claro…..estas questões estão relacionadas diretamente as
ATMs…..com “doenças articulares….degenerativas”…..e o mais
importante muitos são assintomáticos para DOR….aí a importância
de observar a clássica tríade……e começarmos a informar aos CDS
da importancia de se avaliar adequadamente os pacientes antes dos
tratamentos……..
Ótimo Stechman! E bem lembrado, existe diferença em reabsorção fisiológica e patológica! Abraços
Juliana, Já teria dado um bom artigo aqui . Tanto para SBRO quanto para a Academia Tiradentes de Odontologia. Parabéns pelo escrito. Abs, Luiz
🙂
Estou me organizando para lhe enviar!
Abraços