Semana passada, na tentativa de organizar o meu armário (eterna tentativa, diga-se), encontrei uma folha de sulfite onde estava impresso um dos primeiros trabalhos que apresentei sobre disfunção temporomandibular e era intitulado “Associação entre hipermobilidade articular generalizada e disfunção craniomandibular”.
Isso foi em 2001, ou seja, lá se vão 10 anos, e eu e minha amiga e fisioterapeuta Edmara Cristina Salomão ganhamos um aparelho TENS com este trabalho! Além disso o publicamos em uma revista que acho que nem existe mais.
Achei interessante a coincidência de encontrar esta folha no aniversário de 10 anos deste evento e resolvi escrever sobre este assunto. O artigo era uma revisão de literatura. Então, para atualizá-lo, entrei no site da Pubmed e coloquei as palavras chave em inglês: temporomandibular e hipermobilidade articular generalizada. Descobri que o estudo não está tão desatualizado assim… Somente 5 artigos sobre o assunto foram publicados em 10 anos, sendo dois revisões de literatura.
Vou colocar abaixo trechos do artigo escrito em 2001!
O termo hipermobilidade articular generalizada (HAG) caracteriza a presença de frouxidão ligamentar generalizada, associada à sintomas músculo-esqueléticos crônicos e recorrentes, em indivíduos sem qualquer outra patologia reumatológica demonstrável. Em geral, os sintomas são autolimitados e discretos, de tal forma que poucas vezes levam ao indivíduo procurar um médico.
O teste de BEIGHTON (tabela) é o mais utilizado pelos pesquisadores pois é de fácil execução e considerado bastante adequado para realização de estudos epidemiológicos. Trata-se do método incluído nos critérios de 1992, selecionados pela Sociedade Britânica de Reumatologia, para o diagnóstico de hipermobilidade articular.
Valores de três ou mais em pacientes com problemas músculos-esqueléticos indicam presença da “Síndrome de Hipermobilidade”, sendo que abaixo de quatro pontos era considerado uma hipermobilidade suave. Na escala de nove pontos, a pontuação de três ou mais pontos foi escolhida arbitrariamente.
Manobras Escores Aposição passiva do polegar à face flexora do antebraço 2* Hiperextensão do cotovelo além de 10º 2* Dorsiflexão passiva da 5ªª articulação metacarpo falegiana (dedo mínimo) além de 90º 2* Hiperextensão dos joelhos além de 10º 2* Flexão anterior do tronco com joelhos retos de forma que as palmas da mão toquem o chão 1
- Atribuir um ponto a cada lado (direito ou esquerdo)
Para o painel nós fizemos uma tabela com os resultados dos estudos.
Vou colocar abaixo as conclusões dos estudos que analisamos e mais os três que não haviam sido publicados na época.
Autores | Ano | Conclusões |
McCarrol et al. | 1987 | Correlação fraca entre HAG e sinais e sintomas de DTM. |
Plunket; West | 1988 | Observaram que os pacientes com HAG apresentavam sempre os valores mais altos para todos os movimentos mandibulares para ambos os gêneros. |
Buckingham et al. | 1991 | Demonstraram que indivíduos com HAG apresentavam anormalidades na posição do disco articular e excessiva abertura bucal. |
Adair, Hecht | 1993 | Crianças com HAG poderiam apresentar maior número de sinais e sintomas de DTM. |
Khan; Pedlar | 1996 | No grupo com sinais e sintomas de DTM, houve maior presença de HAG. |
Perrini et al. | 1997 | No grupo sintomático para DTM a presença de HAG foi maior do que no grupo assintomático. |
Checa et al. | 1997 | Analisaram a amplitude do movimento de Benett e concluiram que os pacientes com HAG apresentavam maior amplitude de movimento. |
Winocur et al. | 2000 | Correlação positiva mas fraca entre máxima abertura bucal e presença de HAG em indivíduos assintomáticos para DTM. |
Conti et al. | 2000 | A mobilidade da ATM não foi influenciada pela presença de HAG. |
De Coster et al. | 2005 | Relação positiva entre HAG e DTM, principalmente presença de hipermobilidade da ATM. |
Hirsch et al. | 2008 | Associação entre HAG e click recíproco na ATM ou abertura bucal limitada, mas nenhuma associação com artralgia ou mialgia. |
Sáez-Yuguero et al. | 2009 | Estudo com imagem de ressonância magnética. Não encontraram associação entre deslocamento do disco da ATM e HAG. |
Segue abaixo a conclusão que escrevemos na época:
Os resultados dos estudos sobre a relação entre DTM e HGA são conflitantes. Alguns aceitam esta correlação, outros não conseguem demonstrá-la. Entretanto, devemos observar que os estudos diferem quanto à metodologia. Assim, o recrutamento das pessoas, os critérios de inclusão e de exclusão, o número de pessoas em cada grupo de estudo, a classificação para diagnóstico da DTM e o tipo de teste para identificação da hipermobilidade podem estar contribuindo para resultados conflitantes.
Ainda atual, não? Estou aqui rindo das modelos do painel: minha irmã e minha ex secretária (e hoje competente assistente social) Michele! Obrigada meninas!!! E o fundo tosco? A porta do consultório! rs… Aiaiai, acho que evolui.